Dê um trabalho mais gratificante aos seus funcionários, diz ex-CEO da Volvo
Atendentes de supermercados, entregadores, caminhoneiros e trabalhadores da saúde e de fábricas evitaram que a economia dos EUA desmoronasse inteiramente durante a pandemia.
No entanto, muitos destes trabalhadores sentem que não estão recebendo o pagamento ou o respeito que merecem – sendo horistas na maior parte dos casos, eles não conseguem receber um salário mínimo ou ter uma licença remunerada quando ficam doentes.
Infelizmente, esses aspectos da vida profissional se tornaram a norma para grande parte do mundo corporativo dos EUA. Por muito tempo, funcionários viram os executivos ganharem salários anuais na casa do milhão enquanto lutavam para pagar o aluguel do mês.
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Esse tipo de pensamento que prioriza o lucro pode ser prejudicial à cultura de uma empresa, ao volume de negócios e, por fim, aos resultados financeiros.
Veja como as empresas podem começar a mostrar aos funcionários que seu bem-estar vem em primeiro lugar, tanto durante a pandemia quanto depois:
Dê sentido ao trabalho
Garantir que todos os funcionários tenham um salário mínimo é um bom começo, mas o pagamento é apenas parte da equação. Como CEO da Volvo por um quarto de século, trabalhei muito não apenas para dar aos nossos colaboradores um salário mínimo, mas também para trazer mais sentido ao trabalho de todos.
Os salários dos trabalhadores estavam no topo da escala salarial do sindicato e eram o padrão na empresa; portanto, mais importantes para eles foram nossos esforços para dar-lhes treinamento adicional para que pudessem realizar um trabalho mais complexo e interessante.
Uma das primeiras ações que tomei na Volvo foi mudar a maneira como montávamos os carros. Eu queria que as plantas fossem projetadas pensando sempre que os funcionários fossem capazes de encontrar significado e satisfação em seu trabalho, sem sacrificar a eficiência ou a lucratividade.
Começando com nossa nova fábrica de montagem em Kalmar, Suécia, onde mudamos a maneira como os carros eram montados em empresas automotivas em todo o mundo por décadas. Nós rejeitamos o método tradicional de linha de montagem e, em vez disso, instalamos plataformas acionadas eletricamente que transportam o chassi para uma estação de trabalho.
Nela fica uma equipe de oito a dez trabalhadores, que passam 20 minutos realizando a tarefa de sua equipe, seja a instalação do motor ou do câmbio, a proteção dos assentos ou a conexão dos componentes eletrônicos. Depois que essa equipe conclui sua tarefa, a plataforma se move silenciosamente pelo chão de fábrica para a próxima equipe.
Substituir a linha de montagem por um sistema de lote de trabalho nos permitiu mover os trabalhadores de tarefas repetitivas simples para equipes pequenas, com cada uma responsável pela montagem de um sistema único em cada carro. Isso fez maravilhas.
A mudança no tempo de ciclo (o tempo que leva para completar uma tarefa específica) aumentou de 90 segundos para 20 minutos, o que fez uma diferença notável na saúde e na atitude dos nossos trabalhadores de linha. Eles abraçaram com entusiasmo a realização de diferentes tipos de trabalhos dentro da tarefa geral atribuída à equipe.
Isso não apenas permitiu que escapassem da monotonia e da dor por uma vida inteira de repetições de três a quatro segundos, como também permitiu a substituição de funcionários afastados por motivo de saúde ou em férias.
A Volvo tornou-se um local de trabalho em que projetos e conceitos centrados no ser humano criaram empregos melhores e mais interessantes, o que levou a um maior bem-estar e lucratividade do trabalhador.
Desafie-os
Na minha experiência, dar às pessoas mais responsabilidade e esperar mais conhecimento técnico foram atitudes que reduziram a rotatividade e as faltas no trabalho, enquanto, ao mesmo tempo, aumentaram o moral e a produtividade.
Essa nova forma de trabalhar em equipes para montar um sistema logo foi adotada não apenas em nossas outras fábricas da Volvo, mas em muitas outras empresas ao redor do mundo. Muito do esforço foi baseado no simples bom senso.
Que pessoa deseja permanecer em uma linha de montagem por 40 anos, repetindo o mesmo ciclo de 90 segundos indefinidamente, sem autoaperfeiçoamento, sem incentivo para fazer melhor ou a oportunidade de aprender novas habilidades?
A filosofia é simples: dê aos funcionários mais responsabilidade, mais treinamento, um trabalho mais satisfatório e você verá a diminuição das faltas, o aumento da produtividade e a elevação do moral dos funcionários.
Essas lições podem ser aplicadas em praticamente todos os setores, não apenas na produção de grandes máquinas. Cada trabalhador, seja no caixa do supermercado ou no pronto-socorro, prospera quando há mais responsabilidade, criatividade e flexibilidade.
Ao dar às pessoas a oportunidade de melhorar suas habilidades e entender como sua equipe pode trabalhar com mais eficiência, os membros do time trabalham juntos para atingir um objetivo comum – e não como robôs sem alma. Isso pode exigir mais esforço do que o jeito norte-americano de treinar trabalhadores da forma mais barata possível e demiti-los sem pensar duas vezes.
Entretanto, junto com a adesão dos funcionários vêm colaboradores leais, novas ideias, menos absenteísmo e mais produtividade – e tudo isso se traduz diretamente para o resultado final.
Coloque a saúde em primeiro lugar
Outra ação que tomamos com o objetivo de melhorar a eficiência e a saúde do trabalhador foi, com a ajuda de um especialista em ergonomia, a introdução de um conjunto de ferramentas totalmente novo adaptado para as mãos menores das mulheres.
Era um absurdo que as mulheres tivessem que usar ferramentas do mesmo tamanho que os homens, o que causava pressão não só nas mãos, mas também nos ombros, resultando em mais dor, menos produtividade e mais faltas. A solução foi muito simples e as novas ferramentas causaram uma melhora quase imediata no moral.
Todo tipo de empresa faria bem em ouvir os que estão na linha de frente. Adaptar uma tarefa a um determinado grupo demográfico costuma ser tão fácil quanto levantar ou abaixar uma cadeira de escritório, fazer rodízio entre os atendentes em um supermercado ou garantir que todos possam alcançar com os pés o acelerador de um caminhão.
Da mesma forma, ampliar o conhecimento e as habilidades de todos é uma vantagem para a empresa e para os trabalhadores.
A pandemia mostrou a todos nós o valor de nossos trabalhadores horistas. Vamos responder mostrando-lhes nossa gratidão, fechando a lacuna salarial, respeitando suas contribuições e prestando atenção às suas necessidades psicológicas vitais de segurança, criatividade, satisfação e companheirismo.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).
Nota do editor: Pehr Gyllenhammar foi o CEO da Volvo por 24 anos. Ele também trabalhou ou atuou no conselho de instituições como Lazard, Reuters, Rothschild, Chase Manhattan Bank, Instituto Aspen, Universidade Rockefeller e Orquestra Filarmônica de Londres. Sua autobiografia, “Character is Destiny”, acaba de ser publicado nos EUA pela Morgan James Publishing. As opiniões expressas neste texto são dele.
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