Prévia do PIB reflete bom desempenho de serviços no 2º trimestre, dizem analistas
Economia deve ter desaceleração no segundo semestre, mas ainda com efeitos positivos de estímulos
O forte desempenho do setor de serviços alimentou um resultado melhor do que o esperado para o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de junho, refletindo também em números positivos no segundo trimestre e no acumulado do ano.
Considerado pelo mercado como uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o dado indica uma economia mais forte que o esperado pelo mercado no começo do ano, e vem na sequência de uma série de revisões nas expectativas para a economia.
Para especialistas, a tendência ainda é de uma desaceleração econômica no segundo semestre, mas reduzida pelo impacto positivo tanto pelo desempenho positivo no primeiro semestre e medidas de estímulos do governo federal.
Números positivos
A alta de 0,69% do IBC-Br em junho na comparação com maio de 2022 foi “bem acima do esperado pelo mercado”, segundo o economista-chefe da RPS Victor Cândido.
Para ele, o resultado mostra “a economia andando em velocidade bem forte, e confirma outros dados como de trabalho, serviços e agropecuária”.
Ele atribui o crescimento a dois setores específicos: o de serviços, que veio “bem forte” e apoiado pela reabertura da economia e um mercado de trabalho “relativamente aquecido”, aumentando o consumo no setor.
Outro segmento com desempenho positivo é o momento é o de agropecuária. Candido destaca que o dado do IBC-Br é sempre de retrovisor, ou seja, indicada uma situação da economia que já passou.
Nesse sentido, ele vê uma economia forte, que entra no segundo semestre com mais sustentação. A RPS espera um crescimento do PIB de 2% no ano, uma projeção que não foi alterada pelo economista.
O motivo, afirma, é a expectativa de uma desaceleração da economia com um efeito mais intenso das sucessivas altas de juros pelo Banco Central, encarecendo o crédito e afetando o consumo.
Mesmo assim, ele espera um alívio com medidas como de aumento do valor do Auxílio Brasil, benefícios para segmentos da população e o teto de 17% do ICMS. Em conjunto, essas ações devem ter um impacto fiscal de alta de 1% no PIB.
“Vai ter desaceleração, mas sem PIB trimestral negativo. É natural que ocorra porque tem muitos juros, crédito mais caro”, diz.
Já Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destaca que o resultado de junho do IBC-Br foi influenciado por uma expansão do setor de serviços, enquanto o comércio apresentou estabilidade e a indústria, recuo.
“Em relação à indústria, o setor continua sofrendo com altos custos industriais e a queda da renda das famílias. A alta do juro e a inflação ainda elevada, devem continuar impactando negativamente”, explica.
Ele afirma que alguns segmentos de serviços não retomaram totalmente o patamar pré-pandemia, o que indica um espaço para o setor continuar crescendo no terceiro trimestre.
“Para o segundo semestre, a perspectiva é de um arrefecimento da atividade, frente aos efeitos da elevação dos juros e da alta inflação. Porém, a boa retomada do mercado de trabalho, redução de impostos e incentivos fiscais darão um novo fôlego para o terceiro trimestre”, projeta.
Já no quarto trimestre, Sung espera estabilidade, com a combinação de juros altos e inflação disseminada somada a um esgotamento de benefícios com a reabertura da economia.
A Suno manteve as projeções de crescimento de 2% e 0,5% para o PIB em 2022 e 2023, respectivamente.
A XP também manteve a projeção de 2,2% para o PIB neste ano, mas atribuindo um “viés de alta”, citando um efeito de carrego estatístico do IBC-Br para o terceiro trimestre.
Marina Garrido, pesquisadora do FGV-Ibre, avalia que o resultado do IBC-Br confirma o que já havia sido indicado pelos dados de serviços, com uma surpresa positiva.
Para ela, o setor tem sido um “motor do crescimento”, apoiado por benefícios e a antecipação do saque do FGTS no primeiro semestre, ajudando em especial o segmento de serviços prestados às famílias, que deve continuar aquecido pelo resto do ano.
A tendência é um aumento da liquidez no segundo semestre pelas novas medidas do governo, com a instituição mantendo a projeção de crescimento anual de 1,7%.
“Já varejo e indústria devem ter mais problemas, com estoques e produção baixos limitando o desempenho. A liquidez maior ajuda, mas o desempenho fica limitado pela oferta reduzida”, avalia Garrido.