Rede social de Trump vai se tornar empresa de capital aberto
Ex-presidente americano deve receber, por ser acionista majoritário, cerca de US$ 3 bilhões
Os investidores aprovaram um acordo hoje para tornar a Trump Media, proprietária do Truth Social, em uma empresa de capital aberto.
A fusão promete gerar um ganho de bilhões de dólares para o ex-presidente Donald Trump em um momento em que ele enfrenta uma imensa pressão financeira e legal.
De acordo com um total preliminar de votos, a maioria dos acionistas da Digital World Acquisition Corp. votou a favor do acordo de fusão com a Trump Media. As empresas indicaram que a fusão poderia ser concluída já na próxima semana.
A nova empresa será chamada de Trump Media & Technology Group e seu “ticker” será DJT, as iniciais de Trump. Ela será proprietária da plataforma de mídia digital de Trump, o Truth Social.
Os acionistas votaram para aprovar a fusão da Trump Media após anos de obstáculos legais e regulatórios. Trump será proprietário de uma participação dominante em uma empresa de oferta pública, com ações no valor de mais de US$ 3 bilhões pelos preços de mercado atuais.
No entanto, especialistas dizem à CNN que existem numerosas razões práticas, financeiras e legais pelas quais este acordo provavelmente não resolverá a crise financeira iminente de Trump.
“O presidente Trump não será capaz de monetizar essa participação imediatamente”, disse Matthew Kennedy, estrategista sênior de mercado de oferta pública inicial da Renaissance Capital.
Trump tem até segunda-feira para depositar um calção de US$ 464 milhões no caso de fraude civil de Nova York contra ele. Caso ele não deposite a quantia, o procurador-geral de Nova York pode tentar confiscar seu campo de golfe e outra propriedade privada ao norte de Manhattan – ou outros ativos.
Se receber luz verde dos acionistas, Trump deverá ser o acionista majoritário, com uma participação de pelo menos 58,1% – cerca de 79 milhões de ações, segundo as declarações.
Com o preço das ações da Digital World em cerca de US$ 41 na quinta-feira, essa participação maciça valeria US$ 3,4 bilhões – pelo menos no papel. Mas as ações da Digital World estavam voláteis na sexta-feira e caiam 4% por volta das 15h00.
Documentos regulatórios indicam que as empresas esperam concluir a fusão no segundo dia útil após a aprovação dos acionistas. Isso prepara o cenário para as negociações começarem sob o novo nome e símbolo da empresa até terça ou quarta-feira, embora possa levar mais tempo, segundo Matthew Kennedy.
Mas o acordo ainda enfrenta incerteza legal. Há uma ação judicial em andamento para bloquear o fechamento da fusão.
“Claramente uma bolha”
A má notícia para Trump é que essa participação não é tão líquida quanto parece. Esses ganhos no papel seriam muito difíceis de transformar em dinheiro real para Trump.
Na verdade, as ações de Trump nesta empresa são, em muitos aspectos, ainda menos líquidas do que seus investimentos imobiliários, segundo Charles Whitehead, professor de direito da Faculdade de Direito de Cornell.
Primeiro, os especialistas dizem que o mercado está superestimando drasticamente a Trump Media com base nos fundamentos da empresa.
Isso significa que Trump teria dificuldade em despejar as ações ou até mesmo em oferecê-las como garantia.
“O preço das ações é claramente uma bolha”, disse o professor de direito de Yale Jonathan Macey à CNN. “Nenhum investidor racional aceitaria o preço das ações pelo valor de face, especialmente se tivesse que mantê-lo por algum tempo.”
Documentos da SEC indicam que a receita da Trump Media totalizou apenas US$ 1,1 milhão no terceiro trimestre. A empresa teve um prejuízo de US$ 26 milhões naquele trimestre.
Diminuição de usuários no Truth Social
O número de usuários ativos mensais do Truth Social nos EUA em iOS e Android caiu 39% em relação ao ano anterior, de acordo com dados do Similarweb compartilhados com a CNN. O Truth Social continua sendo muito menor do que o X (anteriormente Twitter), que também está encolhendo, mas em um ritmo mais lento.
