Viagem de Lula à China deve ampliar parceria de US$ 150 bilhões em trocas comerciais
Para além das relações políticas, a viagem deve marcar um novo momento nas relações comerciais entre os países, segundo especialistas consultados pela CNN
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca para a China nesta terça-feira (11), após um quadro de pneumonia leve adiar a viagem ao gigante asiático em pouco mais de duas semanas.
O principal compromisso de Lula será o encontro com o presidente chinês Xi Jinping. Para além das relações políticas, a viagem deve marcar um novo momento nas relações comerciais entre os países, sendo uma oportunidade para expandir parceria no agronegócio e fomentar investimentos em infraestrutura no Brasil, segundo especialistas consultados pela CNN.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. No ano passado, relação comercial entre os países movimentou US$ 150,4 bilhões, sendo US$ 89,7 bilhões em produtos brasileiros enviados ao país asiático, principalmente soja e minérios, e US$ 60,7 bilhões em itens enviados ao mercado nacional.
“Temos a oportunidade de trazer a China para um status de parceiro, onde podemos ter mais do que apenas a venda de soja e carne. Mas também pensar em outros produtos agrícolas, como cortes mais sofisticados de carne, um mercado que temos mais entrada na Europa. E oportunidade para diversificar a pauta de importações da China, pois temos uma relação de certa forma neocolonial. Exportamos matéria-prima e importamos bens industrializados”, diz Vinícius Vieira, professor de relações internacionais da Faap.
Os principais produtos que o Brasil exportou para a China em 2022:
Os principais produtos que o Brasil importou da China em 2022:
Novas trocas
Segundo o pesquisador Célio Hiratuka, do Instituto de Economia da Unicamp e coordenador do Grupo de Estudos Brasil China, a industrialização da China intensificou relações comerciais com Brasil.
E, apesar de o principal aspecto da viagem ser a questão comercial, para reforçar laços, Hiratuka acredita que a expectativa é que essa relação avance além disso.
O especialista contextualiza que a relação entre os países se intensificaram desde o período de crescimento da China, que vem determinando o chamado “ciclo de commodities” desde o começo dos anos 2000.
“Isso está muito relacionado ao processo de industrialização e urbanização pelo qual a China passou, em que ela trouxe uma população rural enorme para a área urbana. Isso requer muita energia e infraestrutura, o que explica porque a China demanda todo tipo de matéria-prima relacionada a isso. Por isso, o Brasil exporta muito minério de ferro e petróleo, por exemplo, mas também soja, como parte da alimentação”.
Do ponto de vista do desenvolvimento econômico brasileiro, o pesquisador diz que é importante que as exportações se diversifiquem, até porque a China, ainda que seja um país rico, é uma economia em desenvolvimento.
“Seria importante que os chineses entrassem com investimentos no Brasil, e menos com aquisição de empresas brasileiras, como de tecidos. O ideal seria uma entrada de capital mais robusta para gerar mais tecnologia, emprego, qualidade, investir na sofisticação dos nossos produtos”, destaca Hiratuka.
Segundo ele, o ideal seria esperar parceria chinesa em setores como mobilidade elétrica, transição energética, ciência e pesquisa. “A própria Coronavac é um bom exemplo de como esse intercâmbio funciona bem e pode funcionar melhor e com mais frequência”.
Atualmente, Hiratuka explicou que o Brasil exporta muito minério de ferro, petróleo e soja. Nas importações brasileiras, acontece o contrário: são produtos industrializados que vão desde vestuário e calçados a tecnologia de informação, maquinário industrial.
“Existe uma assimetria nos fluxos de comércio, embora o Brasil seja superavitário. Nosso perfil de exportação é muito concentrado em poucos produtos primários, e o de importação é muito diversificado, num conjunto muito grande de produtos industriais.”
O pesquisador aponta que tem um conjunto de fatores que explica essa falta de competitividade brasileira em produtos manufaturados, principalmente os mais intensivos em tecnologia.
De acordo com ele, o primeiro é a taxa de juros, que, por mais que tenha passado por um período de baixa, a média dos últimos 20, 30 anos mostra um nível bastante elevado que dificulta a realização de investimentos, principalmente os mais arriscados, em produtos mais intensivos em conhecimento.
Outro fator também é a taxa de câmbio. Numa economia dolarizada, e com o dólar alto, os investimentos nessa área são reduzidos devido ao custo de produção.
“São esses os fatores macroeconômicos, temos também os estruturais, relacionados à deficiência de infraestrutura, que dificulta a produção competitiva, uma estrutura tributária muito complexa, que tem maior ou menor incentivo dependendo do governo, o que não cria uma sustentabilidade numa política que só dá resultado no longo prazo”, detalha.
Hiratuka destaca ainda que a China tem uma população muito grande e uma área também bem significativa, mas tem partes com pouca disponibilidade de recursos naturais, partes desertas, escassez de água.
“Geograficamente falando, falta recurso para quantidade de pessoas que o país tem, o que cria uma preocupação constante com segurança energética e alimentar. Mesmo produzindo petróleo e minério de ferro, eles não dão conta da demanda interna, até porque alguns desses insumos são fundamentais também para o desenvolvimento da indústria deles”, ressalta.