Alexandre Silveira critica “descuido” com gás e diz que não adianta presidente da Petrobras “fechar a cara”
Segundo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o gás tem sido tratado como "subproduto" da indústria do petróleo, enquanto fábricas que usam esse insumo como matéria-prima no processo de produção industrial estão fechando
Em um claro recado à Petrobras, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse nesta sexta-feira (16) que houve “descuido” e “desdém” com a política de gás natural no país.
Segundo ele, o gás tem sido tratado como “subproduto” da indústria do petróleo, enquanto fábricas que usam esse insumo como matéria-prima no processo de produção industrial estão fechando.
Silveira citou especificamente a paralisação das atividades de duas unidades de fertilizantes nitrogenados da Unigel — uma em Sergipe e outra na Bahia.
“São dois mil empregos perdidos por falta de preço e competitividade do gás”, afirmou o ministro, no segundo dia do evento EsferaRJ, promovido pela Esfera Brasil.
Silveira criticou o fato de que cerca de 45% do gás extraído pelas petroleiras no Brasil acaba sendo reinjetado nos poços. Em outros países, esse índice é muito inferior — menos de 13% nos Estados Unidos e 25% na África. “É completamente desproporcional”.
O ministro criticou, então, uma suposta falta de engajamento da Petrobras com a expansão da oferta de gás. “A Petrobras tem que ser uma indutora também do crescimento nacional”, defendeu.
“[O governo Lula] quer uma empresa forte, perene, que dê lucro e distribua dividendos aos acionistas, mas que não perca do horizonte seu papel social, que é, por exemplo, estimular a produção de gás, modernizar as UPGNs (unidades de processamento de gás natural), ampliar as rotas de escoamento para a costa brasileira”.
Silveira bateu de frente com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que participou nesta semana da primeira reunião do Conselho Nacional de Fertilizantes (Confert) e reagiu às críticas.
“Não tem gás sobrando e a Petrobras não sonega gás, o que tem de gás está aí no mercado”, disse Jean Paul.
Após o evento desta sexta-feira, Silveira não se esquivou das divergências: “Entre agradar o Jean Paul e cumprir o compromisso do governo com a sociedade brasileira, de gerar emprego e combater a desigualdade, prefiro que ele feche a cara, mas que nós possamos lograr êxito”.
Procurada pela CNN, a assessoria da Petrobras não fez comentários sobre as declarações de Silveira.