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    Os bilionários estão ficando ainda mais ricos com a pandemia. Basta

    Leia artigo de Chuck Collins, que dirige o Programa de Desigualdade no Institute for Policy Studies. O artigo não reflete a opinião da CNN

    Chuck Collins* , Para a CNN

    Os Estados Unidos estão sofrendo uma pandemia horrenda. Mas, embora o próprio coronavírus não aja com discriminação, há enormes disparidades entre aqueles que sofrem com as consequências econômicas da pandemia. Pesquisadores da Universidade Columbia projetam que as taxas de pobreza nos Estados Unidos em breve atingirão seus níveis mais altos em meio século.
     
    No entanto, meus colegas e eu mostramos em um novo relatório para o Institute for Policy Studies que a riqueza dos bilionários norte-americanos na verdade aumentou quase 10% em apenas três semanas, exatamente quando começou a crise da COVID-19.

    A desigualdade extrema de riquezas, em suma, é a “condição preexistente” dos Estados Unidos. E, a menos que ajamos intencionalmente – com políticas públicas ambiciosas destinadas a reverter a desigualdade – a recuperação da pandemia sobrecarregará ainda mais nossas desigualdades de renda, riqueza e oportunidade.

    Já vimos isso acontecer antes, na recuperação da crise econômica de 2008. Uma recuperação que, para a maioria dos norte-americanos, nunca foi completa. O fato é que a maioria das famílias dos EUA entrou nessa pandemia com uma ressaca econômica persistente da quebra de 2008. Apenas 20% dos lares dos EUA haviam recuperado completamente a riqueza que possuíam antes da Grande Recessão.

    Por outro lado, meus colegas e eu descobrimos que os membros da Forbes 400 – os 400 bilionários mais ricos dos Estados Unidos – conseguiram recuperar completamente sua riqueza em três anos. Dentro de uma década, a riqueza deles aumentou mais de 80%.

    Agora, vemos esse padrão se repetindo de forma chocante em uma linha do tempo comprimida. A riqueza combinada dos bilionários norte-americanos já é maior do que há um ano, segundo nosso estudo. Pelo menos oito desses bilionários acrescentaram mais de US$ 1 bilhão à sua riqueza durante a pandemia.

    Entre esses “especuladores da pandemia” estão Eric Yuan, CEO da Zoom, e Steve Ballmer, ex-CEO da Microsoft, dono do Skype e do Teams. Yuan e Ballmer estão lucrando com o boom das videoconferências.

    Mas ninguém se beneficiou tanto quanto Jeff Bezos, da Amazon, que viu sua riqueza aumentar em US$ 25 bilhões desde 1º de janeiro, uma vez que os clientes locais se apoiam muito em compras online, entregas de supermercado e streaming. Esse aumento de riqueza para um indivíduo (maior que o PIB inteiro de Honduras) não tem precedentes na história dos mercados modernos.

    Em suma, enquanto a maioria dos norte-americanos luta para atravessar uma recessão pior do que a enfrentada uma década atrás, um pequeno número de bilionários está destinado a lucrar como bandidos.

    Para complicar a situação, a riqueza exponencial dos bilionários lhes confere uma influência extraordinária sobre o processo político, que eles usaram para cortar suas contas fiscais de maneira surpreendente nas últimas décadas. Segundo nossos dados, os impostos pagos pelos bilionários norte-americanos, medidos como uma porcentagem de sua riqueza, diminuíram impressionantes 79% entre 1980 e 2018.

    Diante de tudo isso, não surpreende que as respostas políticas em tempos de crise tendam a refletir as prioridades dos mais ricos primeiro. Na última crise, em 2008, resgatamos os bancos de Wall Street, mas não os proprietários de imóveis e as pequenas empresas que fecharam as portas nas ruas das cidades.

    Desta vez, no pacote de estímulo de US$ 2,2 trilhões aprovado pelo Congresso, as famílias comuns receberam um cheque único de US$ 1.200. As pessoas que ganham mais de US$ 1 milhão, no entanto, podem receber uma média de imposto do tipo windfall tax de US$ 1,6 milhão, segundo análise divulgada por dois congressistas.

    Não precisa ser assim.

    Em vez disso, o Congresso deveria elaborar projetos de lei para colocar mais dinheiro no bolso das pessoas comuns. Uma renda básica universal inicial de seis meses, de US$ 1.500 por mês por adulto, em famílias com renda abaixo de US$ 70 mil, reduziria o estresse econômico e a miséria, além de impulsionar as comunidades locais em dificuldades.

    O dinheiro distribuído às pessoas que trabalham é muito mais provável de ser gasto rapidamente, à medida que as pessoas vão para supermercados, postos de gasolina e outras empresas locais para atender às suas necessidades imediatas. Os resgates financeiros para gigantes ricos e corporativos, por outro lado, podem acabar sendo gastos em recompras de ações ou canalizados para offshores no exterior.

    Para ajudar a pagar por nossa recuperação, o Congresso deveria cobrar uma sobretaxa de 10% dos milionários sobre rendimentos acima de US$ 2 milhões, o que geraria cerca de US$ 635 bilhões nos próximos 10 anos, segundo o Tax Policy Center. Outras medidas devem incluir um imposto sobre a riqueza e um imposto progressivo sobre a herança.

    Enquanto isso, devemos nos proteger contra os lucros extraordinários garantindo uma supervisão rigorosa do Congresso sobre os fundos de estímulo já aprovados e cobrando um imposto sobre lucros excedentes, como acontece em tempos de guerra.

    Por fim, os trabalhadores da linha de frente que entregam os pacotes, mantimentos, refeições e cuidados para aqueles que ficam em casa merecem cobertura de assistência médica, salários decentes e direitos e proteções no local de trabalho – para proteger sua riqueza e sua saúde.

    A desigualdade extrema pode ser uma condição pré-existente na América. Mas, com as ações corretas agora, podemos sair dessa pandemia rumo a uma sociedade mais decente e igualitária. 

     

    *Chuck Collins dirige o Programa de Desigualdade no Institute for Policy Studies. Ele é coautor do estudo da IPS Billionaire Bonanza 2020: Wealth Windfalls, Tumbling Taxes, and Pandemic Profiteers (Prosperidade Bilionária 2020: Riquezas inesperadas, impostos caídos e especuladores de pandemias, em tradução livre). As opiniões expressas neste texto são dele.

     

    Aplicativo Zoom atraiu usuários durante pandemia do novo coronavírus
    Aplicativo zoom lucra com o boom das vídeoconferências.
    Foto: Albert Gea – 2.abr.2020/Reuters

     

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