Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Dólar a R$ 5,14: saiba se é hora de comprar a moeda norte-americana

    Para analistas, dólar pode cair mais em 2022 apesar das eleições brasileiras e da tensão na Ucrânia; recomendação é fracionar compra

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business , em São Paulo

    O real reverteu o cenário de 2021 e já é a moeda que mais se valorizou ante o dólar em 2022, subindo 7,5%, segundo a plataforma Refinitiv. Desde janeiro, a moeda norte-americana se distanciou dos patamares do ano passado, e encerrou esta sexta-feira (18) negociada a R$ 5,14.

    Com essa mudança de trajetória, a pergunta que surge é se está na hora de comprar a moeda. E, se comprar agora, há risco de perder uma oportunidade melhor no futuro?

    Antes das respostas, os especialistas consultados pelo CNN Brasil Business dizem que é preciso ter cuidado, e nunca fazer uma compra de determinada quantidade de moeda estrangeira de uma vez.

    Considerando isso, o momento é favorável, e as causas por trás dessa alta não dão sinais de desaparecimento no curto prazo, o que pode favorecer desde investidores interessados na moeda até quem pretende viajar para o exterior.

    “O câmbio é muito influenciado pelo fluxo de recursos, ele é o preço relativo entre duas moedas. O fluxo agora está apreciando o real, está entrando mais dólar do que saindo”, diz Patricia Palomo, diretora de investimentos da Sonata.

    O cenário é bem diferente do ano passado, quando temores sobre os gastos do governo federal fizeram o dólar chegar a R$ 5,75.

    Os motivos por trás da desvalorização

    Para Palomo, a queda do dólar está ligada a “assimetrias” que os investidores estrangeiros identificaram, e que tornaram o mercado brasileiro mais atrativo do que outros, em especial o norte-americano.

    Nos Estados Unidos, os investidores já migram das bolsas, antecipando altas de juros previstas para este ano devido à inflação elevada no país.

    Segundo Palomo, o fluxo de entrada de dólar vem “da parte financeira”, ou seja, da entrada de investimentos estrangeiros em ações ou carteiras no Brasil.

    Palomo aponta duas assimetrias principais. “No Brasil, a taxa de juros, a Selic, saiu de 2% para os dois dígitos em 2021, com expectativa de mais altas. E as empresas, em especial as maiores, blue chips, estão muito descontadas”.

    O desconto nessas empresas se intensifica quando a avaliação é feita em dólar, devido à valorização da moeda em 2021. Ao mesmo tempo, a fuga de capital interna para a renda fixa, com a alta de juros, desvalorizou as ações delas ainda mais. Não à toa, a queda do dólar ocorre ao mesmo tempo em que o Ibovespa sobe, puxado pelo capital estrangeiro.

    André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, cita outra vantagem brasileira, o peso grande das empresas de commodities na bolsa de valores. “O preço das commodities continua em um patamar adequado, como petróleo, minério de ferro, alimentos”.

    Isso torna empresas ligadas a esses produtos atrativas para os investidores, favorecendo a entrada de capital. Com o Brasil, as moedas que mais valorizaram em 2022 foram as de outros grandes produtores de commodities, caso do Chile e da África do Sul.

    Além disso, ele avalia que o mercado já precificou o risco fiscal do governo federal, e que já “houve um estouro” de seus efeitos no dólar. “A situação fiscal não está mais simples, mas tudo já foi meio que precificado, e o dólar tem espaço para se movimentar agora, com uma perspectiva mais positiva para o Brasil”, diz.

    A queda do dólar vai continuar?

    Para Perfeito, os fatores que fizeram o real ganhar força devem continuar ao longo de 2022, com o impulso de novas altas dos juros pelo Banco Central, como apontam as previsões de analistas. O país tem a maior taxa de juros real do mundo, segundo levantamento da Infinity Asset, e isso não deve mudar tão cedo, com alguns analistas estimando a Selic em 12,75%.

