Sem emprego por causa da COVID-19, eles viraram treinadores de videogame
Atividades que complementavam renda se tornaram principal fonte de renda para muitas pessoas; plataformas falam em aumento de até 40% na busca por aulas
Trevor Andrews é um violinista e professor de música de 30 anos que teve suas performances sinfônicas canceladas no final de março, quando o novo coronavírus dizimou a economia dos Estados Unidos. As aulas particulares que ele dava também foram suspensas já que seus clientes reduziram seus gastos.
Este morador de South Portland, no estado norte-americano do Maine, é um jogador ávido que se considera um especialista no game de tiro Apex Legends, no qual esquadrões de três pessoas lutam para ser o último a sobreviver. Então, ele decidiu mudar da música clássica para aulas online de como sobreviver aos tiroteios virtuais que tornaram o jogo um sucesso.
“Sou bom em explicar as coisas. Assim como quando estou praticando violino… Você é sempre autocrítico e sempre descobre o que está fazendo de errado e como melhorar”, disse à CNN. Entusiastas de jogos com experiência em tecnologia estão se tornando treinadores de jogadores de videogame em tempo integral à medida que a pandemia de COVID-19 acaba com milhões de empregos nos EUA.
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Em meio à pandemia, profissionais autônomos buscam alternativas para ter renda
Embora possa parecer incomum, o trabalho de ensinar outras pessoas a melhorar suas habilidades em jogos de videogame já existe há anos e agora está se tornando mais popular já que as pessoas passam mais tempo em casa e online.
Como treinadores em qualquer outra área, os técnicos de videogame ensinam jogadores a serem mais estratégicos e a interagir em games em equipes como League of Legends e Overwatch. Alguns ganharam prêmios em competições e outros simplesmente têm uma boa reputação reforçada pelo boca a boca.
A natureza favorável ao trabalho remoto neste tipo de função também é um dos fatores que a coloca como uma alternativa para quem procura renda.
Andrews estima que recebeu US$ 500 (cerca de R$ 2,6 mil) em março, mas ele espera que esse valor aumente à medida que continua a se promover dentro da comunidade online por meio de plataformas como o Mixer, da Microsoft. Andrews anuncia seu serviço no Fiverr, cobrando US$ 25 (R$ 131) por uma hora e US$ 60 (R$ 314) por três horas de treinamento.
“Para ser honesto, eu deveria cobrar mais. Mas é difícil argumentar com as pessoas que querem comprar esse tipo de coisa por muito tempo. É uma coisa que depende do valor percebido [associado ao custo-benefício de um produto ou serviço]”, disse ele.
Treinadores oferecem seus serviços em plataformas como Fiverr e ProGuides e são contratados por hora pelos clientes que pesquisam em um catálogo on-line. O ProGuides disse que o número de sessões de treinamento adquiridas aumentou 25% em março em comparação a fevereiro. O Fiverr disse que as compras de treinamento com videogame aumentaram 43% em março em comparação ao mês anterior.
O GamerCoach, uma plataforma europeia de jogos, disse à CNN que suas vendas aumentaram 60% desde que as pessoas começaram a ficar em casa, em março. A Gamer Sensei, uma plataforma que verifica as conquistas que os treinadores dizem ter, afirmou que o dinheiro gasto no site aumentou 50% nas últimas duas semanas de março.
“O treinamento em videogame já existia, é claro, mas a pandemia atual criou as condições certas que facilitam sua divulgação”, disse Joost van Dreunen, fundador da New Breukelen, uma empresa de consultoria e investimento especializada em videogames.
“Se todos mundo que você conhece jogar ‘Super Smash Bros.’, você também vai querer aprender a jogar. Passar algumas horas com um treinador para mostrar o caminho começa a fazer sentido”, disse Van Dreunen.
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Tyler Cunningham, de 21 anos, morador de Sacramento, na Califórnia, virou treinador de “Super Smash Bros.” em outra plataforma, o ProGuides, depois de perder o emprego em uma farmácia onde trabalhava como caixa e estoquista.
Cunningham disse que conseguiu substituir sua renda anterior, transformando seu trabalho paralelo com o ProGuides, que ele iniciou no final de novembro de 2019, em um emprego de tempo integral. “A COVID-19, sem dúvida, atraiu mais clientes. À medida que jogadores mais competitivos e casuais ficam presos [em casa] sem adversários qualificados para praticar, o treinamento online se tornou uma resposta muito popular a esse problema”, disse ele.
Rio Spersch, de 27 anos, da Colúmbia Britânica, no Canadá, administra uma empresa que ensina robótica e programas de animação para crianças em centros comunitários próximos às escolas. “É incrível, eu falo sobre videogames e e-sports e recebo por isso”, disse ele.
Spersch disse que perder seus clientes foi um duro golpe para seus negócios e o forçou a procurar alternativas. “Infelizmente, as coisas estão totalmente no ar”, afirmou.
Treinador de videogame por dois anos, Spersch decidiu transformar seu trabalho paralelo em tempo integral em março. Ele disse à CNN que ganhou US$ 1.300 (R$ 6,8 mil) nas últimas três semanas em jogos como Super Smash Bros. e Rocket League, usando Fiverr e GamerSensei. Ele reduziu suas taxas para se adequar às dificuldades financeiras dos clientes.
Alguns clientes ainda veem as aulas de jogos como uma compra fútil, no entanto. E aqueles com dificuldades financeiras podem cortar futuras compras.
Um dos clientes de Spersch, Michael Northrop, de 42 anos, profissional de saúde de Winston-Salem, na Carolina do Norte, disse que passou a ver o valor dos treinamentos em videogame ao longo do tempo. No início, ele disse que zombou da ideia. “Quem vai pagar por isso? Mas depois decidi tentar. Já gastei mais dinheiro com coisas que não valem a pena”, afirmou.
Northrop gastou cerca de US$ 100 (R$ 526) em aulas de Overwatch com Spersch para que pudesse jogar mais facilmente com amigos. O treinamento o ajudou a melhorar quando não conseguia dedicar muitas horas aos jogos devido ao seu emprego em período integral.