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    Números do PIB reforçam previsão de queda de mais de 10% no 2º trimestre

    Especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business afirmam que a queda no 1º tri já era esperada, mas não reflete o que a pandemia causará na economia brasileira

    Paula Bezerra, Matheus Prado, Luísa Melo e André Jankavski, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro recuou 1,5% no primeiro trimestre deste ano, já demonstrando os impactos da pandemia do novo coronavírus. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda de 1,6% do setor de serviços e contração de 2,0% no consumo das famílias estão entre os principais responsáveis pelo recuo do trimestre – motivados, principalmente, pelo isolamento social. 

    O recuo é o pior resultado para o trimestre desde o segundo trimestre de 2015, quando a atividade caiu 2,1%, e interrompe uma sequência de quatro trimestres de crescimento lento. Ainda, segundo o IBGE, a economia voltou a um patamar próximo ao que estava no segundo trimestre de 2012.

    Com a recessão para o ano dada como certa, economistas ouvidos pelo CNN Brasil Business afirmam que a queda já era esperada, mas ainda não reflete, de fato, o que a pandemia causará na economia brasileira. Para grande parte deles, o maior tombo ocorrerá no segundo trimestre, meses em que a quarentena provocou mais estragos para os setores da economia. A previsão é unânime: o recuo será superior a 10%. 

    “É um resultado bem ruim, e, na minha opinião, é indicativo do que vai ocorrer no segundo trimestre”, diz Monica de Bolle, pesquisadora sênior em Washington do Peterson Institute for International Economics, nos Estados Unidos.

    Nas projeções de Gesner Oliveira, sócio-executivo da GO Associados e professor da FGV, o segundo trimestre trará uma queda de 11,7%. Para o economista, nem mesmo o início da reabertura econômica no país, como o anunciado em Goiás, Curitiba e São Paulo, salvará a grande queda para o próximo trimestre.

    “Já estamos praticamente em junho e, mesmo com a volta do comércio, o alcance das vendas não será como antes. Onde houve abertura de shoppings, as vendas ficaram entre 20% a 30% do movimento normal”, explica o economista. 

    Confira, a seguir, a análise de economistas sobre o resultado do PIB: 

    Monica de Bolle, pesquisadora sênior em Washington do Peterson Institute for International Economics, nos Estados Unidos

    A queda foi mais forte do que esperava, considerando que o único mês afetado pela pandemia foi o mês de março. Fraco, muito fraco. Nos resultados abertos, não surpreende o que aconteceu com indústria e serviços, mas o agronegócio foi fraco também. A agricultura, que tem sustentado o PIB no 1º tri, não conseguiu sustentar frente ao que aconteceu com indústria e serviços. Pelo lado da demanda, consumo retraiu muito, fiquei espantada com a retração. 

    A expansão da formação bruta de capital fixo do investimento, que está obviamente relacionada ao crescimento das importações, me fez pensar que a indústria estava fazendo um planejamento de investimento para o ano, e esse quadro já mudou. O que eu leio é que a frente de investimento vai cair muito, porque as importações devem sofrer queda expressiva. 

    A ruptura ocorreu no mês de março e o planejamento anterior já não vale mais. É um resultado bem ruim, e, na minha opinião, é indicativo do que vai ocorrer no segundo trimestre. Um grande aprofundamento dessa queda e sugere que este valor pode realmente ficar muito próximo a dois dígitos. Eu tenho falado em queda de 9%, 10% do PIB em 2020, acho isso altamente provável agora, diante deste resultado.

    Gesner Oliveira, sócio-executivo GO Associados e professor da FGV 

    Os dois primeiros meses do ano estavam bons, vinha em um crescimento razoável, trazendo um cenário de perspectiva de crescimento próximo de 2% – tudo isso com os sinais que tínhamos pré-pandemia. Mas, com a chegada do novo coronavírus, o impacto foi grande. 

