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    Mendelics quer mudar cenário de testagem para Covid-19 com exame de R$ 95

    O teste da Mendelics, desenvolvido em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, foi anunciado com preço de R$ 95, ante R$ 250 dos exames convencionais

    Marcelo Sakate, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A pandemia do novo coronavírus criou um mercado bilionário para os testes de detecção da doença. Em questão de poucas semanas, o setor público e empresas privadas passaram a demandar milhões de testes para, respectivamente, definir políticas públicas de combate à Covid-19 e proteger a saúde dos funcionários, de modo que um retorno gradual ao trabalho presencial fosse viabilizado.

    O mercado de RT-PCR, considerado o teste mais eficiente para o diagnóstico da Covid-19, deve triplicar de tamanho no mundo neste ano, movimentando US$ 22,4 bilhões, segundo estimativas do site especializado Research and Markets.

    De olho nesse mercado, a Mendelics, um laboratório brasileiro de biotecnologia e análise genômica, surpreendeu há duas semanas com o anúncio de um novo exame molecular desenvolvido no país para detectar o vírus SARS-Cov-2.

    O teste é realizado a partir de uma amostra de saliva colhida pelo próprio paciente e com um índice de precisão semelhante ao do RT-PCR (que utiliza amostra de secreção a partir de um cotonete nasal alongado). 

    Mas há características relevantes que diferenciam o novo teste do RT-PCR, disseram ao CNN Brasil Business o CEO da Mendelics, David Schlesinger, e o presidente do conselho, Laércio Cosentino: o tempo de resposta de uma hora, contra em média dois dias do PCR, a elevada capacidade diária de processamento do teste e, principalmente, o custo.

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    O teste da Mendelics, desenvolvido por pesquisadores brasileiros em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, foi anunciado com preço ao consumidor de R$ 95. Exames de PT-PCR custam em laboratórios privados a partir de R$ 250.

    Como se explica tamanha diferença? “Estudamos os gargalos existentes, em insumos, logística, equipamentos, para lançar um teste que fosse simples, pudesse ter escala e um custo adequado para as empresas, que têm a necessidade de fazer a testagem em massa”, diz Cosentino. A escolha se deu pelo método chamado RT-LAMP.

    “Se nós imaginarmos que o Brasil tem 220 milhões de pessoas, e testarmos a metade da população, serão 110 milhões de pessoas. Se testarmos 25%, falamos de 50 e poucos milhões de pessoas”, afirma Cosentino.

    Segundo ele, o principal alvo neste momento são as empresas. “A Covid-19 foi declarada doença do trabalho. Hoje há um nível de represamento muito grande, de várias empresas, para testar antes que os funcionários possam voltar.”

    Mercado externo

    Em paralelo, a Mendelics negocia parcerias com laboratórios para que eles utilizem a sua metodologia e a tecnologia, o que vai permitir o ganho de escala. Em um segundo momento, o poder público pode se tornar um potencial comprador. Com clientes de seus testes genômicos em diversos países da América Latina, como México, Colômbia, Argentina e Chile, a companhia já se prepara para o aumento da demanda.

    “Estamos subindo de uma capacidade de processar dezenas de milhares de testes por dia para uma centena de milhares de testes por dia ao longo das próximas semanas”, afirma Schlesinger.  

    Segundo ele, a empresa é sustentável há vários anos. “Fizemos rodadas de investimento, que permitem que a gente continue colocando recursos em algo no qual o Brasil não tem uma tradição muito grande, que é biotecnologia e pesquisa genômica”, diz o CEO.

    Cosentino, um dos fundadores da maior empresa brasileira de tecnologia, a Totvs, na qual também comanda o conselho, foi um dos primeiros investidores anjo da Mendelics –  nome dado a quem acredita e aporta recursos em um projeto em seu estágio inicial. Ele é um entusiasta do potencial do laboratório, que nasceu em 2012.

    “A Mendelics é uma empresa de tecnologia focada em saúde. Transformamos o conhecimento técnico em dados e algoritmos que vão possibilitar que a gente possa cada vez mais entender o ser humano, entender doenças preexistentes e, com isso, ter a previsibilidade de doenças, de tratamento e assim por diante”, afirma.

    Engenheiros com geneticistas

    Cosentino, engenheiro de formação e com uma extensa carreira em tecnologia, ajuda a compor a babel de formações acadêmicas e experiências entre os quase 200 funcionários da Mendelics. “Temos mais de 60 funcionários que são técnicos, especialistas, PhD em biologia molecular, médicos, geneticistas, engenheiros de softwares”, afirma Schlesinger, que é neurologista e Ph.D em genética.

    O conhecimento adquirido nos anos anteriores levou a um “know how” que permitiu desenvolver em apenas três meses o teste, afirma Cosentino. Ele também cita técnicas de gestão adotadas em muitas companhias conhecidas pela eficiência. 

    “Trabalhamos como uma startup. Colocamos o objetivo, a premissa e utilizamos metodologia ágil: a cada instante vamos ajustando, fazendo e mudando, e isso nos deu tremenda velocidade para chegar ao resultado final”, completa.

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    A parceria com o Sírio-Libanês permitiu validar os resultados em paralelo com pacientes que estavam ativamente infectados, mas testados com o ‘padrão ouro’, que até então era o PCR. “Pudemos comparar o novo teste com o RT-PCR aplicado por hospitais e laboratórios de ponta. Com isso, tivemos a confiança de que estávamos entregando o mesmo nível de qualidade dos melhores testes”, diz Schlesinger.

    O teste para o novo coronavírus não foi o primeiro grande projeto da Mendelics. No fim do ano passado, por exemplo, a empresa lançou o teste da bochechinha, uma alusão ao consagrado teste do pezinho. A partir de uma amostra da saliva colhida junto à bochecha do bebê, é feita uma análise do DNA que permite identificar quase 300 doenças tratáveis.

    O aperfeiçoamento das pesquisas permitiu outras conquistas. “A gente sistematicamente fez com que o custo de diagnóstico de doenças raras, que era inviável, impagável e não estava disponível no Brasil, fosse caindo progressivamente. E hoje existem exames que são feitos por menos de mil reais, inclusive pelo centro de referência de doenças raras do SUS”, afirma o CEO.

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