Juros caem no Brasil após decepção com mercado de trabalho nos EUA
Investidores seguiram reduzindo as apostas de alta de 50 pontos-base da taxa básica Selic este mês
As taxas dos DIs voltaram a ceder nesta quinta-feira (5), em especial entre os contratos a partir de janeiro de 2026, acompanhando a queda firme dos rendimentos dos Treasuries após dados decepcionantes do mercado de trabalho privado dos EUA, enquanto as taxas de curtíssimo prazo se sustentaram próximas dos níveis da véspera.
Investidores seguiram reduzindo as apostas de alta de 50 pontos-base da taxa básica Selic este mês, elevando as posições em um aumento de 25 pontos-base.
No fim da tarde a taxa do DI para outubro de 2024 — um dos mais líquidos atualmente, refletindo apostas para o Copom de setembro — estava em 10,524%, ante 10,528% do ajuste anterior.
A taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,92%, ante 10,94% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2026 estava em 11,69%, ante 11,777%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,84%, ante 11,937%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,81%, ante 11,912%.
Como na véspera, o principal condutor dos negócios nesta quinta-feira foi o exterior, onde os yields dos Tresauries passaram por nova queda.
O principal gatilho para isso foi o relatório da ADP indicando que foram abertas 99.000 vagas de emprego no setor privado em agosto, o menor número desde janeiro de 2021, contra 111.000 em julho.
Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 145.000 postos de trabalho, após 122.000 em julho conforme relatado anteriormente.
“Hoje seguimos acompanhando o cenário externo. Vimos um fechamento considerável das (taxas dos) Treasuries, com dados de mercado de trabalho muito fracos nos EUA. Tivemos ontem o (relatório de emprego) Jolts e hoje o ADP, de novo bem abaixo das expectativas de mercado”, pontuou Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos.
“Como nossa curva (de juros) também já estava com bastante prêmio, vemos hoje uma correlação alta com o fechamento (da curva norte-americana)”, acrescentou Sueishi, ao justificar a queda das taxas dos DIs.
O recuo das taxas futuras no Brasil ocorreu a despeito de, pela manhã, o Tesouro ter apresentado dados fiscais ainda preocupantes. O governo central (Tesouro, Banco Central e Previdência Social) registrou déficit primário de R$ 9,283 bilhões em julho, um resultado pior que o saldo negativo de R$ 8,8 bilhões projetado por analistas em pesquisa da Reuters.
O risco fiscal, aliás, é o mais relevante para a estabilidade nos próximos três anos na visão das instituições financeiras, informou durante a tarde o Banco Central. Realizada de 29 de julho a 12 de agosto, a Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF) indicou que 41 das 100 instituições consultadas apontam os riscos fiscais como os mais importantes. No levantamento anterior, de maio, foram 27 de 100 instituições.
Entre os DIs de curtíssimo prazo, as taxas demonstraram maior acomodação nesta quinta-feira, mas ainda assim refletiram redução das apostas de que o BC subirá a Selic em 50 pontos-base este mês. Atualmente a Selic está em 10,50% ao ano.
Em evento durante a tarde, o diretor de Política Monetária do BC, Diogo Guillen, reforçou que a autarquia precisa conduzir a política monetária de forma a levar as expectativas de inflação de volta ao centro da meta de 3%, acrescentando que elas continuam desancoradas.
Questionado sobre indicações recentes do presidente do BC, Roberto Campos Neto, de que o começo da alta da taxa básica Selic seria “gradual”, Guillen disse ser normal que o gradualismo ocorra em inícios de ciclos. Ao mesmo tempo, pontuou que a comunicação mais recente do BC traz indicação de um início gradual de um novo ciclo.
No mercado, uma das leituras das declarações de Campos Neto e de Guillen é a de que a probabilidade maior é de alta de 25 pontos-base da Selic em setembro.
Perto do fechamento a curva precificava 90% de probabilidade de alta de 25 pontos-base e 10% de chance de aumento de 50 pontos-base. Na véspera os percentuais eram de 78% e 22%, respectivamente.
No exterior, a expectativa agora recai na divulgação do relatório “payroll” sobre o mercado de trabalho dos EUA na manhã de sexta-feira. No fim da tarde os yields seguiam em queda firme.
Às 16h37 o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 4 pontos-base, a 3,733%.