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    Mantega no comando da Vale seria “desastroso”, diz mercado

    Analistas ouvidos pela CNN avaliam como “improvável” substituição por ex-ministro da Fazenda das gestões Lula e Dilma, já que governo é minoritário no Conselho de Administração da empresa

    Da CNN*

    São Paulo

    Especialistas consultados pela CNN veem como “improvável” cenário em que Guido Mantega assuma a presidência da Vale. Contudo, caso se concretize, o fato seria “desastroso”, indicam esses analistas de mercado.

    O mandato do atual CEO, Eduardo Bartolomeo, termina em maio de 2024. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo auxiliares diretos informaram à CNN, não quer esperar e deseja substituí-lo por Mantega. Assessores presidenciais afirmam que seria uma indicação pessoal.

    A CNN procurou a Vale e Guido Mantega para que comentassem o assunto. A Vale afirmou que não vai comentar. O ex-ministro não respondeu aos contatos da CNN.

    Na avaliação do economista Pedro Paulo Silveira, mesmo que o governo se movimente na direção de emplacar Mantega no comando da Vale, não deve haver espaço para a mudança.

    O presidente da Vale é eleito por um Conselho Administrativo, formado por 13 integrantes. Atualmente, conforme dados da Vale, o governo possui 8,72% das ações da empresa, por meio da Previ — fundo de pensão brasileiro dos funcionários do Banco do Brasil. A Mistui (holding japonesa) tem 6,31%, a Blackrock (empresa de investimentos norte-americana), 6,10%, e as demais acionistas não chegam a 5%.

    Com isso, o governo tem 2 dos 13membros no Conselho de Administração da empresa, que elege o presidente: são eles Daniel Andre Stieler e João Luiz Fukunaga (que comanda a Previ).

    Para eleger Mantega, o governo teria que convencer outros dos oito membros a aderirem à ideia. Entre estes quadros estão membros independentes e ligados ao mercado.

    Para Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimentos, “é pouco provável que os outros acionistas se animem em ter ele [Mantega] como CEO”.

    Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, avalia que Mantega no comando da mineradora causaria “muito constrangimento”. “A entrada do Guido Mantega na Vale causaria muito constrangimento para o governo nessa troca. Um novo presidente da Vale sempre tem um viés político, o político sempre pesa, mas o nome de Guido Mantega é muito ruim para o mercado e a gente veria péssimos indicativos do governo em cima da Vale.”

    Para Costa, a sinalização de um político em uma empresa privada de controle misto traria incerteza dentro de todas as outras empresas com participação do governo. “Seria muito difícil de ver as ações da Vale performando frente a esse dia do anúncio, seria algo totalmente inesperado frente ao que o mercado hoje trabalha. Se isso acontecer, que seria em 2024, traria, com certeza, no dia seguinte a esse anúncio, uma derrubada das ações.”

    Interferência e sinalização ao mercado

    Caso o cenário se concretize, porém, iria configurar “uma interferência brutal” em uma empresa privada — segundo Conte.

    “O Mantega não tem experiência nenhuma no setor de mineração. Isso não vai agregar absolutamente nada à empresa. Ele tem outras experiências e é respeitado, mas essa não é a expertise dele”, indica.

    Pedro Paulo Silveira reitera a falta de experiência de Mantega no setor privado e descreve suas participações na vida pública como “desastrosa”. Ele foi ministro da Fazenda de 2006 a 2015.

    Para o especialista, essa é uma tentativa de “fazer política industrial com uma empresa” pública, o que envia uma sinalização negativa para o mercado financeiro.

    O diretor da Nova Futura Investimento indica ainda que a possível indicação é uma demonstração da “fidelidade” do PT para com o quadro. Conde reitera a visão ao afirmar que o movimento “seria um prêmio de consolação a Mantega, que não tem cargo no governo”.

    Acionistas privados rejeitam troca por Mantega

    Acionistas privados da Vale não veem com bons olhos o movimento de adiantar a troca e não avaliam bem o nome do ex-ministro, segundo a apuração do diretor editorial da CNN em Brasília, Daniel Rittner.

    A CNN ouviu reservadamente, na quinta-feira (27), três acionistas com participação societária relevante na Vale. Para eles, a tentativa de interromper bruscamente o mandato de Bartolomeo fere boas práticas de governança da empresa e criaria ruído desnecessário com investidores internacionais.

    Poderia, ainda segundo esses acionistas, influenciar negativamente o desempenho das ações da Vale.

    Um dos conselheiros disseram à CNN avaliar positivamente a gestão de Bartolomeo e que o processo de sucessão do executivo começará a ser discutido apenas no início de 2024.

    Independentemente do nome, afirma o conselheiro, seria muito ruim, para uma multinacional líder de mercado como a Vale, passar por um processo tumultuado de mudança na presidência — ainda mais com ingerência política.

    Bartolomeo é considerado um executivo distante do PT e de governadores onde a Vale tem operações, segundo políticos ouvidos pela CNN.

    Ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma Rousseff, Mantega tem 74 anos e está inabilitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a exercer cargos na administração pública federal até 2030, por punição envolvendo o caso das pedaladas fiscais.

    (Publicado por Danilo Moliterno. Com informações de Geovanna Hora, da CNN)