Queda da “inflação do aluguel” aumenta pressão para BC baixar os juros, dizem economistas
Em 12 meses, o IGP-M acumula deflação de 2,17%, a menor variação da série, refletindo a queda generalizada do preço das matérias-primas


A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou nessa quinta-feira (27) o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), conhecido como “inflação do aluguel” de abril. No mês, o índice recuou de 0,95% após alta de 0,05% em março.
Na visão da economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, o índice ficou abaixo da expectativa de -0,7%. “A inflação de bens comercializáveis, inclusive alimentos, medida pelo IPCA (Índice de Preço do Consumidor Amplo), deve continuar baixa nos próximos meses, contribuindo para um processo de desinflação mais rápido, o que, por sua vez, deve aumentar a pressão no BC para a redução dos juros.”
Em 12 meses, o índice acumula -2,17%, a menor variação da série. O IGP-M negativo reflete uma queda generalizada das matérias-primas, inclusive agrícolas, com a normalização das cadeias produtivas, demanda global arrefecendo e indústria mais fraca no Brasil, pontua Vitória.
Apesar de já haver espaço para reduzir o grau de restrição na política monetária — com a queda da inflação corrente — Vitória destaca que os comunicados do BC ainda apontam para a manutenção da taxa de juros nas próximas reuniões, com muita ênfase ainda nas expectativas de inflação, que seguem contaminadas pela incerteza do arcabouço fiscal e discussão sobre a meta.
“No entanto, as commodities em queda, e o reflexo no IGP-M mais baixo nos últimos meses, pode já contribuir para uma mudança na visão do Copom do balanço de risco para a inflação no próximo comunicado, e preparar o terreno para o início da queda de juros no segundo semestre.”
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, diz que os números apresentados hoje são positivos e são reflexos de desaceleração de preços. “A gente sabe que, na composição do IGP-M, há uma influência muito grande dos atacados e, dentro desta classe, tem uma influência grande do próprio câmbio. Mas, de maneira geral, a gente teve um alívio em termos de cotação do dólar e teve um alívio também em termos de atacado.”
Para ele, o resultado, mais uma vez, vem demonstrando um arrefecimento na dinâmica dos preços. “Isso é um resultado positivo, apesar de afetar pouco a curva de juros, dado que ele não é o principal indicador para tomada de decisão de política monetária.”
Jorge explica que o indicador do Banco Central é o IPCA. “Mas, é claro, quando outros indicadores demonstram desaceleração, isso acaba corroborando para a possibilidade de o IPCA ser menor também.”