E ainda assim, a Trump Media está sendo avaliada em mais de US$ 6 bilhões em uma base totalmente diluída, que inclui todas as ações e opções que poderiam ser convertidas em ações comuns, de acordo com Jay Ritter, professor de finanças da Universidade da Flórida.
Ritter disse que o preço de mercado atual é difícil, senão impossível, de justificar.
“Está grotescamente supervalorizado”, disse Ritter. “Isso se enquadra como uma ‘ação de meme’, para a qual o preço está divorciado do valor fundamental… Os investidores de ‘ações de meme’ compram geralmente com base na teoria do maior tolo do investimento: está supervalorizado hoje, mas espero ganhar dinheiro vendendo para um tolo ainda maior amanhã a um preço ainda mais alto.”
Os insiders não podem vender imediatamente
Mas mesmo no caso improvável de Trump encontrar um comprador para essas ações, os especialistas dizem que ele provavelmente não está autorizado a vender ou oferecer essas ações como garantia – pelo menos ainda não.
Como é típico em um acordo como este, certos acionistas estão sujeitos a um período de bloqueio que impede que os insiders vendam imediatamente.
“Ninguém quer investir em uma empresa onde o maior acionista – e realmente o rosto do maior produto – está vendendo”, disse Whitehead.
Neste caso, os acionistas-chave da Trump Media, incluindo sua equipe de gestão, concordaram em não vender suas ações ordinárias por seis meses para manter uma “importante estabilidade para a liderança e governança” da empresa, de acordo com os arquivamentos na SEC.
Não apenas esse acordo de bloqueio impede que esses acionistas-chave vendam suas ações por seis meses, mas também afirma que eles concordaram em não “emprestar, oferecer, penhorar, encobrir, doar” essas ações durante o período.
Se o preço das ações permanecer acima de US$ 12 por um período, é possível que os insiders possam vender ou penhorar suas ações 150 dias após o fechamento do acordo.
“O bloqueio destina-se a impedir que os insiders vendam imediatamente após a fusão”, disse Xavier Kowalski, ex-sócio da Schulte Roth & Zabel, que agora é professor no departamento de finanças da Universidade da Flórida. “Também os impede de penhorar as ações, como com um empréstimo garantido por margem. Portanto, será difícil encontrar uma maneira de usar essas ações para obter dinheiro por enquanto.”
Bancos podem hesitar
Além disso, há restrições adicionais de bloqueio contidas em uma carta modificada que, segundo especialistas, parecem incluir Trump. Esse bloqueio também restringe certos acionistas de vender suas participações imediatamente após o fechamento do acordo.
“Se suas ações estiverem cobertas pelas disposições de bloqueio do estatuto, então, na ausência de uma emenda ao estatuto, o presidente Trump não pode penhorar essas ações. Ponto final”, disse Whitehead.
E emendar o estatuto seria complicado – mesmo para Trump e sua grande influência sobre a empresa. Isso é algo que teria que ser divulgado antecipadamente porque impactaria os potenciais compradores das ações.
“Ele não pode fazer isso discretamente. Se o presidente Trump pretende hoje emendar o estatuto e não estão divulgando essa intenção, isso é um problema”, disse Whitehead. “Presumivelmente, eles teriam que tomar a posição após a votação aprovando a fusão que o presidente Trump acordou e de repente disse: ‘Ei, vamos emendar o estatuto.'”
Agora, mesmo que Trump superasse esses obstáculos potencialmente intransponíveis, não há garantia de que qualquer banco aceitaria essas ações como garantia em um empréstimo.
“Se eu fosse um banco, ficaria preocupado com a ideia de um acionista significativo penhorando sua participação”, disse Whitehead. “Qualquer banco fazendo uma análise de crédito adequada deve ser sensível ao fato de que essas ações podem muito bem despencar se ficar claro que o presidente Trump está procurando vender a posição.”
