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    Entenda como a alta da taxa de juros nos EUA impacta a economia brasileira

    Federal Reserve subiu os juros no país pela primeira vez desde 2018, o que deve fortalecer o dólar ante outras moedas

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business em São Paulo

    O anúncio do Federal Reserve nesta quarta-feira (16) sobre a primeira alta de juros nos Estados Unidos desde 2018, de 0,25 ponto percentual, deve trazer como principal consequência à economia brasileira, e mundial, um fortalecimento do dólar em relação a outras moedas.

    A alta, com a taxa de juros agora no intervalo de 0,25% a 0,50% ao ano, foi justificada pela autarquia devido à necessidade de combater a inflação nos Estados Unidos, que atingiu o maior patamar dos últimos 40 anos. Não é um cenário diferente do brasileiro, mas o Banco Central daqui iniciou o ciclo de alta de juros antes, em março de 2021.

    Mas uma única alta pelo BC norte-americano não será suficiente para resolver o problema. O Fed indiciou em comunicado que espera que a taxa de juros termine 2022 entre 1,75% e 2% ao ano, e que continue a subir em 2023, o que deve reforçar ainda mais as vantagens para o dólar.

    Dólar e real

    Os títulos emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos já são tradicionalmente atrativos para os investidores porque são vistos como seguros e ligados à maior economia mundial. Quando os juros sobem no país, eles se tornam ainda mais vantajosos, o que estimula um fluxo de investimento para eles.

    É esse fluxo que faz com que o dólar se fortaleça, e se valorize, em relação a diversas moedas, em especial a de mercados emergentes, como o brasileiro, que sofrem com a debandada dos investidores.

    Por causa disso, uma consequência comum de juros mais alto nos EUA é a valorização do dólar ante o real. No dia a dia, isso encarece principalmente o preço de produtos importados, de commodities a itens de alta tecnologia. Mas o movimento também pode afetar outros tipos de produtos, cuja produção demanda importados.

    No caso do petróleo, por exemplo, se a moeda está valorizada ante o real, o preço da commodity —sempre negociado em dólares no exterior—, e dos combustíveis, tendem a subir, e como o Brasil é bastante dependente do transporte rodoviário, os custos maiores levam a altas em uma série de produtos, mesmo que eles sejam produzidos internamente.

    A consequência acaba sendo uma alta da inflação, que já se encontra em níveis elevados no Brasil, acima de 10% no acumulado em 12 meses. Foi o que ocorreu em 2021, quando o dólar subiu e tocou os R$ 5,80 devido à percepção de riscos fiscais no país, piorando o quadro econômico. Entretanto, desta vez o impacto pode acabar sendo suavizado.

    O real entrou em uma tendência de valorização ante o dólar no início de 2022, partindo de patamares acima de R$ 5,50 para a casa dos R$ 5,10 e R$ 5. Esse movimento está ligado à saída de investidores das bolsas de valores norte-americanas exatamente devido à perspectiva de alta de juros.

    Em busca de boas oportunidades, eles migraram para mercados vistos como baratos e ligados a produtos cujos preços têm subido, as commodities, caso do Brasil. O fluxo para o mercado brasileiro foi reforçado por outro elemento importante, os juros altos, acima dos 10%.

    A atração tende a se manter em algum nível porque o Banco Central já sinalizou que não vai encerrar o ciclo de alta da taxa Selic tão cedo, e o mercado espera que ela termine o ano em 13% ao ano devido às novas pressões inflacionárias com a guerra na Ucrânia.

    Com uma diferença grande entre os juros brasileiro e norte-americano, os investidores podem sair em quantidade menor, e até continuar entrando, o que ajudaria o real a manter a tendência de valorização ou o patamar atual.

    Futuro incerto

    Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, afirma ainda que, por ser um movimento esperado, a alta de juros já está “precificada”, no jargão do mercado, ou seja, já foi levada em conta nas decisões de investimentos. Se o Fed seguir o esperado, pouco tende a mudar nas tendências que ocorrem atualmente na bolsa brasileira e no dólar.

    André Perfeito, economista-chefe da Necton, afirma que o real ainda tem espaço para valorização, mas que a decisão do Federal Reserve de não cortar na reunião de março os programas de incentivo à economia estabelecidos durante a pandemia pode gerar ruídos que prejudicariam o real.

    “A decisão não agradou os investidores, e deve reforçar o sentimento que será necessário mais altas de juros por lá”, diz. Se a expectativa é a de que os juros subam mais, o dólar tende a avançar também.

    Outro problema é a guerra na Ucrânia, um tipo de evento que aumenta a aversão a investimentos vistos como arriscados, e incentiva a busca por ativos considerados mais seguros, caso do dólar. Qualquer novidade negativa sobre o conflito, combinada ao novo ciclo de alta de juros nos Estados Unidos, pode prejudicar o real.

    A união de juros altos no Brasil e nos Estados Unidos e da aversão a riscos com a guerra também é negativa para a bolsa de valores brasileira. Há o risco de uma saída de investimentos, com uma migração para a renda fixa dos dois países, o que prejudicaria as empresas listadas.

    Será preciso levar em conta, também, os preços das commodities. Se tensões como a guerra na Ucrânia e o descompasso entre demanda e oferta fizerem os preços subirem muito, mesmo um real mais valorizado pode não ser o suficiente para equilibrar as altas, piorando o quadro de inflação.

    Mas se o contrário ocorrer, com a guerra sendo solucionada pacificamente, a aversão a riscos reduzir e o Fed ter uma atuação em linha com o esperado ou até mais suave, o Brasil pode acabar sendo beneficiado pela manutenção do fluxo atual de investimentos.

    Patricia Palomo, gestora de recursos e conselheira da Planejar, avalia que é difícil garantir hoje o comportamento da moeda. “O dólar é um recurso volátil, fluído. Os estrangeiros querem assimetrias, não é uma aposta no Brasil. Se outro lugar mostrar assimetria, vão migrar para lá”.

    *Com informações de Pedro Zanatta, do CNN Brasil Business

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