Renúncia de Boris Johnson é novo fator de incerteza para o dólar, diz analista
À CNN, Alessandra Ribeiro avalia que fatores domésticos aumentaram pressão para valorização da moeda norte-americana em relação ao real
A renúncia de Boris Johnson nesta quinta-feira (7) ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido é um novo fator de incerteza no “caldeirão” que tem levado à alta recente do dólar ao redor do mundo, segundo a diretora da área de Macroeconomia e Análise setorial da Tendências, Alessandra Ribeiro.
Em entrevista à CNN nesta quinta-feira, Ribeiro afirmou que existem alguns fatores comuns de pressão sobre o dólar em relação às principais moedas de outras economias. O principal é a inflação elevada, que cria a necessidade do banco central dos Estados Unidos ajustar a política monetária para controlá-la.
“Isso necessariamente passa pelo esfriamento da atividade econômica, e é um ambiente que se traduz em alta do dólar em relação às principais moedas”, afirma.
O anúncio feito por Johnson, segundo Ribeiro, gera um receio no mercado sobre como o sistema político do país pode se organizar nos próximos dias. Nesse sentido, há o temor de que o ambiente será de “maior volatilidade, com o parlamentarismo não achando uma solução, e isso gera incerteza, volatilidade, porque tem o risco de não ter um governo sustentável”.
“Ou pode ter um cenário benigno se tiver uma saída positiva com um substituto que seja até mais favorável. São cenários possíveis, mas é mais um elemento de incerteza em um caldeirão de dúvidas que contribuem para a alta do dólar”, explica.
A diretora da Tendências afirma ainda que o atual movimento do dólar tem levado a uma desvalorização do euro, se aproximando de uma paridade com a moeda norte-americana.
O motivo seria a “situação mais complicada da economia da zona do euro” devido à guerra na Ucrânia, que ameaça a atividade na região devido aos riscos de falta de fornecimento de gás natural.
“A tendência de fortalecimento do dólar em relação ao euro existe porque ainda vemos uma economia nos Estados Unidos com menos riscos e mais dinâmica, e a necessidade do banco central andar mais na alta de juros”, diz.
No caso europeu, apesar dos dilemas serem semelhantes, o banco central deve começar o processo de alta de juros “em breve”, mas de forma mais gradual que a dos Estados Unidos, o que mantém uma “tendência de fortalecimento do dólar em relação ao euro”.
Outra moeda que passou a desvalorizar nesse contexto é o real. Ribeiro afirma que o elemento externo pesa na alta do dólar, que chegou a ultrapassar R$ 5,40, mas também existem fatores domésticos, em especial a PEC dos Benefícios.
“Tem muito a ver com a percepção de risco em relação à evolução das contas públicas, com anúncios de medidas e a PEC dos Benefícios, que pode chegar a R$ 100 bilhões entre desonerações e gastos e que deixa um legado para 2023, já que não envolve só medidas temporárias”, afirma.
Na avaliação da economista, a aprovação do projeto “fragiliza o arcabouço fiscal” e gera uma preocupação entre agentes do mercado, contribuindo ainda mais para a pressão sobre o real.
A aprovação na Câmara pode levar a ainda mais gastos, o que fragiliza o arcabouço fiscal e deixa os agentes muito preocupados com a evolução das nossas contas públicas, o que contribui ainda mais para a pressão sobre o real.
*Sob supervisão de Vinicius Tadeu