Trabalhadores franceses fazem greve contra aumento de idade de aposentadoria
Reforma da previdência exigirá que cidadãos trabalhem até os 64 anos, sendo atualmente 62


Trens e voos foram cancelados na França, escolas primárias fechadas e milhares de policiais mobilizados enquanto os sindicatos realizavam greves em todo o país para protestar contra o plano do governo de aumentar a idade de aposentadoria para a maioria dos trabalhadores.
Protestos nas principais cidades francesas, incluindo Paris, Marselha, Toulouse, Nantes e Nice, paralisaram os serviços de transporte nesta quinta-feira. A Torre Eiffel foi fechada para visitantes e a rede de energia do país também estava sob tensão.
Oito dos maiores sindicatos convocaram um “primeiro dia de greves e protestos” contra as reformas previdenciárias anunciadas pelo governo do presidente Emmanuel Macron. A legislação exigirá que os cidadãos franceses trabalhem até os 64 anos, dos 62 atuais, para se qualificarem para uma pensão completa do estado.
As linhas de trem em toda a França estavam passando por “severas interrupções”, segundo a autoridade ferroviária francesa SNCF. Linhas de metrô em Paris foram afetadas por fechamentos totais ou parciais, disse a autoridade de transporte da cidade, RATP, no Twitter.
Enquanto isso, a Eurostar cancelou vários voos entre a capital francesa e Londres, segundo seu site, e os voos no aeroporto de Orly, em Paris, foram riscados. Cerca de 200 ônibus levarão os manifestantes a Paris para uma marcha pela cidade no final do dia, disse o chefe do sindicato da CGT, Philippe Martinez, à emissora francesa Public Senat nesta quinta-feira.
A CGT disse que a maioria dos trabalhadores das refinarias da TotalEnergies saiu, interrompendo as entregas de derivados de petróleo. A CNN entrou em contato com a petrolífera para comentar.
Mais de 40% dos professores do ensino fundamental e mais de um terço dos professores do ensino médio estão em greve, de acordo com o Ministério da Educação da França.
O ministro do Interior da França, Gerald Darmanin, disse à estação de rádio francesa RTL na quarta-feira que mais de 10 mil policiais e militares serão mobilizados para os protestos, incluindo 3,5 mil oficiais estacionados em Paris.
Por que as pessoas estão protestando?
As reformas previdenciárias propostas por Macron ocorrem quando os trabalhadores na França, como em outros lugares, estão sendo pressionados pelo aumento nas contas de alimentos e energia. Enfermeiros e motoristas de ambulâncias no Reino Unido também estão em greve na quinta-feira pelos salários e condições de trabalho.
Milhares participaram de manifestações em massa nas ruas de Paris no ano passado protestando contra o custo de vida, e greves de trabalhadores exigindo salários mais altos causaram o esgotamento das bombas de combustível em todo o país há alguns meses.
“Essa reforma cai em um momento de muita raiva, muita frustração, muito cansaço. Na verdade, está chegando no pior momento”, disse o chefe do sindicato CFE-CGC, François Hommeril, à CNN na terça-feira, apontando para a inflação que assolou a Europa este ano após a pandemia de Covid-19 e a invasão russa da Ucrânia.
O governo francês disse que aumentar a idade de aposentadoria é necessário para combater o déficit de fundos de pensão. A França gastou quase 14% do PIB em pensões estatais em 2018, mais do que a maioria dos outros países, conforme a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
Como a França se compara?
O porta-voz do governo, Olivier Veran, disse a jornalistas na quarta-feira que 40% dos trabalhadores franceses poderão se aposentar antes dos 64 anos sob o regime proposto devido a exceções para aqueles que começaram a trabalhar cedo ou que têm empregos fisicamente desgastantes.
“Temos o sistema mais protetor e desenvolvido da Europa [para pensões]”, disse ele. “Mesmo depois das reformas, vamos nos aposentar na França melhor e mais cedo do que em quase todos os países da zona do euro”, acrescentou.
Na Europa e em muitas outras economias desenvolvidas, a idade em que os benefícios de pensão completa são adquiridos é de 65 anos e se aproxima cada vez mais dos 67.
A revisão das pensões tem sido uma questão controversa na França, com protestos de rua interrompendo os esforços de reforma em 1995 e sucessivos governos enfrentando forte resistência às mudanças que acabaram sendo aprovadas em 2004, 2008 e 2010.
Uma tentativa anterior de Macron de renovar o sistema de pensões da França foi recebida com greves nacionais em 2019 antes de ser abandonada devido à pandemia de Covid-19.