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    “Mercado não é um monstro, é uma máquina que aloca recursos”, diz presidente do BC

    Roberto Campos Neto disse em São Paulo que é necessário aliar responsabilidade fiscal e preocupação com o social

    Isabelle Salemeda CNN , São Paulo

    O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o mercado financeiro não é um monstro. E sim uma máquina que aloca recursos e que, por isso, os investidores buscam a segurança do controle fiscal.

    “O mercado não é um monstro ou um inimigo. O mercado é só uma máquina que aloca recursos”, disse.

    “A verdade é que quando as condições são adversas, a inflação é muito alta e as pessoas não conseguem planejar, é a população mais carente que mais sofre. E por isso é importante ter a responsabilidade fiscal e a preocupação com o social. Assim você consegue explicar para o mercado que é possível uma convergência”.

    Se essa conversão não acontecer, o Banco Central pode reagir e não está descartada a possibilidade de voltar a subir a taxa básica de juros, a Selic, que hoje é de 13,75% ao ano.

    A fala veio um dia depois de o presidente eleito  Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fazer, mais uma vez, críticas ao efeito da PEC do estouro no mercado financeiro. “Vai cair a bolsa, o dólar vai aumentar, paciência… o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia”, declarou Lula nesta quinta-feira (17) na COP27, em Sharm el-Sheik, no Egito.

     

    “Entendo que temos de equalizar a necessidade social, há muitas pessoas ainda prejudicadas pelas consequências da pandemia e pelo que acontece com os preços do petróleo, energia e alimentos. Mas, por outro lado, nós vimos como o mercado está reagindo e vemos que temos uma tarefa muito importante em comunicar que temos disciplina fiscal. Teremos de gastar um pouco mais, mas temos de mostrar aos investidores que temos convergência”, afirmou Campos Neto.

    Durante cerca de meia hora, Campos Neto falou, em inglês, durante um evento na sede da Bloomberg LP, em São Paulo, e depois respondeu perguntas de jornalistas. A palestra foi transmitida para diversos países pela internet.

    Segundo o presidente do Banco Central, é possível que o governo gaste mais do que os investidores esperavam sem causar grandes problemas ao mercado. No entanto, na avaliação dele, para isso é preciso que Lula seja transparente sobre os planos do novo governo.

    “Quando você perde credibilidade por não conseguir comunicar o que quer fazer, isso provavelmente significa que você conseguirá fazer menos do que poderia. Esse é um ponto. O segundo ponto é que precisamos ter alguma coordenação entre política monetária e fiscal. Eu acho que o que está saindo das reuniões reflete promessas feitas pelos dois candidatos”, disse.

    No evento, o executivo falou sobre os últimos desafios do país no campo da economia. Ele lembrou que o Brasil enfrentou uma crise sanitária, energética, além dos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia.

    “O mercado tem dado sinais de ansiedade para encontrar respostas sobre como vamos pagar a conta que cresceu durante a pandemia globalmente. Estamos na situação de como vamos converter a dívida no longo prazo”, explicou.

    Campos Neto afirmou que vê sinais de melhora na inflação e disse que o cenário econômico brasileiro é melhor do que o do resto do mundo. “Não é verdade que o Brasil gastou mais para baixar a inflação artificialmente. O Brasil mostra cenário melhor que o resto do mundo e foi rápido em subir juros”, avaliou

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