Suspensão do veto chinês à carne pode vir antes do fim do ano, prevê consultoria
Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro, consultoria especializada do setor, deu entrevista à CNN nesta terça-feira
Após mais de dois meses de embargo, os envios de carne brasileira para a China devem ser retomados em dezembro, antes do fim do ano, na opinião de Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro, consultoria especializada do setor.
“Eles (os chineses) não têm fôlego para aguentar isso por muto tempo. Por isso, esperamos a retomada mais cedo possível. Acredito que durante ao mês de dezembro, antes do final do ano, já estejamos retomando grande parte dos volumes que iam para lá”, disse em entrevista à CNN nesta terça-feira (23).
Mais cedo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse em entrevista à imprensa esperar que até o fim do ano seja liberada a suspensão de toda carne brasileira para a China.
O país asiático já liberou os pedidos de exportação de carnes que tenham obtido o certificado sanitário antes do dia 4 de setembro, data da suspensão dos envios, feita pelo próprio Ministério após a identificação de casos atípicos de “vaca louca”.
O principal motivo para as exportações não terem sido retomadas até hoje, porém, não está relacionado à questão sanitária, ressalta Nogueira, mas à barganha.
“A carne brasileira subiu muito de preço, assim como em outros lugares do mundo. Estamos registrando pela primeira vez preços de exportação médios do Brasil acima de US$ 5 mil por tonelada. A China sabe que o real está desvalorizado em relação ao dólar, então existe uma queda de braço. Eles querem reduzir o preço de compra”, diz.
Preços no mercado interno
Esse cenário, segundo Nogueira, não favorece o consumidor final no Brasil, como muitos chegaram a questionar, pensando no aumento do produto nas gôndolas.
Isso se dá, primeiro, porque os frigoríficos brasileiros têm um impasse, já que não conseguem vender a mesma proporção dos cortes aqui e lá fora.
“Quando se abate um animal, a maior parte dos cortes fica no mercado interno. O que vai para fora, geralmente, são os miúdos e partes dianteiras. Então os frigoríficos têm que equalizar esses preços entre mercado interno e externo, não pode ceder muito”, diz.
Além disso, segundo ele, o preço de venda da carne dos frigoríficos estava abaixo do de compra do boi no campo e a diferença acaba sendo vista na receita das empresas.
“Os frigoríficos tiram o pé do acelerador, o boi fica estocado, os preços ao produtor caíram entre 14% e 16%, dependendo da região, o que reflete na melhora da margem desses frigoríficos na venda para o mercado interno”, diz.
Nogueira ressalta que, para chegar na gôndola, o processo ainda conta com a comercialização entre o frigorífico e o varejo. “Tem muita gordura para ser queimada nesse processo. A hora que a carne dai desossada e embalada de um frigorífico até chegar na gôndola – operação simplesmente de logística – temos um aumento de 70% no preço”, diz.