Privatização da Eletrobras deve potencializar ações, avaliam especialistas
Analistas enxergam privatização como um potencializador para as ações da empresa
No dia seguinte à decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) pela aprovação do processo de capitalização da Eletrobras, as ações da empresa já refletiram o humor do mercado.
Na quinta-feira (19), a ação ordinária (ELET3) encerrou com valorização de 3,45%, cotado a R$ 44,06, enquanto o papel preferencial classe B (ELET6) subiu 2,54%, a R$ 43,20. Ambos os ativos fecharam no pico de alta do dia, segundo dados do Tradingview.
Especialistas avaliam que o movimento favorável para as ações da empresa deve prosseguir no médio e longo prazo. A avaliação é de que trata-se de um ativo valioso e com grande potencial.
Além disso, a possibilidade de utilização do FGTS para realizar investimentos na empresa também é vista com bons olhos, mas investidor deve compreender seu próprio perfil.
Resultados
A estatal divulgou, na terça-feira (17), que o lucro líquido das operações continuadas avançou 69% no primeiro trimestre de 2022, em relação ao mesmo período do ano passado, a R$ 2,716 bilhões.
De janeiro a março, a receita operacional líquida avançou 12%, em base anual de comparação, para R$ 9,181 bilhões. Dados como este corroboram para a boa avaliação das ações da então estatal por parte dos especialistas.
Segundo Gustavo Pazos, analista da Warren, um estudo feito pela casa projetando as futuras distribuições de proventos e, já levando em consideração um possível acréscimo de crescimento da empresa por conta da nova governança, o resultado alcançado foi de R$ 53 por ação preferencial (ELET6). Sem considerar algum tipo de valor a ser destravado na companhia, “conforme a nova governança colocar em prática suas novas iniciativas e restruturações”.
“Entendemos que, com a privatização, as ações passem a valer, no mínimo, R$ 53, mas podendo atingir patamares maiores”, afirmou.
Estimativas feitas pela Refinitiv apontam que, para o ano de 2022, o preço médio das ações da empresa alcance uma cotação de R$ 54,11, implicando uma valorização de mais de 20%, em comparação com o valor de encerramento desta quinta-feira (R$ 44,06).
O analista da Terra Investimentos, Regis Chinchila, menciona que a evolução com êxito do processo de capitalização pode proporcionar ganhos na questão operacional, financeiro e governança.
Chinchila lembra do caso da Vale que, em apenas um ano após a privatização, o lucro já havia aumentado pela metade. O faturamento também disparou, indo de US$ 3,9 para US$ 5,5 bilhões. A empresa recebeu após a privatização mais de US$ 44,6 bilhões em investimento.
A Terra Investimentos trabalha com um preço-alvo para ELET3 de R$ 50,00 para 12 meses. O analista menciona que já observou “algumas casas de análise revisando a estimativa para R$ 70,00, no melhor cenário após a privatização”.
Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, diz ser importante que o consumidor saiba que está diante de uma empresa que está vendo ser potencializada a sua capacidade de geração de valor, característica que não se encontra entre seus múltiplos atualmente, se mostrando como uma oportunidade.
O analista prevê que o preço das ações pode evoluir até a data de oferta das ações, prevista para ocorrer ainda no primeiro semestre.
Apuração da analista de economia da CNN Priscila Yazbek também mostra que corretoras e bancos estimam que a ação chegue a um preço médio de R$ 54,11, uma valorização de mais de 20% ainda esse ano. Foram contabilizadas seis recomendações de compra e uma recomendação neutra, mostrando que o mercado vê potencial para valorização.
Após a validação pelo TCU, o próximo passo é fazer o registro da operação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia federal responsável por fiscalizar o mercado de valores e na Securities and Exchange Commission (SEC), que seria o equivalente à CVM nos Estados Unidos. Isso ocorre porque a Eletrobras possui ações negociadas na bolsa de valores do país norte-americano.
Vale a pena investir o FGTS?
O Tribunal de Contas da União (TCU) também permitiu que os trabalhadores de qualquer setor que tenham recursos no FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) poderão utilizar até 50% do fundo para comprar ações da empresa.
Essa não é a primeira vez que a possibilidade existe. O mecanismo utilizado para esse tipo de processo é o Fundo Mútuos de Privatização, criado em 200, e já aplicado em outros casos, como na Vale e na Petrobras.
Segundo os analistas, o investidor deve entender qual é o seu perfil antes de realizar a operação. Arley Junior, estrategista de Investimentos do Santander, diz que avaliar o perfil API é importante, já que “a alocação ideal está associada ao apetite a risco do investidor e não somente ao valor disponível para investimento”.
Além disso, o especialista destaca que o segundo passo é fazer uma avaliação da carteira atual, para revisar de que forma e onde os recursos estão alocados, para então combinar esta alocação com outros investimentos, buscando o equilíbrio de risco, de acordo com o perfil.
Caso o investidor tenha dúvidas ou tenha entrado recentemente no mercado de ações, para compreender o perfil recomenda-se que o apoio de um especialista, seja em um gerente comercial ou um assessor de investimentos, que poderá apoiar na revisão do portfólio e indicar o percentual recomendado em renda variável.
Caso o trabalhador queira comprar ações da Eletrobras com o FGTS, é possível participar via fundo de forma individual ou um clube de investimento, o CI-FGTS, que funciona como uma comunhão de recursos de pessoas físicas —de no mínimo três e no máximo 50 participantes—, para aplicação em títulos e valores mobiliários.
Investidor também deve ficar atento à proporção. Os analistas lembram que o fundo é, a princípio, para emergências, sendo correto realizar o investimento com proporcionalidade.
Entenda a capitalização
Quando se fala de privatização no Brasil, sempre há o entendimento de que o Governo Federal irá vender certa empresa para um grupo ou companhia que pagar o maior preço.
Não é o caso da Eletrobras. Sua privatização irá acontecer via mercado de capitais: ou seja, as ações da companhia serão pulverizadas entre vários acionistas. O governo é o controlador majoritário, com mais de 70% das ações. Ele vai continuar sendo o acionista majoritário, mas ganhará vários sócios por meio dessa venda.
A Eletrobras vai vender novas ações no mercado, diluindo aos poucos a participação do governo — até que ele detenha 45%. O processo acaba sendo uma privatização porque a Eletrobras deixa de ser gerida como uma estatal, como é hoje.
A empresa passa a ser gerida como uma holding, em que o governo segue como acionista majoritário, mas a maior parte do seu capital está diluído no setor privado.
Dessa forma, são criadas condições para proporcionar maior capacidade de investimento da estatal, com ganho de eficiência, redução de custos e prestação de serviços mais segura e eficientes.
A Eletrobras é responsável por 30% da geração e quase 40% da transmissão de energia do país hoje, tendo sido maior no passado, mas acabou reduzindo mercado porque perdeu capacidade de investimento e capacidade de gestão.
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