Surpresa boa com varejo precisa se espalhar pela economia
Recuperação forte em outros setores e no mercado de trabalho pode evitar recessão tão profunda
O resultado do varejo em maio foi a melhor surpresa positiva desde o início da pandemia. A expectativa média dos economistas era para uma alta de 6%. Veio 14% de crescimento, ou 13,9% para ser mais exata. Ainda falta muito dado para assegurar uma recuperação mais forte da atividade depois do colapso de março e abril. Mesmo assim, o desenho que parece mais acertado para refletir a retomada é o do símbolo da marca Nike, conhecido como “Swoosh”, não de um “V” como gostaria o ministro Paulo Guedes.
“O swoosh sinaliza que a volta vem rápida na saída, mas logo depois entra num platô, sem retornar ao ponto anterior à crise. A razão para essa expectativa, e não para uma volta em ‘V’, é o mercado de trabalho. Nós ainda não vimos o que aconteceu de verdade com emprego porque a estatística não conseguiu ainda refletir isso. Pelas minhas contas, a taxa mais próxima da realidade estaria agora mais perto de 20% do que dos 12% atuais”, disse Victor Candido de Oliveira, economista-chefe da Journey Capital.
A falha estatística a que Victor Candido se refere se dá pela metodologia de cálculo da taxa de desemprego feita pelo IBGE. A Pnad leva em consideração as pessoas que já estão empregadas sobre aquelas que procuram um trabalho ou estão dispostas a trabalhar. O denominador, chamado de taxa de participação, caiu demais desde que a pandemia começou, distorcendo a leitura real.
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“A hora que a taxa de participação aumentar, ou porque acabou o auxílio emergencial ou porque as pessoas voltaram a sair para buscar um emprego com o fim da quarentena, a taxa de desemprego vai subir muito. Infelizmente, temos um setor de serviços com baixíssima produtividade. E esse é o setor mais atingido pela crise. É aqui que o pior vai aparecer”, alerta o economista.
O resultado do varejo surpreende e melhora as perspectivas para o desempenho da economia no ano. Aquela previsão de queda de 9% feita pelo FMI, que assustou muita gente, vai perdendo o sentido e quem espera um tombo mais perto de 5% vai ganhando razão. A surpresa boa com o varejo precisa se espalhar pela economia.
Nesta sexta-feira o IBGE vai divulgar o resultado do setor de serviços em maio. Os economistas esperam mais um baque de dois dígitos, depois da perda recorde de abril de 11,7%. Se o desfecho surpreender positivamente, como vimos agora com comércio, todo mundo vai refazer as contas e melhorar as perspectivas para a recuperação.
Se ela vai ser em forma “swoosh” ou não, ainda é cedo pra dizer. Até porque a interrogação parece ser o símbolo mais realista agora. Quem vai desempatar o jogo de acerto pela forma da retomada do país será o mercado de trabalho. A depender da força do impacto da pandemia na geração de empregos e na manutenção da renda, o Brasil terá um registro mais ou menos traumático da pandemia de 2020.
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