Ibovespa sobe 0,29% e dólar fica estável em meio a inflação e tarifas
Pregão foi marcado por oscilações em torno de guerra comercial e dados de inflação


O dólar e o Ibovespa tiveram ligeiras variações nesta quarta-feira (12), com os investidores demonstrando temores de uma guerra comercial global, o que se sobrepunha a dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos que foram, em tese, positivos para moeda brasileira.
Entre suaves altas e quedas, o dólar à vista acabou fechando o dia em ligeira baixa de 0,05%, a R$ 5,8086 na venda.
Já o Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, subiu 0,29%, a 123.866,39 pontos.
“As maiores altas e quedas do Ibovespa no dia de hoje não estão relacionadas a uma questão específica dos ativos reforçando a aleatoriedade do mercado nesse momento de incerteza”, avaliou Anderson Silva, head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital.
Na terça-feira (11), o dólar à vista fechou em baixa de 0,74%, a R$ 5,8113; enquanto o Ibovespa caiu 0,81%, a 123.507,35 pontos.
Tarifas
As taxas implementadas por Trump, universais e anunciadas no mês passado, atingem uma série de países que não haviam sido alvos das medidas comerciais do novo governo, como a União Europeia e o Brasil, além de outros parceiros que já vêm sofrendo ameaças tarifárias dos EUA, como México e Canadá.
“Essa atitude do presidente americano, em conjunto com uma maior aversão ao risco nos mercados em geral e um certo receio de recessão no mercado americano, deixa o cenário um tanto irracional. Os fundamentos acabam sendo deixados de lado, e observamos movimentos aleatórios e fora de contexto”, apontou Silva.
“As incertezas em torno das possíveis tarifas recíprocas de Donald Trump deixam os investidores indecisos. Vemos o dólar perdendo força frente a várias moedas no mundo, um movimento que pode ser interpretado como uma correção após a forte valorização ocorrida em 2024”, concluiu.
Sem a possibilidade de acordos no horizonte, os países atingidos pelas tarifas já começavam a anunciar medidas de retaliação.
A Comissão Europeia disse que imporá tarifas retaliatórias sobre 26 bilhões de euros em produtos norte-americanos a partir do próximo mês, enquanto o Canadá indicou que implementará 29,8 bilhões de dólares canadenses em taxas retaliatórias contra o vizinho.
As notícias aumentavam as preocupações pelo início de uma guerra comercial ampla, o que, segundo analistas, pode distorcer cadeias de suprimentos no mundo todo, aumentando os preços de mercadorias e provocando uma recessão econômica.
“A questão global sobre os desdobramentos das políticas tarifárias de Trump, o receio de guerra comercial e impacto em uma recessão global, seguem mesmo ditando o mercado”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
“Todo mundo perde com a deflagração de uma guerra comercial.”
Com esse cenário pessimista em vista, investidores optavam por ativos mais seguros neste pregão, o que nas primeiras negociações no Brasil significava apostas no dólar, com perdas para o real.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,21%, a 103,670.
Na máxima da sessão no Brasil, o dólar atingiu R$ 5,8467 (+0,61%), às 10h03.
Mas a divisa dos EUA devolveu quase todos os ganhos após falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre as tarifas implementadas por Trump.
Haddad afirmou que o governo brasileiro não deve promover uma retaliação imediata às tarifas dos EUA, ressaltando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu calma na análise do tema. Ele acrescentou que a Fazenda vai estudar propostas apresentadas pelo setor de aço e uma nota técnica sobre o tema.
As declarações deixaram o mercado nacional menos avesso ao risco diante da abertura do país em negociar com o governo dos EUA e não entrar na onda de retaliações tarifárias.
Inflação do Brasil e EUA
O foco em torno das questões comerciais ainda fazia os investidores ignorarem a agenda de dados desta quarta, que incluiu dados de inflação no Brasil e nos EUA.
O IBGE informou que inflação no Brasil acelerou com força em fevereiro e atingiu o maior nível em quase três anos diante do aumento dos preços da energia elétrica, levando a taxa em 12 meses acima de 5%.
“O número divulgado hoje põe mais pressão no Banco Central Brasileiro para prover o aumento de 100 pontos base na próxima reunião e, ainda mais importante, gerar uma comunicação dura que possa garantir que a autoridade monetária fará tudo ao seu alcance para a convergência das expectativas de inflação”, apontou Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
“Qualquer posicionamento do Banco Central que se desvie dessa linha pode agravar significativamente o cenário para os ativos brasileiros em especial o dólar.”
Já nos EUA, os preços ao consumidor subiram menos do que o esperado por economistas em fevereiro, aproximando o nível dos preços ainda mais da meta de 2% perseguida pelo Federal Reserve.
Ambos os resultados, por implicarem a possibilidade de maior diferencial de juros entre os dois países, com maior aperto monetário no Brasil e espaço para afrouxamento nos EUA, seriam positivos para a moeda brasileira, mas não tinham muito impacto nas negociações desta quarta.
*Com informações da Reutes