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    Pequim mostra a Jack Ma quem está no comando com suspensão de IPO da Ant

    Os órgãos reguladores chineses pegaram os mercados financeiros de surpresa na terça-feira (3) ao barrar o IPO do Ant Group

    Sherisse Pham, do CNN Business, em Hong Kong

    O governo da China mostrou a Jack Ma e aos demais magnatas bilionários da China quem realmente está no comando.

    Os órgãos reguladores chineses pegaram os mercados financeiros de surpresa na terça-feira (3) ao barrar o IPO do Ant Group. A abertura de capital do grupo era aguardada com muita expectativa, porém foi suspensa a poucos dias do início previsto da negociação das ações em Xangai e Hong Kong. A empresa de tecnologia financeira de Ma deveria levantar US$ 37 bilhões, o que seria a maior venda de ações da história.

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    A Bolsa de Valores de Xangai emitiu uma declaração à noite dizendo que adiou a IPO do Ant Group devido a “importantes questões” que poderiam fazer com que a empresa “não cumprisse as condições de abertura ou requisitos de divulgações”. O anúncio foi emitido após reuniões do banco central chinês e oficiais do governo com Ma e executivos do Ant Group na segunda-feira (2).

    A bolsa de Xangai está “agindo dentro de sua responsabilidade de autorregulação”, informou Wang Wenbin, porta-voz do Ministério Chinês de Relações Exteriores, na quarta-feira (4). “É uma decisão tomada para dar mais proteção à estabilidade do mercado de capitais e assegurar os direitos e interesses dos investidores.” Ainda não está claro quando – ou se – o IPO será retomado. O Ant Group declarou que manteria “comunicações próximas” com reguladores e a Bolsa de Valores de Xangai.

    Porém, essa intervenção inédita serve como alerta aos empreendedores chineses com altas ambições, mesmo que sejam membros do Partido Comunista Chinês, como Ma. Também indica que ainda que o Ant Group preencha os novos requisitos regulatórios, seu enorme volume comercial avançará apenas sob o olhar atento dos rigorosos reguladores chineses.

    A queda diminuiu em mais de US$ 68 bilhões o valor de mercado do Alibaba, de acordo com o preço das ações em Nova York.

    “Há um ditado na China que diz: ‘É o prego mais alto que é martelado'”, comentou Duncan Clark, autor de “Alibaba, a gigante do comércio chinês: O império que Jack Ma construiu” e fundador da consultoria de investimento BDA China. “E parece que Ma acabou de ser martelado pelo governo chinês”, acrescentou.

    O anúncio da Bolsa de Valores de Xangai veio uma semana depois de Ma afirmar que é importante evitar o risco sistêmico. Porém, o empresário criticou publicamente os reguladores chineses por inibirem a inovação devido à grande relutância que essas autoridades têm de assumir riscos.

    “Precisamos desenvolver um sistema financeiro saudável, não criar riscos financeiros sistemáticos”, observou o cofundador do Ant Group em uma conferência em Xangai. “Inovar sem arriscar é matar a inovação. Não há inovação sem riscos no mundo.”

    Na segunda-feira (2), os órgãos regulatórios chineses convocaram Ma e outros executivos do Ant Group para o que as autoridades chamaram de “entrevistas regulatórias”. O grupo informou que os dois lados trocaram “opiniões sobre a saúde e estabilidade do setor financeiro”.

    Os comentários de Ma “obviamente não caíram bem nos salões do poder em Pequim”, segundo Jeffrey Halley, analista sênior de mercado da Oanda para a região Ásia-Pacífico, em uma nota divulgada na quarta-feira. “Há apenas um chefão na China, e ele não é Jack Ma.”

    Clark ainda acrescentou que, nos últimos anos, empresários como Ma eram valorizados por ajudar a China e o Partido Comunista Chinês a estimular o consumo e aumentar a eficiência, atingindo objetivos importantes para o país.

