Petróleo: entenda como possível expansão da Guerra de Israel poderia impactar o mercado
Investidores mais cautelosos apostam em “algum tipo de risco geopolítico”, segundo especialista
Os preços globais do petróleo subiram 4% na última segunda-feira (9) devido aos temores de que a Guerra de Israel pudesse se transformar em um conflito regional envolvendo as nações produtoras de petróleo.
Os mercados globais de energia têm vivido numa montanha-russa nas últimas semanas.
Após meses de aumento dos preços – impulsionados principalmente por cortes de produção por parte da Arábia Saudita e da Rússia – o Brent registrou a queda semanal mais acentuada desde março na última sexta-feira (6), com investidores antecipando diminuição da demanda.
No entanto, os preços do petróleo podem estar no início de um ressurgimento sustentado, segundo analistas. Mas por que é que os comerciantes estão aparentemente tão nervosos se Israel não produz petróleo?
“O impacto sobre a oferta e a procura é praticamente nulo até agora. O [ataque] em si não tem efeito direto no mercado de petróleo”, afirma Homayoun Falakshahi, analista sênior de petróleo da Kpler.
No entanto, investidores cautelosos apostam em “algum tipo de risco geopolítico”, segundo ele.
Sanções mais rigorosas?
O maior risco para os preços do petróleo é a forma como as tensões entre Israel e Irã se desenrolam.
Há muito tempo Israel acusa o Irã de se envolver numa forma de guerra por procuração, apoiando grupos – incluindo o Hamas – que lançaram ataques em suas costas.
O vice-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jon Finer, reiterou na última segunda-feira (9) que, embora Washington acreditasse que o Irã era “amplamente cúmplice” dos ataques do Hamas em Israel, — porque havia fornecido armas, treinamento e outros tipos de apoio no passado — os Estados Unidos não tinham uma “informação direta” que ligaria o país ao conflito.
Também na segunda-feira, a missão do Irã nas Nações Unidas negou envolvimento nos ataques do fim de semana.
“Apoiamos enfaticamente a Palestina; no entanto, não estamos envolvidos na resposta da Palestina, uma vez que ela é tomada exclusivamente pela própria Palestina”, afirmou a missão, em comunicado à CNN.
Ainda assim, a situação pode se agravar. Israel contabilizou mais de 900 mortos até agora – o que marca um dos ataques mais sangrentos da história do país – e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou formalmente guerra ao Hamas. Gaza está sitiada.
Segundo analistas, se surgir uma ligação clara com o Irã, não pode ser descartada a possibilidade de algum tipo de intervenção por parte dos Estados Unidos. Isso provavelmente implicaria uma aplicação mais rigorosa das sanções existentes às exportações de petróleo ao país.
Washington retomou as sanções ao petróleo do Irã em 2018, depois de o ex-presidente Donald Trump ter descartado um acordo nuclear negociado no governo do seu antecessor, Barack Obama. Mas a produção de petróleo do Irã aumentou 700 mil barris por dia este ano, à medida que os EUA relaxaram a aplicação dessas medidas, de acordo com o grupo de estudos econômicos Bruegel.
Simone Tagliapietra, pesquisador sênior da Bruegel, disse à CNN que os Estados Unidos suavizaram sua posição nos últimos meses para ajudar a garantir a libertação de cinco prisioneiros americanos no Irã, além de manter o fluxo de petróleo no mercado global após as sanções ocidentais impostas à Rússia reduzirem a oferta da commodity.
Se Washington decidir apertar mais uma vez as sanções, “os atuais fluxos para o mercado petrolífero global poderão ficar comprometidos”, acrescentou.
Os Estados Unidos poderiam monitorar mais de perto os petroleiros suspeitos de transportar petróleo iraniano para o mercado global e também poderiam agir “reforçando a prestação de serviços de seguros a eles”, afirmou.
As casas que negociam petróleo iraniano estão sediadas, em sua maioria, em Hong Kong, na China, no Omã e nos Emirados Árabes Unidos, observou Falakshahi da Kpler, e os EUA poderiam atacá-las.
Mesmo assim, a influência do Irã no mercado petrolífero global é limitada. Segundo dados da Kpler, o país exportou apenas cerca de 1,4 milhão de barris por dia de petróleo bruto no terceiro trimestre, representando a máxima de 1,4% da oferta global.
‘Virada de jogo’ do Golfo?
Um risco mais remoto, mas talvez mais grave para o mercado de petróleo, é a possibilidade de o conflito transbordar para o Estreito de Ormuz, uma área navegável ao largo da fronteira sul do Irã, pela qual passam diariamente 37% das exportações globais por via marítima.
Se o Hezbollah – um grupo paramilitar libanês também apoiado por Teerã – se juntar ao conflito, poderá constituir o próximo ponto de conflito, que envolveria potências regionais maiores, como o Irã e a Arábia Saudita, disseram analistas à CNN.
O Hezbollah assumiu no último domingo (8) a responsabilidade pelo disparo de mísseis e artilharia contra três locais em Shebaa Farms, uma área considerada sob ocupação israelense pelo Líbano.
Uma possível intervenção do Irã poderia envolver perturbações no fluxo de petróleo através do Estreito de Ormuz.
“Isso seria uma mudança completa para o mercado de petróleo”, disse Falakshahi. “Não veríamos um aumento de 2% [no preço], veríamos um aumento de 20%”.
Mas embora esse risco exista, acrescentou, “isso está muito longe do ponto onde estamos agora”.
Os Estados Unidos, conscientes da vulnerabilidade da rota comercial, mantiveram uma “extensa presença militar no Golfo”, segundo Tobias Borck, investigador sénior do Royal United Services Institute for Defense and Security Studies.
É muito cedo para especular sobre um resultado tão dramático como este, acrescentou Borck. A Guerra de Israel teria de se expandir “muito para fora da área geográfica israelita” para provocar tal movimento por parte do Irã ou de grupos ligados ao país.