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    Um euro vale US$ 1 pela 1ª vez em 20 anos: entenda como moedas atingiram paridade

    Movimento indica leitura de fraqueza da economia europeia pelo mercado, mesmo com risco de recessão nos EUA

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business em São Paulo

    O euro atingiu uma paridade em relação ao dólar por alguns momentos nesta terça-feira (12). Foi a primeira vez que o valor das duas moedas se igualou, mas o evento inédito não deve ter consequências práticas para o Brasil.

    Ao CNN Brasil Business, especialistas afirma que a marca é mais simbólica, representando a visão do mercado de que, neste momento, a economia da zona do euro está mais fraca que a dos Estados Unidos.

    Atualmente com 19 países, e em breve 20 após a aprovação da adesão da Croácia, a zona do euro tem como ponto comum uma mesma moeda, que passou a circular fisicamente em 2002 após o lançamento em 1999.

    Desde então, o euro passou duas décadas com uma cotação levemente superior à do dólar, o que também ocorreu no Brasil considerando as cotações em relação ao real.

    A novidade internacional, porém, pode levar com que as duas moedas tenham, também de forma inédita, a mesma cotação em relação ao real, mas ainda não há uma certeza que esse movimento ocorrerá, e o euro segue valendo mais no Brasil que o dólar.

    Causas

    A paridade entre as moedas, segundo André Perfeito, economista-chefe da Necton da Investimentos, está ligada tanto a questões conjunturais, de curto prazo, quanto estruturais de cada economia.

    Dentre os fatores conjunturais, ele cita a perspectiva mais negativa para as economias europeias devido à guerra na Ucrânia, que ocorre no próprio continente, tornando o local menos atraente para investidores e com uma retirada de capital, consequentemente desvalorizando o euro.

    Além disso, ele ressalta que os Estados Unidos já iniciaram um processo de alta de juros, “mais decidido e forte”, para combater a inflação, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) apenas sinalizou que pretende subir suas taxas. Com um diferencial maior de juros, o dólar acaba sendo mais atraente.

    Do ponto de vista estrutural, o economista afirma que “a Europa como um todo está enfrentando problemas econômicos que não sabem enfrentar direito, e já geram ruídos políticos, tornando a situação no continente menos favorável”.

    Já Thomas Sarkis, economista da Eleven, avalia que os movimentos cambiais costumam refletir o grau de força da economia do país. Quanto mais forte, mais valorizada será a moeda.

    Ou seja, a leitura do mercado é de uma fraqueza da economia europeia, e força da norte-americana.

    “Os Estados Unidos, mesmo próximos de recessão com inflação alta, têm uma economia muito forte, dados de emprego fortes, perspectivas boas para o PIB deste ano, enquanto a zona do euro já vem há anos sofrendo com questões demográficas e baixa capacidade de crescimento”, diz.

    Essas questões, somadas aos problemas da guerra na Ucrânia e a dependência do gás natural russo, geraram uma sensação de fraqueza no mercado, levando à perda ante o dólar.

    Sarkis avalia, porém, que a questão da paridade atua muito mais como uma “barreira psicológica” entre investidores, com pouco efeito prático ao ser atingida.

    O mais importante, diz, é avaliar o fluxo de investimentos, e “se os Estados Unidos continuarem subindo juros e a zona do euro continuar leniente em relação à inflação, preocupada com recessão e mantendo juros baixos, poderíamos ter o euro abaixo do dólar. Hoje, não vejo fundamentos nessa direção”.

    Em geral, a combinação desses elementos torna os Estados Unidos mais positivo em termos relativos, mas Perfeito avalia que a Europa ainda pode reverter o quadro com o tempo, por exemplo subindo juros, contendo a inflação e encerrado a guerra, o que permitiria que o euro voltasse a subir.

    Para ele, a importância da desvalorização do euro é indicar que o projeto em torno da moeda comum “perdeu brilho”. “Uma moeda reflete muitas questões, e agora o euro indica que o projeto europeu se enfraqueceu, ou não está tão forte”.

    O economista da Eleven também aposta em um retorno do euro à média histórica, com leve valorização em relação ao dólar.

    “Por um lado o BCE vai começar a subir juros, e pode acelerar esse processo, e por outro lado os Estados Unidos muito provavelmente vão entrar em recessão no ano que vem, então o euro deve valorizar”, diz.

    E no Brasil?

    Ao trazer o real para a equação, a situação do euro e do dólar ainda está próxima dos últimos 20 anos.

    Apesar da diferença de cotação das duas moedas em relação ao real ter diminuído – na segunda-feira (11) o dólar fechou em R$ 5,37 e o euro em R$ 5,39 – a moeda europeia ainda segue com valor maior que a norte-americana.

    O motivo, segundo Sarkis, é que a cotação em real também leva em conta um “risco adicionado à moeda por ser um país emergente, e aí dá uma diferença”.

    Ele ressalta, porém, que nos últimos meses o real depreciou em relação ao dólar, mais um indício que a moeda norte-americana ganhou terreno em relação às outras, incluindo o euro.

    No caso da moeda europeia, a valorização ante as mínimas no ano entre março e abril foi menor, abrindo margem para essa aproximação com o dólar.

    O economista afirma que isso indica a fraqueza da economia europeia, mas também a grande diferença entre as taxas de juros da zona do euro e do Brasil e a visão de que a economia brasileira está mais forte que o esperado, inclusive com revisões nas projeções de PIB.

    Sarkis acredita que é possível que o euro e o dólar cheguem ao mesmo valor em relação ao real, mas a paridade não traz consequências práticas para o Brasil. “No máximo iguala o valor de exportação para os dois mercados, mas com pouca diferença”.

    Perfeito também não vê desvantagens ou vantagens para o mercado brasileiro com o cenário de paridade, mas observa que o cenário de longo prazo tem se mostrado mais favorável para o Brasil que a Europa.

    “A Europa tende a continuar com alguns problemas no médio e longo prazo, como questões trabalhistas e uma legislação engessada que vão tirando um dinamismo da região, por isso, devemos ver outras regiões crescendo mais”, afirma.

    Uma dessas regiões deve ser o Brasil, que “mesmo com problemas agora, no longo prazo tem uma chance de melhorar mais”. Com isso, o real tende a valorizar em relação ao euro, mais que na comparação com o dólar.

    O economista da Necton acredita que, mesmo que o euro e o dólar atinjam um valor igual em relação ao real, “isso não quer dizer nada por si só”.

    “É um número, mas o que importa é a foto, a história. Em termos relativos, o mercado indica que a Europa piorou em relação aos Estados Unidos, tanto por fatores de curto como de longo prazo. É uma fragilidade em termos relativos, até em relação ao Brasil”.

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