O que é a taxa Selic e como ela influencia na economia?
A taxa Selic tem um impacto direto na economia do país e na vida das pessoas; entenda o que é e como ela funciona
Conhecida como taxa básica de juros da economia, a Selic causa impacto direto na economia do país e na vida das pessoas.
Ela influencia, por exemplo, as finanças de uma família, pois impacta os juros pagos quando se faz um financiamento ou um empréstimo.
Ao mesmo tempo, ela também é capaz de mexer com o rendimento de quem tem dinheiro investido, seja na poupança, em títulos públicos ou em outras aplicações.
Para tornar esse tema mais fácil de entender, a CNN preparou um guia sobre o tema. Saiba o que é a taxa Selic, para que serve, quem é responsável por alterá-la e como ela interfere no dia a dia.
O que é a taxa Selic?
A Selic, sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, é uma taxa básica de juros usada pelo Banco Central para influenciar as outras taxas de juros do país, praticadas por bancos e demais instituições do sistema financeiro.
Ela existe para definir, por exemplo, quanto o consumidor pagará por um empréstimo ou, ainda, o valor que um investidor vai receber por algum título que adquiriu.
Mas antes de ser uma taxa, a Selic é um sistema que foi criado pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto) (atual Anbima) e pelo Banco Central, em 1979, para disciplinar e agilizar a compra e venda de títulos públicos.
A taxa Selic refere-se à média das operações feitas nesse sistema. Essas operações são realizadas apenas entre os bancos.
São empréstimos de curtíssimo prazo, que vencem em apenas um dia e servem para que os bancos cumpram a exigência de deixarem um depósito de segurança em uma conta do Banco Central para evitar problemas sistêmicos.
No dia seguinte, o banco devedor paga o banco credor e tudo segue normalmente, até o fim do expediente, quando novos empréstimos são feitos para serem pagos no dia subsequente.
Por conta da eficiência que o sistema Selic garantiu ao Banco Central no controle sobre as reservas bancárias, a taxa foi adotada, em março de 1999, como a única para indicar os juros do país. Antes, o Banco Central usava o sistema de banda de juros, que foi extinto.
Mas é preciso destacar que existem dois tipos de Selic. A que está no noticiário com frequência é a Selic Meta. Existe ainda a Selic Over – essa é pouco comentada, porém, é ela que funciona no mundo real.
Para que serve a taxa Selic?
A Selic, a taxa básica de juros da economia nacional, serve como parâmetro para outras taxas praticadas no mercado.
Ela existe para definir, por exemplo, quanto o consumidor pagará por um empréstimo ou, ainda, o valor que um investidor vai receber por algum título que adquiriu.
Ela influencia todas as taxas de juros do país, como as taxas de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras.
Além de ser a menor taxa na economia, é importante por diversos fatores. Um deles é que, quando ela aumenta, ela ajuda a desacelerar a economia e controlar a inflação.
Inclusive, é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo BC para controlá-la.
No movimento contrário, quando a Selic baixa, ela acaba provocando um aquecimento na economia ao estimular o consumo.
Selic Meta x Selic Over: quais são as diferenças?
A Selic Meta é a taxa de juros estabelecida como referência para a economia, enquanto a Selic Over é a taxa média diária de juros efetivamente praticada entre os bancos no mercado interbancário.
Como dito, a Meta é aquela que influencia as demais taxas de juros praticadas no mercado financeiro e tem grande impacto em diversos aspectos da economia, como investimentos, empréstimos, financiamentos, poupança e rendimentos.
Quando se lê alguma notícia sobre essa taxa, geralmente está se falando da Selic Meta.
No entanto, a Selic Over, que é menos conhecida, é a que é praticada quando uma instituição financeira realiza um empréstimo para outra e, como garantia, usa os títulos públicos adquiridos no BC.
Ela pode ser entendida como a taxa média diária de juros que ocorre no mercado interbancário, ou seja, é a que os bancos utilizam para emprestar dinheiro entre si no mercado financeiro.
Essa taxa pode variar diariamente, de acordo com a oferta e demanda por recursos entre as instituições financeiras.
Ambas são fundamentais para compreender o cenário econômico. No entanto, para quem decide investir em renda fixa e ações, a Selic Meta é a que precisa ser acompanhada.
Qual é a taxa Selic de hoje?
A taxa Selic de hoje está em 13,75%. Ela foi estabelecida durante a terceira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, ocorrida nos dias 20 e 21 de junho de 2023.
Essa é a primeira vez que a taxa é mantida nesse patamar desde o início dos aumentos consecutivos que foram iniciados em 2021 —como parte dos esforços para controlar a escalada da inflação.
