Brasil está vivendo a tempestade perfeita, diz ex-ministro sobre a inflação
Mailson da Nóbrega, que comandou a Fazenda no governo Sarney, avalia o cenário atual
As condições econômicas do cenário atual fazem o Brasil ver a inflação subir, e o país não ter boas perspectivas para 2022, avalia o economista Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda no governo Sarney, em entrevista à CNN neste sábado (9).
“Vamos enfrentar em 2022 uma situação de baixo crescimento com inflação alta, mas ainda não é uma estagnação com inflação. O Brasil está vivendo a tempestade perfeita nesse campo: vários custos vindo do exterior, o aumento das commodities, inclusive do petróleo, o aumento dos fretes, o problema de escassez que aumenta preços de matérias-primas, partes, peças e componentes em todo o mundo, a disrupção da cadeia de suprimentos por conta da pandemia, uma conjugação ampla. No Brasil temos uma seca e uma geada que afetaram colheitas importantes, que afetaram os preços. E a crise hídrica, que tem impactado a conta de luz, que afeta preços industriais também”, enumera.
E não é só isso, prossegue. “Tem algo inédito acontecendo: quando há aumento do preço de commodities que o Brasil exporta, entra mais dinheiro no país, melhora a confiança e há uma valorização cambial, o dólar cai. Dessa vez subiu, por causa de dois elementos não comuns: o risco fiscal, percebido como muito grave, e a instabilidade política provocada pelas intervenções do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que gera um ambiente de incertezas que afeta o câmbio.”
Nóbrega diz quais as projeções para 2022. “Provavelmente o crescimento vai declinar muito no próximo ano, vamos cair na mediocridade do potencial de crescimento da economia. O potencial de crescimento do país em anos normais é por volta de 2%. No próximo ano o crescimento será muito baixo. Nossa projeção nesse momento, e somos os mais otimistas, é de 1,8%, e nada pode ser feito para melhorar isso.”
Ele tranquiliza, no entanto, quem pensa numa volta de índices de inflação estratosféricos, como os das décadas de 1980 e 1990. “Naquela época era muito diferente, o país tinha indexação diária de índices, de produtos. A inflação chegou a crescer 80% ao mês. Havia uma inércia forte. A cada choque de preços a inflação mudava de patamar, hoje não. Estamos muito longe desse processo. Não há nenhum risco de o Brasil voltar àquela situação do final dos anos 80 e começo dos 90, felizmente.”