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    Arroz no atacado já subiu 4% com chuvas no RS e alta deve chegar ao consumidor, dizem especialistas

    Especialistas consultados pela CNN veem inflação mais alta no ano

    Instituto do RS estima que 84% da produção já foi colhida
    Instituto do RS estima que 84% da produção já foi colhida Monsterkoi/Pixabay

    João Nakamurada CNN

    São Paulo

    Item consumido em grande escala pelo brasileiro, o arroz vendido no atacado já registrou uma alta de 4% desde o início das fortes chuvas no Rio Grande do Sul.

    Do fim de abril até esta terça-feira (14), o preço da saca de 50 kg subiu de R$ 105,98 para R$ 110,23, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP).

    Os dados são colhidos juntos do Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga), órgão da secretaria da Agricultura do RS.

    Segundo o instituto, um dia depois da intensificação das chuvas, em 29 de abril, o valor do grão registrou 1,08% de valorização.

    O estado é responsável por cerca de 70% da produção nacional do alimento.

    Apesar desta ser em relação aos preços para o produtor, o impacto pode acabar chegando no bolso do consumidor, na opinião de especialistas.

    “Dada a importância da produção de arroz do Rio Grande do Sul no total do Brasil, a gente entende que uma alta de 20% no atacado pode acontecer nesse curto prazo”, afirma Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena.

    E o produto pode ficar mais caro não só no estado, mas em todo território nacional, segundo avaliação do economista e especialista em inflação da FGV/Ibre, André Braz.

    Além disso, a alta do preço deve ser ainda mais intensas devido o desespero do consumidor com a possibilidade de o arroz se esgotar nas prateleiras.

    “Muita gente vem comprando o produto com antecedência, exatamente com medo de que haja uma falta. Isso não só ajuda aumentar o preço como também esgota o produto mais rapidamente, porque as pessoas começam a estocar arroz”, pontua Braz.

    “Isso não vai ser positivo tanto pelo lado do preço quanto para atender a maior parte da população, que acaba ficando sem o produto”, conclui.

    O economista do Ibre reforça que os preços têm uma tendência de alta à longo prazo devido à amplitude da catástrofe.

    “Tá tudo alagado, continua chovendo e a recuperação do solo depois da enchente – permitindo um novo ciclo de plantio – vai demorar um pouco. Isso vai comprometer o calendário de plantio das safras e a gente pode perceber esse efeito por muitos meses”, aponta Braz.

    Devido a potencial extensão do problema, segundo Angelo, a Warren chegou a elevar sua perspectiva para alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, por conta do impacto na produção gaúcha. A estimativa da corretora subiu de 3,8% em 2024 para 3,9%.

    A XP também elevou suas apostas e vê um cenário ainda mais pessimista para os preços da alimentação no domicílio, que devem ter alta de 4,2% este ano. Anteriormente, a previsão era de 3,8%.

    Colheita

    Segundo levantamento do Irga, o RS tinha um total de 900.203 hectares de arroz a serem colhidos. Do total, estima-se que 84% da produção já foi colhida e que 2,5% das plantações foram perdidas.

    Em relatório sobre os impactos, o Santander avalia que apesar do atraso da colheita na safra 2023/24, o RS estava adiantado nesse sentido.

    Contudo, o relatório é preliminar e não considera as perdas que podem ter ocorrido entre o produto que já foi colhido.

    “Mas quanto pode ter sido perdido nos silos? Desse modo, haverá especulação no curto prazo, com pressão de alta sobre os preços”, avalia a professora e pesquisadora do Cepea-Esalq, Andréia Adami.

    Em relatório, pesquisadores do Cepea reforçam a preocupação quanto à perda de grãos já colhidos.

    “Além disso, algumas estradas estão interditadas, o que também dificulta o carregamento do cereal. Esse cenário aumenta as incertezas quanto à produtividade da safra 2023/24”, aponta.

    Do outro lado das análises que avaliam que as perdas ainda não podem ser estimadas, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) avalia que a oferta do estado é suficiente.

    Em entrevista à CNN, o presidente da Fedearroz, Alexandre Velho, defende que o problema logístico que os produtores do RS enfrentam para escoar seus produtos não é motivo para grande alarde.

    “Nós já temos rotas alternativas [para fazer o transporte]. O que está acontecendo com o arroz é uma questão de logística. Não há risco de desabastecimento no país tendo em vista até aumento da área de produção dentro do Rio Grande do Sul e fora do estado”, afirmou Velho.

    Velho diz que os problemas são pontuais, principalmente para produtores na região central do estado, onde há mais risco de alagamento. Segundo o presidente da Fedearroz, o risco de o arroz colhido estragar é baixo, visto que a maioria das armazenagem estão em boas condições.

    De antemão, o governo federal já anunciou que poderá importar até um milhão de toneladas de arroz para suprir a demanda e sustentar os preços do arroz.

    Importação

    Segundo a Fedearroz, as importações vão pressionar preços, desestimulando produtores gaúchos na próxima safra. Há pontos de atenção nessa transação, como custos de importação, frete e também do valor do câmbio, segundo análise de Adami, do Cepea.

    Para André Braz, também é um ponto de atenção a alta recente do arroz no mercado internacional em decorrência de cortes de exportação da Índia.

    Contudo, para garantir que os preços não subam ainda mais, a ideia do governo é subsidiar parte dessa compra.

    O objetivo é que o pacote de cinco quilos não ultrapasse o valor de R$ 20.