Volta do horário de verão não reduziria consumo de energia, diz especialista
À CNN, Roberto Kishinami afirmou, no entanto, que volta pode trazer ‘efeito secundário’ para conter crise
Apesar do apelo dos setores de agronegócio, turismo e restaurantes, um retorno do horário de verão não traria impactos para a redução do consumo total de energia. Esta é a avaliação do especialista em energia e coordenador do Instituto Clima e Sociedade, Roberto Kishinami.
“Do ponto de vista de energia, o horário de verão tem pouco impacto na redução do consumo total. Isso já vinha sendo observado. Não tem tanta eficácia para isso”, afirmou, em entrevista à CNN nesta terça-feira (20).
O especialista contou que a economia de energia ficaria em torno de 1%, número pouco expressivo diante da crise hídrica que atinge o Brasil.
“O que acontece é que houve uma mudança no perfil de demanda de energia, hoje em dia o ar-condicionado, por exemplo, é uma carga importante no consumo residencial, a ligação ocorre quando aumenta a temperatura. Isso faz com que o horário de verão tenha menos efeitos”, explicou.
Mesmo assim, Roberto Kishinami reforçou que, diante da crise, “qualquer redução ajuda”. Ele cita um efeito secundário que um eventual retorno do horário de verão traria.
Segundo ele, há um problema com horário de “pico de energia”, aqueles em que todo mundo aciona aparelhos ao mesmo tempo, como elevadores, iluminação pública.
“O horário de verão para alguns segmentos ajuda, porque desloca as cargas que entram no horário de pico, é um efeito secundário, mas que é importante, não vai reduzir consumo total, mas faz com que a ligação ocorra em horário mais convenientes para o sistema”, reforçou.
Kishinami defendeu ainda que as autoridades brasileiras apostem em campanhas de conscientização da população e planejamento anti-crise de maneira mais eficiente.
“Não usamos a eficiência energética de maneira adequada, só lembramos dela quando está em crise, o correto é aumentar a eficiência fora dela, sabendo que, em algum momento, a energia vai faltar, mais de 60% da energia no Brasil vem de hidrelétricas e as chuvas estão mais imprevisíveis, devido às mudanças climáticas”, justificou.