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    Desfecho de investida do governo por Vale ainda é incerto, mas fatalmente afastará investidor, dizem especialistas

    Conselho de administração da Vale terá reunião extraordinária na próxima sexta-feira (2) para tratar da sucessão na presidência

    Da CNN* , São Paulo

    Para especialistas consultados pela CNN, o desfecho da mais recente investida do governo Lula por mais espaço na mineradora Vale ainda é incerto. Na visão dos analistas, contudo, um resultado já está colocado sobre a mesa: a aversão dos investidores.

    O conselho de administração da Vale terá reunião extraordinária na próxima sexta-feira (2) para tratar da sucessão na presidência. Conforme fontes consultadas pela CNN, o nome do ex-ministro Guido Mantega, que vinha sendo defendido pelo Planalto, foi descartado.

    Os acionistas estão divididos: alguns aprovam a atual gestão, de Eduardo Bartolomeo, e outros querem mudança.

    Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, relembra que a participação do governo nas ações da companhia é pouco expressiva atualmente, o que permite pouco espaço para manobras. A gestão federal possui 8,72% das ações da empresa, por meio da Previ — fundo de pensão brasileiro dos funcionários do Banco do Brasil.

    “A participação caiu em uma trajetória de vários governos, desde que a empresa foi privatizada. Não há poder para decidir o presidente”, disse.

    Na análise de Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o governo pode emplacar um nome à frente da companhia — desde que haja alinhamento com outros quadros quanto ao escolhido.

    “O problema foi a escolha de Mantega, que é totalmente rechaçado pelo mercado. Precisa ser alguém com visão de mercado, afinal a Vale não é estatal há muito tempo e o tipo de ingerência que o governo quer fazer na empresa não cabe mais”, disse.

    No mesmo dia em que o governo desistiu de emplacar o nome do ex-ministro da Fazenda, na última sexta-feira (26), o Ministério dos Transportes notificou a Vale na última sexta-feira (26) cobrando R$ 25,7 bilhões de concessões de ferrovias que foram renovadas antecipadamente na gestão Bolsonaro.

    “Se a pressão acontecer desta forma, isso só irá afastar ainda mais a possibilidade de ser indicado alguém ligado ao governo. A Vale, depois de Brumadinho especialmente, precisa ter cuidado redobrado na sua governança”, opina Vale.

    Em entrevista à CNN, o ministro Renan Filho indicou que não descarta judicializar a cobrança, mas garantiu que a iniciativa não guarda nenhuma relação sobre a troca de comando na Vale.

    Investidores observam

    Para Cruz, o “recado” que estes movimentos passam “não é dos melhores”. Ele reitera a ideia de que, para investidores, o ideal é que um quadro experiente no setor esteja à frente da companhia.

    “Há tentativa de usar este cargo mais de maneira pessoal, como aconteceu com a Dilma [Rousseff] no Banco dos Brics, do que profissional. Não é o melhor dos mundos para os acionistas”, disse.

    Esta foi a terceira tentativa do governo Lula de “reabilitar” o ex-ministro. A primeira foi ainda no gabinete de transição. Mantega foi indicado para o Grupo de Planejamento e Gestão, mas, diante da repercussão negativa, renunciou.

    A segunda foi no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Com o aval de Lula, o ex-ministro enviou um e-mail para a Secretaria do Tesouro americano a fim de adiar a eleição para a presidência do banco. Após o “não”, o economista brasileiro Ilan Goldfjan, ex-presidente do Banco Central, acabou eleito.

    “Há na gestão crença de que o país precisa de muito mais intervenção estatal do que tem. São pressões que veremos acontecer ao longo de todo o governo e, nesse sentido, não é novidade”, completa Sérgio Vale.

    A política

    Professor da FGV Ebape, Carlos Pereira indica que, com este movimento, o governo Lula prejudica seu próprio capital político. Na sua visão, parcela significativa de seus eleitores não escolheram políticas intervencionistas e de interferência em empresas privadas.

    “Repetir os erros grosseiros do passado com a ilusão de que ‘agora vai ser diferente’ é autoengano. Se o governo insistir nesse caminho, provavelmente trará a oposição de volta de forma competitiva, pois vai oferecer para ela uma agenda”, analisa.

    *Publicado por Danilo Moliterno.