PEC do Estouro afeta previsões sobre inflação e juros, dizem economistas
Analistas avaliam que o Banco Central estará observando as evoluções das projeções dos índices de 2023 e 2024
As negociações em torno da PEC do Estouro continuam a dar o tom para os mercados domésticos. O cenário de incerteza causado pelo projeto e por falas do presidente eleito, Luis Inácio Lula da Silva, já reflete tanto nas projeções para o dólar quanto para a inflação e taxa Selic, como mostra o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (21).
Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, o Boletim Focus dessa semana mostra sinais de que a insegurança criada pelo debate sobre a PEC do Estouro já impacta as expectativas de mercado.
“Após dez semanas de estabilidade, a mediana das projeções para a Selic teve alta para 11,5%, juntamente com a piora da inflação e câmbio. O risco de uma volta do descontrole fiscal pode trazer pressão inflacionária adicional, o que tende a anular as expectativas de redução da Selic”, pontua.
Para ela, a curva de mercado já aponta inclusive para mais elevações da Selic e a pesquisa Focus pode mostrar a mesma tendência nas próximas semanas com a expectativa maior para os juros.
“A proposta de aumento de gastos sem contrapartida pode trazer o efeito colateral de um cenário de maior aperto monetário que o esperado”, afirma.
Carlos Macedo, especialista em alocação de investimentos da Warren, avaliou que o Boletim Focus desta segunda-feira começou a incorporar um pouco os ajustes ocorridos no mercado. Os principais destaques foram as altas das projeções de inflação e juros para 2023.
“Para as próximas semanas, o Banco Central vai observar atentamente as evoluções das projeções de inflação de 2023 e 2024 para discutir a necessidade ou não de altas adicionais, como o mercado já precifica atualmente”, diz.
Na visão de Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, o relatório do Banco Central trouxe dois movimentos importantes: um é a evolução da inflação e, o outro, a evolução da taxa de juros.
De acordo com ela, uma vez passado os movimentos baixistas impactados pelos reajustes da Petrobras e pela mudança na alíquota do ICMS sobre produtos importantes dentro do indicador, a pressão inflacionária volta a exercer uma força no mercado.
“Soma-se a esse cenário a sazonalidade negativa do indicador, pois no final do ano, essa inflação volta a subir motivada por serviços e por preço de alimentos”, aponta.
Além disso, Argenta explica que na semana passada, o movimento político em cima da PEC do Estouro, na qual as propostas implicariam em um custo de cerca de R$ 200 bilhões aos cofres do estado, fizeram com que essa expectativa inflacionária fosse reajustada para cima.
“Vale lembrar que esses movimentos não podem ser integralmente creditados à PEC, pois já estavam acontecendo em outros momentos e, de certa forma, absorvem um cenário de inflação que está sendo gestado nas últimas semanas no Brasil”, pontua.
Argenta ressalta que o país vive uma situação que indica que a inflação futura estará mais alta em um curto prazo. “Por isso, houve esse movimento de reajuste altista para as próximas divulgações. Inclusive, tende a surpreender com a divulgação do IPCA-15, na próxima quinta-feira”, afirma.
A economista destaca ainda a evolução da taxa de juros, passando de 11,25% em 2023 para 11,50%. “Esses números são explicados pelos mesmos motivos que justificam a expectativa da inflação mais elevada. Porém, neste caso, o peso da PEC é maior que o peso dos movimentos inflacionários para 2022”, mostra.
Rodolfo Margato, economista da XP, confirma que as mudanças em projeções para inflação, Selic e câmbio, porém considera que não foram tão significativas. Entretanto, apontam para uma direção de alta em todos esses indicadores.
“O mercado segue muito atento ao ritmo fiscal das últimas semanas e ao comportamento da expectativa do IPCA no Focus para 2024, que já está acima da meta de inflação em 3,5%”, avalia.
Margato destaca que, após algumas semanas de estabilidade no Focus, a previsão de mercado para a taxa Selic no final de 2023 teve uma elevação. “Isso é um sinal de que talvez, o passo para o Banco Central cortar juros, fique limitado por conta de questões fiscais em grande medida”, conclui.