Preço do arroz já caiu 8%, mas café, frango e açúcar não param de subir
Inflação dos alimentos no supermercado está ainda em 15%, mas agora com novos vilões
Depois de uma explosão no ano passado, as altas nos preços dos supermercados chegaram a esboçar um alívio nos primeiros meses deste ano – mas durou pouco.
Tão logo produtos que subiram muito em 2021, como o arroz e o óleo de soja, começaram a ensaiar alguma queda nos preços, outros já começaram a subir, e o resultado é que encher o carrinho continua difícil do mesmo jeito. Os “vilões” da carteira apenas mudaram de lugar.
Entre algumas das maiores altas deste ano, estão o café, que já está 22% mais caro desde janeiro, e o açúcar, que subiu 33%.
A margarina já subiu 21%, o frango 20% e, as carnes, na média, 10% – sendo que o patinho subiu 14%, o filé mignon 15% e, o acém, quase 16%.
O preço do arroz, que saltou 76% no ano passado, caiu 8% desde o começo deste ano. O óleo de soja, que avançou nada menos do que 103% em 2020, agora estacionou, e sobe só 0,2% em 2021.
Como as freadas, de longe, não compensam toda a alta, comprar os dois ainda continua bem mais caro que no ano passado: o arroz ainda custa 23% mais que um ano atrás e, o óleo, 51%.
Os dados são da prévia de setembro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), divulgada nesta sexta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A alta geral no mês, de 1,14%, foi a maior para um mês de setembro desde que a hiperinflação acabou no país, em 1994. Em 12 meses, a inflação subiu para 10%. Considerados só os alimentos nos supermercados, a alta em um ano é de 15,5%.
Seca também atingiu lavouras
Se, no caso do arroz e do óleo (que vem da soja), a culpa dos aumentos tinha sido das exportações, que subiram muito rápido no ano passado, tudo o que está subindo agora é vítima das faltas de chuvas – as mesmas que secaram as principais hidrelétricas do país e fizeram o preço da conta de luz disparar.
“Os alimentos que estão subindo de preço têm a ver com a crise hídrica”, explica o economista André Braz, coordenador de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
“A seca atacou especialmente as lavouras de cana-de-açúcar, de café e de milho, e esses três itens explicam boa parte da aceleração nos alimentos que estamos vendo.”
Não à toa, a maior entre os quase 280 itens que o IBGE acompanha para calcular a inflação do país é o etanol, que sobe 4,6% só em setembro e 57% em um ano. O combustível compete com o açúcar pela cana plantada e sofre também pela mesma quebra de safra.
O milho, por sua vez, que também viu as plantações afetadas, é a base da ração e principal custo das criações de frangos – o que explica também os aumentos nessa ala.
“Tanto a soja quanto o arroz não sofreram tanto com a seca porque eles têm ciclos mais longos, e os grãos estavam em uma fase que já não ficavam tão prejudicados”, explica Braz.