Dólar vai continuar a R$ 6 no curto e médio prazo? Especialistas explicam
Moeda bateu patamar histórico e fechou em R$ 6,0766 nesta sexta-feira (6), com mercado reagindo aos dados do payroll
A forte alta do dólar nos últimos dias deixou os investidores com incertezas sobre as perspectivas para a variação cambial nos próximos meses. O movimento recente foi impulsionado, no cenário doméstico, pelo anúncio do novo pacote fiscal do governo.
No âmbito internacional, a escalada foi levada por dados norte-americanos e as expectativas sobre as políticas protecionistas de Donald Trump.
Por conta disso, Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo, avalia que a cotação do dólar pode seguir acima dos R$ 6 no curto e médio prazo.
“A razão para isso, primeiro na parte global, é a aproximação da posse do novo governo dos EUA em janeiro. Então, o mercado vai continuar com uma tendência do dólar ficar mais forte frente às demais moedas, principalmente as moedas emergentes”, diz o economista.
“No caso, Brasil e México acabam sofrendo na parte de prever eventuais impactos de tarifas e medidas econômicas que possam ser tomadas pelo novo governo a partir de janeiro”, conclui.
No último Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (2), o mercado elevou a expectativa para o dólar em 2025, de R$ 5,55 para R$ 5,60. Há quatro semanas, a perspectiva era da moeda a R$ 5,43 no próximo ano.
A pouca clareza do pacote fiscal no Brasil, segundo especialistas consultados pelo CNN Money, deixou o humor dos mercados instáveis, desfavorecendo o risco-país e, consequentemente, o dólar nas últimas sessões. A moeda atingiu patamares históricos, fechando a R$ 6,0766 nesta sexta-feira (6).
Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, aponta que a tendência é o dólar continuar pressionado, dado o “spread que o governo vem apresentando em relação às reformas de contenção de gastos”.
No cenário internacional, Avallone enxerga a volta de Donald Trump como uma possível ameaça ao cenário cambial no Brasil.
“A política de Trump tende a pressionar inflação lá fora, e aí pode reduzir expectativas de corte de juros americano. Fora isso, as estratégias de Trump são mais agressivas. Vai ocorrer sobretaxas nas importações do Canadá, México, da China, já que ele tem essa tendência de protecionismo da indústria americana, e isso acaba gerando uma guerra comercial que fortalece sua economia, uma vez que as demais não são tão fortes quanto a dos EUA”, explicou.
Assim como Avallone, Luciano Costa destacou que o mercado se decepcionou com o novo pacote de medidas anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, juntamente com a isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil – o que aumentou muito a percepção de risco dos investidores.
“No curto prazo, a gente não vê muita expectativa de valorização do câmbio. No médio prazo, ao longo do ano que vem, com as dúvidas dos EUA passando, e com a definição do pacote de medidas, a gente pode ter um câmbio um pouco mais pressionado, mas a gente não espera grande valorização. Achamos que vai flutuar em torno de 5,90 e 6,10”, afirmou Costa.
O economista-chefe da Monte Bravo ainda alertou que se eventualmente o governo perder alguma votação no Congresso para aprovar as medidas anunciadas, o mercado deve passar por novas rodadas de tensão na dinâmica do câmbio.
Para Julio Hegedus Netto, economista da ConfianceTec, os agentes econômicos sentiram falta de consistência no pacote fiscal. “A gente não viu nesse pacote nenhuma medida realmente de corte efetivo, mas sim promessa de redução do ritmo de crescimento das despesas”, disse Netto.
Em relação ao cenário externo, Netto destacou que o relatório de emprego norte-americano payroll – anunciado nesta sexta pelo Escritório de Estatísticas do Trabalho dos EUA – veio dentro do esperado.
“Foram criadas 227 mil vagas, taxa de desemprego foi para 4,2%. Assim, o payroll de novembro não muda nada em relação ao corte de juros nos EUA”, disse o economista da ConfianceTec.
“Qual a influência disso no câmbio? A influência é direta. A arbitragem dos juros é feita nos mercados. Se os juros vão continuar caindo nos EUA e vão subir no Brasil, é uma tendência de apreciação cambial [alta do dólar frente ao real]”, explicou Netto.