Reajuste em planos de saúde pode causar abandono de tratamentos, diz estudo
ANS autorizou um aumento de 15,5% no serviço para 2022, maior alta da série histórica, e informou que reajustes são necessários para que haja continuidade na prestação de serviços
O reajuste autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de 15,5% nos planos de saúde individuais e familiares para 2022 — o maior aumento desde o início da série histórica em 2000 —, pode paralisar precocemente o tratamento de pacientes no país, segundo um estudo da Associação Médica Brasileira (AMB).
Atualmente, o serviço de planos individuais e familiares abrange mais de 50 milhões de brasileiros, cerca de 20% da população. A expectativa é que o novo reajuste, anunciado na última semana, seja aplicado no período entre maio de 2022 e abril de 2023.
De acordo com o estudo da AMB, 88,3% dos médicos que atuam no Brasil já presenciaram pacientes abandonarem tratamentos por conta de reajustes das mensalidades dos convênios — número que pode aumentar com a alta recorde no custo do serviço no país, segundo a entidade.
“Os aumentos das mensalidades, todos os anos bem acima da inflação, não apenas levam milhares a abandonar os tratamentos no meio do caminho como engrossam as filas do Sistema Único de Saúde, subfinanciado e já insuficiente para um acolhimento digno”, destaca o pediatra e diretor da APM, Marun David Cury.
A pesquisa contou com a participação de aproximadamente 3 mil médicos, ao longo do primeiro semestre deste ano. O estudo da AMB foi conduzido em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM).
A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
O estudo também apontou que 80,6% dos médicos brasileiros já sofreram restrição de planos de saúde, após solicitar ao paciente a realização de exames laboratoriais.
Dentro deles, 19,8% dos profissionais afirmam que o controle por parte dos planos acontece “com frequência”.
Entre os procedimentos médicos mais comuns entre os pacientes no Brasil estão os tratamentos contra diabetes e câncer.
Para o endocrinologista e clínico Ricardo Oliveira, a falta de um procedimento adequado pode acarretar graves complicações aos pacientes acometidos por essas doenças.
“Estamos falando de milhões de pacientes que tinham interrompido o tratamento por causa da pandemia e agora, por conta da alta no preço do plano, vão precisar paralisar de novo os procedimentos médicos. Um exemplo é a diabetes, que acomete 16 milhões de brasileiros, que requer um acompanhamento e um tratamento bem específico e rígido”, argumentou Oliveira à CNN.
Em nota, a ANS afirmou que os reajustes dos planos de saúde são necessários para que as mensalidades acompanhem a variação no preço dos procedimentos e na quantidade de serviços utilizados, e que, com isso, haja continuidade da prestação.
O comunicado ainda diz que a agência utilizou a metodologia de cálculo que vem sendo aplicada desde 2019 para realizar o reajuste mais recente.