Taiwan está se preparando para possível ‘Terceira Guerra Mundial’ cibernética
Especialistas em computação estão atacando deliberadamente os sistemas do governo para ajudá-lo a se defender de possível invasão chinesa
Enquanto a China aumenta a pressão militar sobre Taiwan, a ilha autônoma se prepara para a próxima grande fronteira da guerra: ataques cibernéticos paralisantes.
O chefe de segurança cibernética de Taiwan disse ao CNN Business neste mês que está usando medidas drásticas para proteger o país contra vulnerabilidades tecnológicas, incluindo cerca de duas dúzias de especialistas em computação para atacar deliberadamente os sistemas do governo e ajudá-lo a se defender do que as autoridades taiwanesas estimam ser de 20 a 40 milhões ataques cibernéticos todos os meses.
Taiwan afirma que tem sido capaz de se defender contra a esmagadora maioria dos ataques. As violações bem-sucedidas chegam a centenas, enquanto apenas algumas são o que o governo classifica como “sérias”.
Mas o número enorme, e de onde Taiwan pensa que vem, compeliu o governo a levar a questão a sério, de acordo com Chien Hung-wei, chefe do Departamento de Segurança Cibernética de Taiwan.
“Com base nas ações e metodologia dos atacantes, temos um grau bastante alto de confiança de que muitos ataques se originaram de nosso vizinho”, disse ele ao Business, referindo-se à China continental.
“A operação de nosso governo depende muito da Internet”, disse Chien. “Nossa infraestrutura crítica, como gás, água e eletricidade, é altamente digitalizada, então podemos facilmente ser vítimas se a segurança de nossa rede não for robusta o suficiente.”
Os ataques cibernéticos são uma ameaça global crescente. E, embora a China esteja longe de ser o único país acusado de orquestrar tais ataques, Pequim esta semana está enfrentando intenso escrutínio do Ocidente sobre o assunto.
Na segunda-feira (19), os Estados Unidos, a União Europeia e outros aliados acusaram o Ministério da Segurança do Estado da China de usar “hackers criminosos” para realizar atividades maliciosas em todo o mundo, incluindo uma campanha contra o serviço de e-mail Exchange da Microsoft em março.
O anúncio coordenado ilustrou as prioridades do governo Biden na defesa da segurança cibernética, depois que graves vulnerabilidades foram relatadas em importantes setores americanos, como energia e produção de alimentos.
Chien disse que Taiwan suspeita que hackers apoiados pelo Estado estejam por trás de pelo menos um grande ataque de malware na ilha no ano passado. Em maio de 2020, a CPC Corporation – uma refinaria do governo em Taiwan – foi hackeada e deixada incapaz de processar pagamentos eletrônicos de clientes. O Bureau de Investigação do Ministério da Justiça acusou um grupo de hackers ligado à China de realizar o ataque.
A China negou repetidamente o lançamento de ataques cibernéticos contra Taiwan e outros países. Em um comunicado ao CNN Business, o Ministério das Relações Exteriores classificou as acusações da ilha de “infundadas e puramente maliciosas”. O Escritório de Assuntos de Taiwan da China também criticou as autoridades taiwanesas por usarem ataques cibernéticos para difamar o continente como um “truque habitual” e para desviar o foco do público do recente surto de Covid-19 na ilha.
E depois que a China foi acusada pelo Ocidente no início desta semana de lançar uma campanha massiva de hacking global, o país criticou as alegações como “infundadas”.
“Instamos veementemente os Estados Unidos e seus aliados a pararem de despejar água suja na China em questões de segurança cibernética”, disse Zhao Lijian, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, na terça-feira. “A China se opõe firmemente e reprime ataques cibernéticos de qualquer tipo, quanto mais os incentiva, apóia ou permite que eles sejam indulgentes.”
Tensões com a China
Taiwan e a China continental são governadas separadamente desde o fim da Guerra Civil Chinesa, há mais de 70 anos. Embora o Partido Comunista Chinês nunca tenha governado Taiwan, Pequim considera a ilha uma “parte inseparável” de seu território e tem repetidamente ameaçado usar a força, se necessário, para impedir que declare formalmente sua independência.
Nos últimos anos, a China intensificou sua pressão militar sobre Taiwan. Em junho, o país enviou mais de duas dúzias de aviões de guerra para perto da ilha, o que levou Taiwan a alertar suas defesas aéreas. Esse foi o maior número de aviões de guerra enviados para aquela zona desde que Taiwan começou a manter registros de tais incursões no ano passado.
Pequim também divulgou propaganda militar alertando Taipei para “se preparar para a guerra”, ao estabelecer laços mais fortes com os Estados Unidos. (Os analistas dizem que os voos provavelmente servem a vários propósitos para a China, inclusive como uma demonstração da força das forças armadas do país e como uma forma de obter informações de que precisa para qualquer conflito potencial envolvendo Taiwan.)
Os especialistas expressaram preocupação não apenas com a perspectiva de uma guerra militar, mas também com a guerra cibernética. No início deste mês, a empresa norte-americana de cibersegurança, Recorded Future, alegou que um grupo patrocinado pelo Estado chinês estava visando o Instituto de Pesquisa de Tecnologia Industrial, uma instituição de pesquisa de alta tecnologia de Taiwan.
A Recorded Future disse que descobriu que grupos chineses têm buscado organizações em toda a indústria de semicondutores de Taiwan para obter códigos-fonte, kits de desenvolvimento de software e designs de chips. A empresa baseou suas reivindicações em evidências que compilou usando um método chamado análise de tráfego de rede, ou seja, que examina esse tráfego para detectar ameaças à segurança.
O Escritório de Assuntos de Taiwan da China não respondeu às perguntas sobre essa análise, mas acusou as autoridades taiwanesas de incitar o ódio contra a China e aumentar os conflitos através do Estreito.
*Texto traduzido, clique aqui para ler conteúdo original