    Continuaremos vendo o setor de consumo não durável, dentro desse segmento de alimentos, crescendo. Houve, também, um crescimento forte em comércio eletrônico e uma recuperação lenta de comércio e serviços. Outro ponto importante é que o consumo sairá da quarentena muito mais cauteloso. Um exemplo disso é que onde houve abertura de shoppings, as vendas ficaram 20% a 30% do movimento normal. 

    Para o segundo trimestre, esperamos uma retração de 11,7%. Ainda prevemos queda no terceiro trimestre e, a recuperação, só para o quarto. Com isso, a queda prevista para o PIB anual é de 6,5%.

    Alexandre Ázara, economista-chefe da Mauá Capital

    O PIB veio em linha com o que esperávamos para o primeiro trimestre, mas com ‘abertura’ suregindo uma queda um pouco maior. Explico: consumo caiu 8% anualizado no primeiro trimestre, sugerindo uma queda anualizada ao redor de 30% no segundo trimestre. Tudo isso vem em linha com a nossa projeção. 

    Por isso, mantemos projeção de queda de 6% para o PIB em 2020, com o segundo trimestre caindo entre 12% a 13%. Também não acreditamos que esse tombo mudará a política monetária do país. 

    Marcelo Neri, economista e diretor do FGV Social 

    Considero que a queda foi acima do esperado, porque só capta 15 dias de isolamento. As projeções eram na linha de 1,2%. Mas isso é só o começo da retração. Só para março, tem projeções de queda de 5,3%. E, analisando os dados, vemos que a crise terá impacto social forte. 

    Atingiu muito o setor de serviços, que é o que gera mais emprego e renda. O resultado do segundo trimestre, no entanto, vai incorporar a pandemia por inteiro, sem recortes. 

    Aqui já dá para esperar uma queda mais forte, em torno de 6% do PIB. Não sabemos qual será a duração dessa crise, mas a entrada súbita é o mais impressionante.

    Adolfo Sachsida, secretário de Política Econômica

    “Os dados do segundo trimestre serão negativos e o Brasil entrará em recessão técnica. Serão quatro grandes desafios: o desemprego, o aumento da pobreza, o grande número de falências e a necessidade de um mercado de crédito mais eficiente. Dessa forma, se faz premente a adoção de uma ampla agenda de reformas pró-mercado com especial atenção na manutenção do teto de gastos e em 10 pontos:

    1. Fortalecer o arcabouço de proteção social transferindo recursos de programas ineficientes para programas sociais de comprovada eficiência no combate à pobreza; 2. Melhorar a eficiência das políticas de emprego; 3. Aprimorar a legislação de falências; 4. Fortalecer e desburocratizar o mercado de crédito, de capitais e de garantias; 5. Aprovar o novo marco regulatório do setor de saneamento básico; 6. Aprovar o novo marco regulatório do setor de gás; 7. Abertura comercial; 8. Privatizações e concessões; 9. Reforma tributária; 10. Toda agenda de reformas pró-mercado, tais como a desburocratização, facilidade para abrir empresas e empreender e facilidade de adoção de novas tecnologias.

    Homero Guizzo, analista de macroeconomia da Guide Investimentos

    O PIB veio mais fraco do que eu e o mercado projetávamos. O único componente que teve um desempenho um pouco melhor foi a formação bruta de capital fixo e foi distorcido pelo comércio exterior de plataforma de petróleo. A Petrobras está reimportanto várias das plataformas que ela havia exportado antes, há alguns anos, para obter vantagens fiscais. E isso está distorcendo o dado de investimento bruto no Brasil.

    Acredito que esse resultado vai levar a uma onda de previsões do PIB para o ano todo, que já estavam estavam bem baixas. Nossa estimativa era de queda de 8%, já na ponta pessimista do mercado. Agora, estamos avaliando se faremos revisão para um número ainda mais baixo. 

    Não consigo mensurar o quanto, mas o coronavírus fez um estrago bem grande no primeiro tirmestre. E o fato de as medidas de distanciamento social terem sido tomadas apenas no finalzinho de março nos faz pensar como será o segundo, que será impactado praticamente inteiro. O segmento de serviços terá um desempenho horroroso.

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