Qual é o impacto da taxa Selic na economia?
A taxa Selic exerce um impacto significativo em diversos aspectos da economia, influenciando o consumo, o crédito e os investimentos de forma direta e indireta.
Veja os 3 principais.
Impacto no consumo
A Selic pode afetar o consumo das famílias de diferentes maneiras. Quando o Banco Central decide reduzir, as taxas de juros dos empréstimos e financiamentos tendem a diminuir, tornando o crédito mais barato e acessível.
Com juros mais baixos, as pessoas são incentivadas a tomar empréstimos para comprar bens duráveis, como carros e imóveis, ou mesmo para financiar outras despesas de consumo, como viagens e eletrodomésticos.
Para entender melhor, imagine que a taxa Selic foi reduzida de 13% para 10%. Com isso, os juros dos financiamentos de veículos caem, tornando as prestações mensais mais baixas para os consumidores.
Alguém que estava planejando comprar um carro novo, agora encontra condições mais favoráveis para adquirir o veículo por meio de um financiamento com juros mais baixos.
Essa redução na taxa incentiva o investidor a tomar o empréstimo e realizar sua compra, aumentando o consumo no setor automotivo.
Impacto no crédito
A taxa tem um papel crucial na determinação das taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras em suas operações de crédito.
Quando a taxa Selic está alta, as taxas de juros de empréstimos e financiamentos também tendem a ser elevadas, tornando o crédito mais caro.
Nesse cenário, as pessoas e empresas podem se sentir desencorajadas a fazer empréstimos, o que pode levar a uma redução do consumo e do investimento.
Por outro lado, quando ela é reduzida, as taxas de juros de crédito acompanham essa tendência e ficam mais atrativas, o que pode estimular a demanda por empréstimos e fomentar o investimento das empresas.
Por exemplo, uma empresa que deseje expandir suas operações através de um empréstimo bancário de longo prazo para a aquisição de maquinário terá condições de financiamento mais vantajosas em um cenário de taxa em 5% do que se a taxa estivesse em 12%.
Impacto nos investimentos
A taxa Selic também influencia os investimentos financeiros, especialmente aqueles atrelados à renda fixa.
Quando a taxa está alta, os investimentos em títulos públicos e outros produtos de renda fixa tendem a oferecer retornos mais atrativos, o que pode atrair investidores para esses ativos.
Por outro lado, com a taxa baixa, os rendimentos dos investimentos em renda fixa ficam menores, levando alguns investidores a buscar alternativas com maior potencial de retorno.
Um investidor que pretenda aplicar uma quantia em um fundo de investimento com baixo risco pode optar por um fundo atrelado à taxa quando ela está em 8% ao ano. Entretanto, se a taxa cair para 3% ao ano, este investidor pode optar por outra opção (falaremos mais a frente).
Como a taxa Selic influencia a inflação?
As pressões inflacionárias também impactam a taxa de juros. A Selic é utilizada pelo Banco Central como estratégia para conter o aumento de preços.
Se as autoridades entenderem que existe uma expectativa de aumento da inflação para os próximos meses, a tendência é que o Banco Central opte por aumentar a taxa básica de juros para frear o consumo.
Com relação ao nível de emprego e renda, essas variáveis também acabam por impactar a inflação. Com a população mais empregada e com mais dinheiro no bolso, ela tende a gastar mais. Assim, pode haver pressão sobre os preços.
E, como o Banco Central entende que a taxa Selic serve para domar esses preços, novamente, ela será usada para esfriar o consumo.
Porém, o uso rotineiro dessa estratégia de usar os juros para controlar os preços é contestada por alguns especialistas, porque não é sempre que o aumento dos preços está relacionado ao aumento do crédito e do consumo.
Como e quem define a taxa Selic?
A Selic é definida nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), que acontecem a cada 45 dias.
O Copom é formado por diretores e pelo presidente do Banco Central do Brasil, que definem a taxa que passa a vigorar durante um mês e meio após a reunião, até que uma nova aconteça.
O processo de definição se baseia em uma série de fatores, incluindo a inflação, o crescimento econômico, o emprego e o risco de crédito.
Sendo assim, depende da avaliação dos riscos e oportunidades no cenário macroeconômico. É isso que vai aumentar, diminuir ou manter a Selic Meta.
O que é a Ata do Copom?
A Ata do Copom (Comitê de Política Monetária) é um documento oficial divulgado pelo Banco Central do Brasil após cada reunião do Copom. É ela que informa qual é a Selic atual.
