Recuo de Trump piora caso do Brasil, dizem ex-secretários de comércio à CNN
Com tarifa menor que demais países, Brasil poderia se beneficiar de cenário; agora, por 90 dias, todos, exceto a China, enfrentarão 10%
Os ex-secretários de Comércio Exterior do governo brasileiro, Lucas Ferraz (2019 a 2022) e Welber Barral (2007 a 2011), disseram em entrevistas à CNN que o recuo do presidente norte-americano, Donald Trump, sobre tarifas piora o cenário para o Brasil na economia global.
Trump anunciou na quarta-feira (9) uma reviravolta em sua política comercial, limitando as tarifas recíprocas a 10% por um prazo de 90 dias. A decisão, no entanto, não se aplica à China, que enfrentará tarifas elevadas a 125%.
Havia a percepção entre os analistas de que o Brasil estava “comparativamente” melhor posicionado que os demais países no anúncio inicial de tarifas recíprocas de Trump — visto que recebeu taxa de 10%, enquanto outros mercados ficaram com alíquotas maiores.
Quase 60 países haviam recebido taxas superiores a 10% e havia expectativa de que o Brasil poderia ganhar espaço a partir deste cenário. A avaliação agora é de que, ao menos por 90 dias, com todas as tarifas, exceto as da China, no mesmo patamar, a vantagem vai por água abaixo.
“Não tenha dúvidas de que piora para o Brasil. A gente vinha dizendo que o cenário não era tão ruim pela questão comparativa. O fato é de que, com esta limitação a 10%, esta vantagem acabou”, disse Lucas Ferraz à CNN.
Segundo Ferraz, havia expectativa anteriormente de que o Brasil pudesse avançar, por exemplo, na indústria de vestuário — com o Vietnã taxado em 46% —, de couros, eletroeletrônicos, madeira, máquinas e equipamentos, automóveis, entre outros. O dado consta em estudo do Centro de Negócios Globais da FGV.
Barral pondera que a possibilidade de o Brasil se beneficiar do cenário anterior era “apenas” uma expectativa. Para o ex-secretário, no entanto, cresce agora o risco de os EUA negociarem com demais países e tirarem espaço do Brasil na pauta comercial destes.
“O grande risco que existe agora é os Estados Unidos negociarem com mercados que são importantes para o Brasil e conseguirem mais espaço para suas mercadorias; espaço para produtos agrícolas, na Europa, por exemplo”, disse Barral à CNN.
A percepção de analistas, no entanto, é de que o recuo de Trump é positivo para o cenário do comércio global. “Não deixa de ser um fio de esperança de que a guerra comercial vai arrefecer”, completa Ferraz.
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