Starbucks vai fechar? Entenda crise que envolve cafeteria em cinco pontos
Companhia entregou documentos à Justiça de São Paulo pedindo proteção para renegociar dívidas e continuar a operação
A SouthRock Capital, dona das marcas Starbucks, TGI Friday’s e Eataly no Brasil, pediu recuperação judicial no último dia 31 de outubro.
A companhia entregou documentos à Justiça de São Paulo com o pedido de proteção para que possa renegociar dívidas e continuar a operação.
A Justiça negou inicialmente o pedido de recuperação judicial e pediu uma perícia dos números da empresa que opera a Starbucks no Brasil.
O juiz Leonardo Fernandes dos Santos, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça de São Paulo, pediu mais detalhes em até sete dias para decidir sobre o processo.
No último dia 7 de novembro, o juiz concedeu tutela de urgência à SouthRock Capital para antecipar os efeitos da recuperação judicial e determinou a suspensão do bloqueio patrimonial do fundo pelos credores concursais.
Entenda o caso da Starbucks em cinco pontos
1 – Por que a SouthRock pediu recuperação judicial?
A crise que desencadeou no pedido de recuperação judicial é resultado de uma junção de fatores, conforme explica a companhia.
Houve uma dívida elevada com prejuízos financeiros, que gerou uma situação em que a operação da empresa ficaria inviável no curto prazo, especialmente diante do tipo de empréstimo que a dona da Starbucks no Brasil realizou nos últimos anos.
Segundo os advogados, as dívidas crescentes e os prejuízos gerados desde a pandemia resultaram em restrição no acesso ao crédito, o que impede a operação normal da empresa.
Outro fator em questão foi o documento de rescisão do acordo de licenciamento do uso da marca Starbucks que, conforme explicam os advogados, foi determinante para o pedido de recuperação judicial.
2 – Qual é a dívida da SouthRock?
A SouthRock declarou uma dívida de R$ 1,8 bilhão no anúncio do seu pedido de recuperação judicial.
Cerca de 80% da dívida da companhia é respaldada por recebíveis das receitas dos restaurantes. Ou seja, os bancos emprestaram com a garantia de que os restaurantes gerariam receita suficiente para pagar a operação – o que não se concretizou.
Nesse tipo de operação, os bancos podem reter os recebíveis – como pagamentos em cartão de crédito nos restaurantes – para pagar automaticamente o empréstimo.
Se isso acontecesse, a operação do grupo seria inviabilizada porque não sobraria dinheiro para pagar funcionários e fornecedores, de acordo com os advogados da SouthRock.
“Na hipótese de efetivação das retenções dos recebíveis que foram objeto de garantia fiduciária, portanto, as requerentes teriam a totalidade de sua receita bruta retida e indisponível, impossibilitando qualquer chance de sua recuperação.”
Ao mesmo tempo, os advogados citam que o grupo tem enfrentado “sérias restrições” para obter capital de giro no sistema bancário, “o que acaba por prejudicar o regular prosseguimento de suas atividades e, também, de seus fornecedores e colaboradores”.
A SouthRock informa que “segue operando a marca Starbucks no Brasil” e está “comprometida em continuar trabalhando em estreita colaboração com seus parceiros comerciais para desenvolver as marcas do seu portfólio no Brasil”.
Em nota à CNN, a empresa diz que “alinhamentos sobre licenças fazem parte do processo de recuperação judicial e são realizados diretamente com esses parceiros”.
No pedido de recuperação judicial, porém, a empresa diz que “a notificação de rescisão (de licenciamento) foi recebida pelas requerentes com absoluta surpresa, uma vez que a relação e as tratativas mantidas entre as partes até então jamais haviam indicado que existiria a possibilidade de rescisão imediata dos Acordos de Licença Starbucks”
3 – A empresa perdeu a licença da Starbucks?
A operadora da SouthRock recebeu uma “Notificação de Rescisão do Acordo de Licenciamento” da sede da Starbucks Corp. em Seattle, nos Estados Unidos, no último dia 13 de outubro.
Sem receber os royalties pelo do uso da marca no Brasil, a multinacional anunciou a rescisão de contrato que permite à SouthRock Capital explorar a marca Starbucks no Brasil. O fim do acordo tinha efeito imediato.
Dois contratos foram suspensos: um de licenciamento da marca no Brasil e outro que concedia à SouthRock Capital o direito de ser o licenciado master Starbucks no país – ou seja, o operador das lojas. As informações constam da documentação entregue pela SouthRock no pedido de recuperação judicial.
Os advogados da SouthRock argumentam que esses contratos “são absolutamente essenciais à manutenção das atividades das requerentes e, consequentemente, à viabilização da reestruturação de seu passivo”.
Quando questionado sobre o não pagamento de royalties pelo uso da marca e o desejo da multinacional de encerrar o acordo de licenciamento no Brasil, o porta-voz informou apenas que não divulga o conteúdo das discussões internas com os operadores licenciados.
4 – As lojas da Starbucks vão fechar no Brasil?
Desde o anúncio do pedido de recuperação judicial, clientes da rede estão relatando que várias unidades da cafeteria não abriram.
A unidade de Ipanema, na Rua Visconde de Pirajá, não abriu as portas na quarta-feira (1), assim como a loja do centro, na Av. Rio Branco, também fechou.
Em São Paulo, a unidade da Av. Paulista no número 900 e a da Alameda Santos estão inoperantes.
A empresa SouthRock, que opera 187 cafeterias no Brasil, além das marcas TGI Friday’s e Eataly no Brasil, pediu recuperação judicial.
Questionada sobre as lojas inoperantes, a marca não confirmou se os fechamentos têm ligação com a situação da companhia.
Veja fotos de estabelecimentos fora de funcionamento:
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5 – A Starbucks vai sair do Brasil?
A Starbucks Coffee Company espera continuar atendendo clientes no Brasil. A afirmação foi feita por um porta-voz da companhia à CNN Brasil após o pedido de recuperação judicial da SouthRock Capital, empresa que opera a marca no Brasil.
Segundo o porta-voz, a Starbucks está ciente da situação do licenciado e reforça o compromisso com o mercado brasileiro.
“A Starbucks está ciente da decisão da SouthRock de reestruturar suas operações comerciais. Queremos reforçar o nosso compromisso com o mercado brasileiro e esperamos continuar atendendo nossos clientes no Brasil”, citou o porta-voz.
Veja também: Juiz pede perícia sobre recuperação judicial da SouthRock
*Publicado por Iasmin Paiva, com informações de Fernando Nakagawa e Diego Mendes