Waack: Melhor tarde do que nunca o acordo Mercosul-União Europeia
Diante do que vem aí em termos de disputas entre os super blocos — China versus Estados Unidos —, europeus e sul-americanos estão fazendo a coisa certa; tomara que não seja muito tarde
Antes tarde do que nunca. É o que se pode dizer do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que tem boas chances de ser concluído e anunciado agora, depois de uns 25 anos de negociações. Quando se começou a falar de comércio entre blocos, o mundo era bem diferente do que é hoje.
Naquela época, falava-se de um mundo globalizado no qual predominariam as grandes cadeias produtivas integradas, ligando os grandes blocos do planeta, num ambiente de regras mutuamente acordadas e com certa estabilidade geopolítica.
Como se sabe, grande parte desse cenário está virando de cabeça para baixo. Hoje, fala-se de desglobalização e de fragmentação das cadeias globais. As regras de comércio, por exemplo, estão sendo substituídas por um protecionismo acentuado. Mesmo assim, esse acordo de livre comércio — que soa tão antigo — faz sentido.
O próprio Mercosul foi criado, em parte, como um espelho do que fora, uma vez, o Mercado Comum Europeu, que ajudou a promover uma fase de grande prosperidade nos países daquela região. O acordo contém centenas de regras protegendo este ou aquele produto de ambos os lados. Ele promete beneficiar, em grande medida, o agronegócio brasileiro, embora nem tanto alguns setores industriais.
O acordo seguiu adiante mesmo com a estagnação dentro do Mercosul e a enorme força do protecionismo francês dentro da União Europeia. Mas nada como o medo de que as coisas possam ficar ainda piores, para europeus e sul-americanos, para impulsionar um entendimento que levou tanto tempo para acontecer.
Diante do que vem aí em termos de disputas entre os superblocos — China versus Estados Unidos —, europeus e sul-americanos estão fazendo a coisa certa. Tomara que não seja muito tarde.