Richard Branson, da Virgin, quer ser o primeiro bilionário a viajar ao espaço
O britânico é o único no grupo dos chamados barões do espaço, a turma de bilionários amantes do espaço que inclui Elon Musk e Jeff Bezos, que prometeu viajar
Richard Branson, o bilionário britânico viciado em adrenalina, fundou a Virgin Galactic em 2004 com a promessa de que uma espaçonave desenvolvida de forma privada possibilitaria que centenas de pessoas se tornassem astronautas, sem a necessidade de treinamento da NASA.
E se uma viagem a 4 mil quilômetros por hora até a borda do espaço não parece atraente, o próprio Branson também se comprometeu a fazer a viagem antes de deixar clientes pagantes a bordo.
O britânico é o único no grupo dos chamados barões do espaço, a turma de bilionários amantes do espaço que inclui Elon Musk e Jeff Bezos, que prometeu publicamente dar uma volta em um futuro próximo a bordo de uma espaçonave que ele financiou.
A empresa de Bezos, Blue Origin, está trabalhando em um foguete de turismo espacial suborbital concorrente. Já a SpaceX de Musk está focado no transporte de astronautas e talvez um dia turistas em missões de vários dias até a órbita da Terra.
Ideia antiga
Branson fez dezenas de aparições na mídia na última década anunciando vários prazos para sua viagem extraterrestre que não eram verdadeiros, em parte porque construir uma espaçonave quase sempre leva mais tempo do que o esperado e também porque o desenvolvimento da SpaceShipTwo foi prejudicado por dois trágicos acidentes e, mais recentemente, pela pandemia.
Praticamente todos os anos, desde 2004, a empresa afirma que estaria voando com clientes em um ano ou mais.
Na quinta-feira (5), no entanto, a Virgin Galactic definiu mais um prazo para o voo de Branson: em algum momento entre janeiro e março de 2021.
Curiosamente, essa declaração não veio de Branson. Desta vez, veio de Michael Colglazier, o recém-empossado CEO da Virgin Galactic, cujo objetivo é orientar a empresa à medida que ela cresce, saindo de um projeto de engenharia no deserto da Califórnia para um negócio de turismo espacial multibilionário.
A declaração foi feita quando Colglazier estava falando não com repórteres, mas com investidores da Virgin Galactic que aceitaram a visão de Branson depois que a empresa fez sua estreia no mercado de ações no final de 2019.
(A avaliação da empresa cresceu para US$ 4,5 bilhões, embora ainda esteja queimando mais de US$ 20 milhões por mês enquanto percorre os estágios finais do processo de teste e certificação da SpaceShipTwo.)
Branson tem menos participação financeira no sucesso da Virgin Galactic do que há 16 anos. Ele vendeu cerca de um quarto de suas ações em meio a controvérsias e questões financeiras relacionadas à Covid-19 em sua companhia aérea, a Virgin Atlantic.
Mas a mensagem de Colglazier na quinta-feira deixou claro que Branson, que completou 70 anos este ano, ainda planeja ser o garoto-propaganda do lema da Virgin Galactic de que quase qualquer pessoa pode fazer a jornada com segurança.
É perigoso?
Os defensores dos voos espaciais humanos comercializados há muito argumentam que o perigo (e mesmo a tragédia) não deve suprimir o apetite da humanidade por viajar para o espaço.
A Virgin Galactic experimentou sua primeira tragédia em 2007, quando três pessoas morreram e várias ficaram gravemente feridas durante um teste de motor de foguete conduzido por funcionários da Scaled Composites, parceira de engenharia e fabricação da Virgin Galactic.
A tragédia gerou fortes críticas de especialistas em segurança aeroespacial e levou a uma investigação das autoridades federais, mas a empresa seguiu em frente.
“Infelizmente, acho que, como o programa espacial era administrado por governos, nunca houve qualquer interesse real em permitir que o público fosse ao espaço” após o desastre do ônibus espacial Challenger da NASA em 1986, Branson disse ao “Wall Street Journal” em 2013. “Eu diria que 90% das pessoas da minha idade pensaram que iriam para o espaço porque viram o pouso na lua”.
Um ano depois, a tragédia atingiu a Virgin Galactic novamente. O protótipo do avião espacial da empresa quebrou durante um voo de teste sobre o deserto da Califórnia, matando um copiloto Michael Alsbury, de 39 anos. O bilionário britânico enfrentou alegações de que a Virgin Galactic havia ignorado os avisos de segurança, algo que ele negou.
“Se algum de nossos engenheiros de foguetes avisasse que algo não era seguro, não iríamos”, afirmou Branson à BBC naquela época. “Levamos a segurança muito, muito a sério. Ninguém disse nada de preocupante para a equipe sobre a viagem”.
Em última análise, foi determinado que o erro do piloto causou o acidente. A Virgin Galactic se separou da Scaled Composites, reorganizou seu negócio de fabricação e, em dois anos, tinha uma nova SpaceShipTwo totalmente montada com recursos de segurança adicionais.
Esse veículo, denominado VSS Unity, funcionou perfeitamente em uma missão de teste de 2018. Branson assistiu do solo enquanto a espaçonave gritava a mais de 80 quilômetros acima da superfície da Terra a três vezes a velocidade do som antes de pousar em segurança nas instalações de teste da Virgin Galactic na Califórnia rural, pouco tempo depois.
Outro sucesso foi o voo de teste em 2019 que transportou seu primeiro passageiro, e não era Branson. Foi a chefe de segurança e treinamento da Virgin Galactic, Beth Moses, que testou o conforto da viagem da cabine da espaçonave. Segundo ela, foi uma experiência “intensa”, mas não ‘excessivamente dramática’”.
Pelo menos mais oito funcionários da Virgin Galactic voarão na SpaceShipTwo antes do voo de Branson. A empresa disse que planeja fazer outro teste com apenas dois pilotos neste outono, e outra viagem com dois pilotos e quatro passageiros de teste irá decolar no início de 2021.
Tudo isso terá como objetivo obter o selo de aprovação da Federal Aviation Administration, certificando a SpaceShipTwo para operação comercial.
Branson estará no próximo voo depois disso.
Ainda não está claro se o modelo de negócios da Virgin Galactic (ou qualquer negócio de turismo espacial) pode ser transformado em um algo lucrativo e sustentável.
Mas os executivos da Virgin Galactic reconhecem há anos que seu sucesso ou fracasso dependerá de a empresa convencer ou não o público em geral de que a viagem pode ser não apenas segura, mas vale o alto preço por assento.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês)
Clique aqui para acessar a página do CNN Business no Facebook