    Mesmo assim, ele avalia que o primeiro semestre deve ser mais vantajoso para o real que o segundo. O primeiro motivo para isso são as eleições. O economista diz que “dentre os principais candidatos, ninguém imagina alterações substanciais de questões macroeconômicas, seja pela independência do Banco Central ou pela necessidade de reorganizar a parte fiscal”. 

    Mas Perfeito adverte que, surpresas não podem ser descartadas nas eleições brasileiras, conhecidas pela imprevisibilidade. E qualquer surpresa pode acabar respingando no dólar, como pressão de alta.

    Outro fator que demanda atenção é a perspectiva de Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, elevar os juros por lá. Segundo Perfeito, porém, “o Fed vai ter um processo mais suave que o mercado está esperando”.

    “Estamos no auge da inflação, e acredito que o mercado esteja buscando uma desculpa para realizar lucros, o que faz sentido porque já subiu bastante”, diz. Na avaliação do economista, mesmo com altas, os fatores que favorecem o real devem pesar mais.

    A tensão na Ucrânia é outro fator a ser observado. Caso a situação evolua para um conflito, Perfeito avalia que pode haver efeito na inflação brasileira, devido ao impacto no preço de commodities.

    “Por outro lado, commodities subirem não é necessariamente ruim para o Brasil. Se tiver guerra, os investidores vão correr para os EUA e títulos deles, e os juros lá podem acabar não subindo tanto. [O cenário de conflito] É neutro para levemente positivo para o Brasil”, afirma.

    Já Palomo afirma que, conforme o fluxo de investimentos se volta para o real e o Brasil, as “assimetrias” que atraem os investidores tendem a reduzir, afetando também a atratividade dos ativos, o que também deve ocorrer quando as grandes economias elevarem os seus próprios juros.

    “Se o fluxo continua, a pressão de valorização continua, mas quanto mais as assimetrias forem corrigidas, o movimento vai perdendo força. A balança comercial pode começar a ajudar, com as exportações superando as importações, e isso dá um novo impulso para o movimento”, diz.

    A dificuldade, segundo ela, são as surpresas ou ruídos, que podem surgir tanto no cenário doméstico —com a corrida eleitoral e a pressão política por mais gastos no governo— quanto no externo, com a questão ucraniana.

    “São fatores que contaminam o câmbio no curto prazo. É difícil prever, mas eles são passageiros, e aí volta ao fluxo. Se o fluxo for favorável ao real, continuará subindo”, afirma.

    O dólar, lembra a diretora de investimentos, “é um recurso volátil, fluído. Os estrangeiros querem assimetrias, não é uma aposta no Brasil. Se outro lugar mostrar assimetria, vão migrar para lá”.

    É hora de comprar?

    Para Palomo, a decisão de comprar a moeda norte-americana deve levar em conta se a aquisição faz sentido no momento.

    “Se tem viagem programada, quer internacionalizar patrimônio, faz sentido, mas a orientação é comprar aos poucos. É sempre difícil acertar o melhor momento, se acertar bons momentos, ótimo, e esse parece ser um deles”, diz.

    Ou seja, o ideal é sempre dividir o valor buscado em frações menores, e fazer as compras de acordo com a valorização do real —ou a manutenção desse patamar favorável. Essa estratégia aumenta as chances de acertar o “bom momento de compra”, com “a constância sendo melhor que o timing”.

    Perfeito afirma também que a compra agora “vale a pena, mas sempre tem risco de o câmbio valorizar mais, de o real subir. Pode ir comprando aos poucos para ter uma média boa”.

    Mesmo considerando que o primeiro semestre seja melhor para o real do que o segundo, o economista vê o dólar hoje “mais com cara de R$ 5 em 2022 do que R$ 6”, o que indica um ambiente mais favorável para os interessados na moeda neste ano —seja para investimento ou para viagem.

    Tópicos