Essa ata detalha as deliberações e discussões que ocorreram durante a reunião, apresentando os principais elementos que influenciaram a decisão do Comitê em relação à taxa básica de juros da economia brasileira.
A divulgação da Ata do Copom tem como objetivo proporcionar maior transparência e comunicação ao público, explicando os motivos que levaram o Comitê a tomar determinada decisão em relação à taxa de juros.
A Ata também fornece informações sobre as perspectivas econômicas, projeções de inflação e as principais variáveis econômicas consideradas pelo COPOM.
O conteúdo dela é redigido de forma cuidadosa para evitar revelar informações sensíveis que possam causar impactos nos mercados financeiros, mas busca fornecer ao público uma visão geral dos fatores analisados pelo Comitê e das diretrizes que nortearam a decisão.
A divulgação acontece algumas semanas após a reunião, e geralmente é disponibilizada no site do Banco Central.
Ela é amplamente acompanhada por analistas econômicos, investidores e o público em geral, pois oferece insights sobre a visão do Comitê em relação à economia do país e suas perspectivas futuras.
E isso pode influenciar as expectativas do mercado financeiro e auxiliar no planejamento de estratégias de investimento e tomada de decisões econômicas.
Calendário de reuniões do Copom 2023
Veja o calendário de reuniões do Copom previstas para o ano de 2023 com a data respectiva da divulgação da ata.
Reunião do Copom | Divulgação da Ata |
31 de janeiro e 1º de fevereiro | 7 de fevereiro |
21 e 22 de março | 28 de março |
2 e 3 de maio | 9 de maio |
20 e 21 de junho | 27 de junho |
1º e 2 de agosto | 8 de agosto |
19 e 20 de setembro | 26 de setembro |
31 de outubro e 1º de novembro | 7 de novembro |
12 e 13 de dezembro | 19 de dezembro |
Fonte: Banco Central do Brasil
O que influencia o aumento ou redução da taxa?
Para definir a taxa Selic, os membros do Copom consideram alguns fatores básicos, como o perfil dos títulos públicos federais negociados e o nível de emprego e renda da população.
Com relação aos títulos públicos, os juros cobrados estão atrelados ao prazo de vencimento e ao risco envolvido nas operações. Quanto maior o prazo de vencimento, mais interessante para quem vende, que aceita pagar um juro maior.
O risco relacionado aos papéis também influencia os juros: quanto mais arriscada for a aplicação, maior a compensação. A inflação também é um fator importante que influencia no aumento ou redução da taxa.
Segundo projeção da Associação Brasileira de Bancos, a taxa básica de juros só deve cair em agosto. Especialistas afirmam que a expectativa é que a redução vá para 12%. E, para o fim de 2024, será de 9,5%.
A professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenadora do Ipea, Julia Braga, explica que essa taxa de juros muito alta é um reflexo de uma onda inflacionária.
“Começou durante a covid e foi agravada durante a guerra da Ucrânia. Essa onda começou muito forte e foi se reverberando para economia. Mas conforme ela vai caminhando, ela vai perdendo força”, esclarece.
“Então, apesar da economia estar operando abaixo do pleno emprego, essa onda inflacionária ainda estava sendo sentida no final do ano passado no setor de serviços como apenas uma tentativa de recomposição das perdas acumuladas ao longo dos últimos anos.”
Assim como muitos especialistas, o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, acredita que é possível que o banco central corte de juros em agosto.
“Se não cortar em agosto, deve cortar em setembro e o mais importante agora é o Banco Central reconhecer na comunicação dele que a situação de inflação melhorou muito no Brasil”, diz.
Entenda mais sobre o tema assistindo ao vídeo abaixo.
Como investir na taxa Selic?
Para saber como investir na taxa Selic, é necessário entender que o impacto é diferente dependendo do tipo de investimento.
Em alta
Para ficar mais fácil para o investidor inexperiente, podemos dividir da seguinte forma. Para investimentos na renda fixa, os períodos em alta são mais favoráveis e com chances de maior rentabilidade.
Em alguns casos, o impacto é imediato. É o caso das opções de renda fixa, que sofrem interferências visíveis no aumento e queda da taxa.
No caso de títulos públicos negociados no Tesouro Direto, por exemplo, a remuneração do título é a própria taxa. Quando os juros básicos descem ou sobem, o investidor percebe o impacto na rentabilidade na hora.
O mesmo acontece, por exemplo, na compra de um CDB de um banco. Ao “emprestar” dinheiro a instituição por um determinado período em troca da rentabilidade, que são os juros, a influência da taxa também é fundamental para ter um bom retorno.
