Não há razões para manter a Petrobras estatal, diz Maílson da Nóbrega
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Para o economista e ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, a situação atual da Petrobras, com a desistência dos indicados do governo para a presidência e a presidência do conselho, é mais um argumento a favor da privatização da estatal.
Em entrevista à CNN nesta terça-feira (5), ele avalia que, desde os governos de presidentes do Partido dos Trabalhadores (PT), a Petrobras "tem sido um exemplo perfeito e acabado de que não pode mais continuar a ser uma empresa estatal".
"Tivemos a corrupção, e agora um presidente que muda os presidentes da empresa simplesmente porque não gostou do que falaram, não abaixou preços, um presidente que não entende essas questões de governança, a própria lei das estatais, e ele fica interferindo de maneira desastrosa na Petrobras. Isso gera incertezas para os acionistas, para o mercado".
Nesse sentido, Nóbrega espera que essa situação "amadureça a ideia de que o tempo da Petrobras estatal já passou".
Segundo ele, empresas estatais são criadas quando há uma falha de mercado e ausência de investidores, crédito e mercado de capitais para investir em uma área relevante, como era o caso em 1953, quando a Petrobras foi criada. Mas essa não seria, na visão dele, a situação atualmente.
"Temos empresários, empresas de porte, temos mercado de capital robusto, temos um sistema financeiro sólido. Não há razões para manter a Petrobras estatal, mas tem que ser feito com muito cuidado, conquistar o apoio da opinião pública, é preciso evitar que o monopólio estatal mude para outra empresa", diz.
Para o ex-ministro, o caso de Adriano Pires, que desistiu da indicação após o apontamento de supostos conflitos de interesse, mostra um "certo preconceito".
"Adriano Pires é um consultor renomado, está sendo visto como desonesto, ou seja, o Ministério Público perante o TCU exigiu uma investigação sobre os clientes do Adriano para ele poder assumir, lança uma suspeita antes dele ser nomeado, e tudo isso leva cada vez mais à dificuldade de recrutar talentos".
"Por que ir para o governo, assumir posições de risco e se sujeitar a esse tipo de tratamento?", questiona. Ele avalia que isso está ligada a um "certo preconceito com o lucro", que acabou gerando uma suspeita sobre colocar em estatais profissionais qualificados do setor privado.
Eleições e alta de juros nos EUA podem fazer dólar subir
À CNN, Maílson da Nóbrega também falou sobre a valorização recente do real em relação ao dólar, com a moeda norte-americana atingindo o menor valor me mais de dois anos. Para ele, a posição atual já deveria ter sido atingida há mais de um ano.
"A taxa de câmbio estrutural, aquela que favorece o equilíbrio da balança de pagamentos, deveria ser hoje na casa de R$ 4,40, R$ 4,50. Ela chegou perto de R$ 6 por incertezas internas, a maneira como o governo enfrentou a pandemia, como o presidente governa, as confusões que ele causou, tudo isso gerou uma certa in certeza entre os investidores", diz.
Com um alívio desse cenário, alguns fatores passaram a contribuir para trazer o dólar à posição atual. O primeiro é a percepção de que a bolsa brasileira está "muito barata", incentivando a entrada de investimentos.
"Em segundo lugar, com o fechamento da bolsa de valores de Moscou e as incertezas que estão lá por causa da guerra, muitos investidores saíram de Moscou para São Paulo, para investir em empresas de commodities", afirma.
Ele cita ainda a recuperação da China e a guerra na Ucrânia, que levaram a um aumento nos preços de commodities que o Brasil exporta, e deve levar o país a superávits comerciais recordes em 2022.
Entretanto, Nóbrega recomenda cautela, e avalia que o cenário pode mudar em alguns meses devido ao aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, que deve atrair investimentos para o país, e às eleições de 2022 no Brasil, que "costumam ser no Brasil um momento de grande incerteza, o que afeta a taxa de câmbio".