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    Será difícil substituir desistentes, prevê ex-presidente da Petrobras

    Em entrevista à CNN, José Sérgio Gabrielli afirmou que Adriano Pires e Rodolfo Landim, indicados respectivamente para a presidência da Petrobras e do conselho da estatal são competentes e tinham relações com o mercado amplamente conhecidas

    Pedro DuranBeatriz Puenteda CNN no Rio de Janeiro

    Presidente da Petrobras durante quase sete anos da era Lula, o economista José Sérgio Gabrielli disse à CNN que embora discorde das ideias de Adriano Pires e Rodolfo Landim, os dois seriam competentes para assumir respectivamente a presidência da estatal e a presidência do Conselho de Administração.

    Com a desistência dos dois nomes indicados pelo governo federal, Gabrielli prevê que o governo tenha dificuldades para encontrar um novo nome. “Olha, hoje o governo vai ter dificuldade, eu acho que vai ter dificuldade, porque o governo caminhou pra uma política tão pró-mercado e um discurso tão contra a Petrobras que dificilmente ele vai conseguir alguém que em sete meses de governo até o final do mandato de Bolsonaro assumir a direção dessa empresa. Ele vai encontrar alguém, claro que vai encontrar, mas eu não vejo quem nesse momento seria“, afirmou Gabrielli.

    Tanto Landim quanto Pires trocaram cartas com agradecimentos ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que retribuiu com elogios. Nos bastidores, no entanto, a desistência dos indicados para ocupar as duas vagas mais importantes da maior empresa estatal do país no último ano do governo Bolsonaro desencadeou uma corrida contra o tempo. A assembleia para a eleição dos novos conselheiros está marcada para 13 de abril, a próxima quarta-feira.

    O governo não tem dificuldades para emplacar os nomes que sugere porque tem 51% das ações com direito a voto. Mas pra isso, precisa ter os nomes. Landim é engenheiro e presidente do Flamengo. Pires é economista e sócio de uma consultoria de infraestrutura.

    A CNN apurou que, pelo menos no caso de Pires, um conflito de interesses seria alertado aos acionistas após o processo de background check, um trâmite interno que gera um parecer a cada nome indicado.

    Prevendo um revés, Pires recuou e reconheceu que não conseguiria se descompatibilizar do setor privado a tempo. Landim afirmou que precisaria se dedicar mais ao Flamengo, apesar dos rumores de eventuais conflitos de interesse também no caso dele.

    Para Gabrielli, eles não se viram abrindo mão de suas relações com o setor privado para ficar na estatal. “Provavelmente o que a Comissão de Pessoas avaliou e o que os dois avaliaram é que eles não poderiam se desvencilhar das relações que eles já tinham no passado para o futuro. Evidentemente que manter ao mesmo tempo relações com o setor privado e relações com a empresa não é possível, mas o passado não necessariamente condena o futuro. Portanto eu acho que o problema central está em pessoas que não querem, não estão dispostas a isolar o seu relacionamento com o mercado financeiro e se dedicar à condução da empresa”, afirmou o ex-presidente da Petrobras à CNN.

    Gabrielli defende que a privatização da estatal, aventada nos governos Temer e Bolsonaro, seria um ‘desastre’ para o Brasil. Ele diverge da política de PPI, Preço de Paridade Internacional, uma política implementada durante a gestão de Pedro Parente, que comandou a companhia entre 2016 e 2018. Uma ideia defendida por Pires.

    Sérgio Gabrielli
    Sérgio Gabrielli em entrevista à CNN nesta terça-feira (5) / reprodução/CNN

    “Eles são favoráveis à adoção irrestrita da política de paridade dos preços de importação ajustando os preços domésticos o mais rápido possível pra viabilizar a manutenção das importações. Eu acho que não é necessário. Há uma margem de lucro hoje tão grande no setor de petróleo e especialmente no caso da Petrobras que você pode ter uma rentabilidade tão significativa para o acionista e ainda assim não repassar para o consumidor final essa variação de preços internacionais”, afirmou Gabrielli.

    “Portanto não é um problema de competência, os dois [Pires e Landim] conhecem o setor, os dois são profissionais de longa tradição de conhecer o setor, mas tem uma concepção estratégica para a empresa que eu discordo, eu acho equivocada, portanto eu discordaria da indicação deles dois, mas eu não estou no governo, eu não estou na Petrobras e eu não tenho condição de indicar ou não um candidato”, completou ele.

    A CNN tem tentado contato com Pires e Landim, mas até o fechamento dessa reportagem nenhum dos dois responderam às mensagens e ligações.

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