Valor de PEC do Estouro saiu pior que o esperado, diz Morgan Stanley
Minuta apresentada na véspera pelo vice-presidente eleito é motivo de apreensão nos mercados
O anúncio da minuta da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Estouro, feito nesta quarta-feira pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), “foi pior que o esperado”, escreveu o Morgan Stanley em nota a clientes nesta sexta-feira. A instituição mencionou ainda o discurso feito na véspera pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O discurso de Lula não ajuda, mencionando novamente que o país está pagando juros aos mercados financeiros sem pensar em sua própria população”, disse o banco, acrescentando que a minuta, que agora será discutida no Congresso e está sujeita a alterações, prevê todo o programa de assistência social fora do teto de gastos (R$ 175 bilhões) mais 40% do excesso de arrecadação relativo a 2021 (R$ 22 bilhões adicionais) por tempo indeterminado.
“Não só o valor é maior que o ventilado, mas também a extensão é pior. Além disso, há relatos de que Pérsio Arida e André Resende, dois economistas mais ortodoxos da equipe de transição, não participaram das discussões”, diz.
Segundo o banco, Andre Loes, economista-chefe da instituição, calcula que o projeto de lei como está adiciona cerca de 5 pontos percentuais na relação entre dívida e PIB em 4 anos, em relação ao que tinha anteriormente.
O banco diz ainda que “a falta de forte oposição ao projeto de lei é alarmante. Não há um único parlamentar batendo na mesa tentando se opor, a não ser talvez Ciro Nogueira no fim de semana alegando que ‘precisa haver discussões’, o que é indiscutivelmente brando”.
A única oposição ao projeto, ressalta a instituição, tem sido o mercado financeiro. O Ibovespa abriu em queda de mais de 2% nesta quinta-feira e o dólar ultrapassou R$ 5,50, refletindo, com o mercado reagindo ao discurso de Lula e o anúncio da minuta.
Os juros futuros também reagiam de forma negativa, com os contratos para janeiro de 2025 e 2027 subindo mais 70 pontos-base hoje depois da alta de ontem, quando as taxas sinalizaram expectativa de que o Banco Central não consiga começar a redução da Selic em meados do ano que vem. Ao contrário, aumenta a chance de o Copom voltar a subir a taxa para se antecipar aos efeitos que o descontrole fiscal vai provocar na inflação.
“O backstop precisa ser mercados. Não é nenhuma surpresa que o mercado basicamente apagou qualquer corte de taxa de juros da curva e agora está adicionando alguns aumentos. Roberto Campos, presidente do BCB, tem falado que o fiscal é crucial para o ciclo de flexibilização e estamos vendo exatamente o oposto da disciplina fiscal. O movimento na curva de taxas é impressionante”, diz o Morgan Stanley em nota.
“A NTNb de 2050 atingiu 7% em 2015 (é 6,2% agora), mas sem dúvida as taxas reais dos EUA de 10 anos estavam em zero, contra 1,4% agora, então parece que pode haver mais queda nos preços dos ativos, desde que a política teste a paciência dos mercados.”, completa a instituição.
*Publicado por Ligia Tuon