    Recentemente, porém, o presidente chinês Xi Jinping e o partido deixaram claro que empresas privadas estão com uma rédea mais curta. Em setembro, o partido publicou um conjunto categórico de diretrizes que reforçam a necessidade de “pessoas com sensibilidade política” no setor privado para “ouvir atentamente ao partido e segui-lo.”

    Com o anúncio do Ant Group, “parece que o enfoque de Xi em empresas estatais não é só conversa”, pontuou Clark.

    “O lado regulatório quer se reafirmar”, acrescentou.

    O Ant Group, afiliado da gigante do comércio eletrônico Alibaba, se inseriu em cada aspecto da vida financeira de centenas de milhões de chineses. O grupo oferece uma variedade de produtos, como pagamentos digitais por meio de seu popular aplicativo Alipay, crédito instantâneo e pequenos empréstimos, gestão de riqueza e seguros.

    O setor de tecnologia financeira da China “ultrapassou a capacidade dos reguladores de estabelecer diretrizes principalmente no negócio de empréstimos on-line e facilitação de crédito”, segundo analistas da Jefferies.

    No entanto, parece que o governo chinês passou a tomar providências para corrigir isso. O que ainda não está claro é se ele tentando direcionar o equilíbrio de poder novamente aos bancos estatais ou se os reguladores estão genuinamente preocupados e receosos com as práticas de empréstimo do Ant Group, conforme salientou Clark.

    O regulador chinês se posiciona

    De acordo com os analistas da Jefferies, uma das questões “é exatamente qual regulador, se é que há algum, está fiscalizando” o Ant Group e outras empresas de tecnologia financeira da China.

    A Comissão de Bancos e Seguros da China (um dos reguladores que convocou Ma e sua equipe) propôs novas regras na segunda-feira (2) para tomadores de empréstimos on-line. Pelas regras, o Ant Group teria de alocar mais fundos aos empréstimos que concede, o que colocaria mais risco de crédito em seu balanço patrimonial, de acordo com vários analistas.

    A mídia estatal da China indicou na quarta-feira (4) que o cenário regulatório mais rígido é um sinal de que as autoridades querem manter as maiores empresas de tecnologia do país sob seu controle.

    Segundo o jornal estatal “The Global Times”, “as ‘big techs’ financeiras – cada vez mais vistas como rivais dos bancos tradicionais – inevitavelmente estarão mais sujeitas a uma maior supervisão”.

    A agência de notícias estatal Xinhua foi taxativa: “Todo participante do mercado deve respeitar as regras, e nenhuma exceção pode ser aberta.”

    Clark, da BDA China, opinou que o Ant Group também pode der sido “uma vítima de seu próprio sucesso”.

    O IPO teria subido o valor da empresa para mais de US$ 310 bilhões, maior que os principais bancos de investimento dos EUA, como o Goldman Sachs (GS) e o Morgan Stanley (MS). Além disso, houve uma enorme demanda por ações em Xangai e Hong Kong, com uma subscrição mais de 870 vezes maior que a emissão da IPO em Xangai.

    Clark aponta que isso provavelmente deixou os reguladores chineses apreensivos.

    “Quando essa empresa abrir o capital, será que conseguirão controlá-la, bem como os empréstimos cedidos?”, questionou.

    Sinal verde para o IPO?

    O Ant Group caiu nas mudanças regulatórias chinesas em um “momento infeliz”, segundo Hao Hong, diretor geral e chefe de pesquisa do banco de investimentos Bocom International. Mas ele ainda esperava que o Ant Group retome seus planos de abrir o capital.

    “O Ant Group precisa se reagrupar e [tentar novamente] o IPO em cerca de seis meses”, comentou Hong. “No final, o IPO vai sair.”

    É o que também acredita David Erickson, professor de Finanças da Wharton Business School, da Universidade da Pensilvânia, e ex-diretor de mercados de capital de ações globais da Barclays.

    “É provável que haja alguma resolução envolvendo uma emenda que conduza a um IPO”, previu.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês)

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