Em baixa
Em investimentos de renda variável, é o oposto. Quando está em queda, é possível obter melhor retorno por conta dos juros baixos.
Na renda variável, os ativos com ações negociadas na bolsa de valores sofrem um impacto indireto da alta e baixa da taxa Selic.
Com ela baixa e o consumo impulsionado, as empresas tendem a vender mais e terem melhores resultados com as ações e seus dividendos.
Além de estimular o consumo, o valor em queda também reduz o custo de crédito das companhias, facilitando investimentos para expansão dos negócios. Quanto melhor o desempenho das empresas, mais beneficiadas serão suas ações.
Quais investimentos são impactados?
A Selic impacta todos os investimentos de renda fixa, inclusive o Tesouro, a poupança e a renda fixa.
Quando ela sobe, os juros pagos por esses investimentos também sobem. Isso porque, mais uma vez, ela é a taxa básica de juros da economia e tudo depende dela.
Tesouro Selic
O Tesouro Selic é um título público emitido pelo Tesouro Nacional e sua rentabilidade é diretamente relacionada à taxa, afinal, leva ela no nome.
A rentabilidade do Tesouro é pós-fixada, ou seja, seu rendimento acompanha a variação da taxa Selic ao longo do tempo.
Quando ela está alta, o rendimento do Tesouro também é mais elevado, tornando esse investimento mais atrativo para os investidores, pois ele acompanha de perto a taxa básica de juros da economia.
Por outro lado, quando ela está baixa, o rendimento do Tesouro também é menor, o que pode levar os investidores a procurarem alternativas de investimentos que ofereçam maior retorno.
Poupança
A poupança é um investimento tradicional e popular no Brasil, e sua rentabilidade é influenciada pela taxa de forma um pouco diferente dos demais investimentos.
Até setembro de 2012, a poupança rendia 0,5% ao mês (ou 6,17% ao ano) mais a Taxa Referencial (TR). A partir dessa data, as regras da poupança mudaram, e seu rendimento passou a ser composto por duas situações:
- Igual ou menor que 8,5% ao ano: Nesse cenário, a poupança rende 70% da taxa mais a TR. Portanto, quanto menor, menor será o rendimento da poupança;
- Acima de 8,5% ao ano: quando a taxa ultrapassa 8,5%, a poupança volta a render 0,5% ao mês mais a TR, o que torna o rendimento mais interessante em relação a outros investimentos de baixo risco.
Renda Fixa
Os investimentos em renda fixa também são impactados pela taxa, principalmente os títulos privados, como CDBs (Certificados de Depósito Bancário), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio).
Quando está alta, os bancos e instituições financeiras tendem a oferecer rentabilidades mais atraentes em seus produtos de renda fixa, como forma de competir com o Tesouro e atrair investidores.
Com a taxa Selic baixa, esses investimentos podem apresentar rendimentos menores, o que pode levar os investidores a buscarem outras alternativas de investimentos com maior potencial de retorno.
Selic e IPCA: qual é a relação?
O IPCA, sigla para Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, é importante para entender o que é a taxa Selic pois trata-se do índice que aponta a inflação no país.
Através do IPCA, é possível entender se itens básicos de consumo das pessoas – como vestuário, alimentação, saúde e transporte – estão sofrendo alta ou queda nos preços.
O cálculo desse índice é feito mensalmente com base nos dados do IBGE de regiões metropolitanas de alguns estados e capitais do país.
Embora não seja calculado em todo o país, esse índice é usado para avaliação de todo o cenário nacional.
E como vimos, essa taxa é uma ferramenta importante no controle da inflação, por isso o IPCA e Selic são valores relacionados. Se a Selic aumenta ou entra em queda, há impactos diretos no IPCA.
Qual é a relação entre a Selic e o CDI?
Quem investe também precisa saber qual é a relação da taxa com o Certificado de Depósito Interbancário, o CDI.
Ambos são importantes referências para quem deseja avaliar a rentabilidade de um um investimento.
Normalmente, a diferença percentual entre as duas taxas de referência é pequena, a principal diferença é que a origem do CDI é diferente da Selic.
Este representa os empréstimos realizados em instituições financeiras com recurso próprio. No caso dos bancos, eles realizam esse tipo de operação porque, de acordo com a legislação, precisam encerrar todos os dias com o balanço equilibrado.
Se a instituição financeira está com déficit monetário, ela precisa buscar recursos para cobrir esses desembolsos.
A prática mais comum é fazer empréstimos de curto prazo em outras instituições financeiras. Diferente da Selic, o CDI é registrado no Cetip, um sistema incorporado à bolsa brasileira (B3).
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