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    Não vejo argumentos técnicos para uma alta dos juros agora, diz Salto à CNN

    Economista rebate argumentos sobre desancoragem das expectativas de inflação e insustentabilidade da política fiscal

    Pedro ZanattaDanilo Moliternoda CNN , São Paulo

    A expectativa em torno da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para setembro, é grande. Parte dos analistas e do mercado financeiro têm defendido que o Banco Central (BC) deve subir os juros e iniciar um pequeno ciclo de altas até dezembro, postergando uma queda mais acentuada para o ano que vem.

    Apesar da pressão sobre a política monetária, o entendimento de uma postura mais agressiva do BC não é consenso entre os especialistas.

    O economista-chefe da Warren, Felipe Salto, não enxerga argumentos técnicos para um aumento da Selic em setembro. Em entrevista à CNN, o economista descarta a leitura de que exista uma insustentabilidade da política fiscal e uma desancoragem das expectativas de inflação, dois dos principais argumentos utilizados para defender uma decisão mais dura da autoridade monetária.

    “Temos uma política fiscal que, pelo lado da receita, ajudou a recuperar o resultado primário. O déficit projetado para este ano é bastante menor do que o apresentado em 2023. Então, do ponto de vista doméstico, não parece haver uma pressão do lado fiscal, nem mesmo do lado das expectativas de inflação que justifique um aumento das taxas de juros neste momento. […] Agora, tecnicamente, eu não vejo razão para subir os juros no curto prazo”, explica Salto, que recebeu a CNN na sede da Warren, em São Paulo.

    O economista cita ainda o cenário externo, onde deve se confirmar, também em setembro, uma redução dos juros nos Estados Unidos. Na semana passada, durante um discurso no simpósio de Jackson Hole, o presidente do Federal Reserve, o banco central americano, deu sinais fortes para um recuou dos juros no próximo encontro da instituição.

    Para Salto, uma redução das taxas americanas também é um fator que beneficia o Brasil e retira a pressão sobre o Banco Central (BC). O economista entende que tal movimento do Fed contribuiria para uma valorização do real frente ao dólar, sendo mais um componente que ajuda a inflação.

    “Com 10,50% de Selic, ainda temos uma política contracionista. É uma taxa real de juros de mais de 7%. Está acima do que aquilo que chamamos de taxa neutra de juros. Por isso, avaliamos que não faz sentido um aumento de juros no curto prazo”, reforça.

    Mesmo não enxergando a necessidade de um aumento da Selic, o economista reitera que não deve ser descartada uma alta, citando as recentes declarações de diretores do próprio Banco Central.

    Nas últimas semanas quem subiu o tom foi o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, indicado pelo governo para assumir a presidência da instituição após a saída de Roberto Campos Neto, em dezembro.

    Em um evento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), na última quinta-feira (22), Galípolo disse que um eventual aumento do juro está entre as opções na mesa para o Copom que não vai hesitar em fazê-lo se for o passo necessário para perseguir a meta de inflação.

    Atualmente, a Selic está em 10,50% ao ano. O ciclo de cortes teve início em agosto de 2023, quando a instituição anunciou a primeira redução da Selic, que saiu de 13,75% para 13,25%.

    Desde então o BC tem decidido a favor de um recuo dos juros no Brasil. No entanto, no primeiro semestre, as expectativas do mercado com saúde fiscal brasileira pioraram após mudança da meta fiscal, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre gastos e a falta de medidas do governo que miram o corte de despesas. Além disso, uma piora no cenário internacional também contribuiu para uma leitura mais pessimista, visto que o dólar registrou forte valorização frente ao real.

    Os dados mais recentes do Boletim Focus, relatório que monitora as expectativas dos agentes do mercado, mostram que a taxa básica de juros deve terminar 2024 no nível atual de 10,50%, caindo a 9,75% ao final de 2025.

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