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    Não é só o dólar: Chile, Bolívia e Rússia também estão mais caros para o real

    Em uma lista de 17 moedas, só o peso argentino e a lira turca perderam valor para o real desde o ano passado

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O dólar deu uma trégua nas últimas semanas, depois de passar dos R$ 5,70 no início de março. A cotação atual, porém, perto dos R$ 5,40, está longe de zerar tudo o que ele já subiu: no início de 2020, antes da pandemia, ele era vendido a R$ 4, e a alta de lá para cá é de mais de 30%. 

    E não é só o dólar que está caro para os brasileiros. O real é uma das divisas que mais perderam valor no mundo desde o ano passado e, com isso, sofre hoje para conseguir pagar pelas moedas de uma série de outros países. 

    A lista inclui não só a moeda de economias fortes, como o euro e a libra britânica –que subiram ainda mais do que o dólar–, como quase todos os principais países latinos e outros emergentes. O peso chileno, por exemplo, um dos que mais se fortaleceram, acumula alta de quase 43% frente ao real desde o início do ano passado. Só neste ano, o aumento é de 4,6%.

    O boliviano, da Bolívia, subiu 34% de 2020 para cá, o peso mexicano avançou 25,5%, e o sol, do Peru, saltou 16,5%. As moedas da África do Sul (+31%), da Índia (+30%) e da Rússia (+11%) também estão custando mais hoje para quem ganha em reais do que no começo do ano passado. 

    O levantamento foi feito pela agência brasileira de avaliação de riscos Austin Rating a pedido do CNN Brasil Business, e considerou a variação de 17 moedas em relação ao real tanto no ano passado quanto neste, até o fechamento de 3 de maio.

    De todos as 17, só duas ficaram mais fracas que o real nesse período: o peso da Argentina, que está às voltas com as renegociações de sua nona moratória, e a lira da Turquia, onde a inflação chegou a 15%, os juros a 24% e o presidente Recep Tayyip Erdogan já demitiu três chefes do banco central de quem não gostou.

    Importações, transferências e viagens mais caras

    Isso significa não só que importar produtos de todos os outros países ficou bem mais caro, como também enviar dinheiro daqui para lá compra cada vez menos coisas no país de destino. É o que fazem, por exemplo, bolivianos, peruanos e uma série de outras comunidades que migraram para o Brasil nos últimos anos para trabalhar aqui, e que estão tendo que remeter mais reais para suas famílias caso queiram manter a mesma renda para elas.

    Não fosse pela pandemia, a profusão de moedas ganhando valor sobre o real significa, ainda, que viajar para qualquer um desses lugares estaria muito mais caro também. 

    Por outro lado, o inverso é igualmente verdadeiro: mandar dinheiro para o Brasil nunca comprou tantos reais, e é o que empresas e pessoas estão fazendo aos montes, de acordo com números do Banco Central. As remessas de outros países para o Brasil bateram recordes em 2020 e 2021.

    O dólar, que começou 2020 cotado a R$ 4 e, atualmente, é vendido na casa dos R$ 5,40, subiu 29% no ano passado e mais outros 4% neste ano até aqui –a alta acumulada é de 34%. A libra britânica, que já passa dos R$ 7,55, subiu 41% desde 2020 e, o euro, que hoje vale R$ 6,50, saltou 44%. 

    A moeda que mais ganhou valor em relação ao real –e que se fortalece, inclusive, em relação ao dólar– é o yuan, puxado globalmente por uma recuperação rápida e vigorosa da economia chinesa. 

    “O câmbio é um termômetro não só do momento da economia do país, mas de toda a sua estrutura macroeconômica”, diz o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. “Houve uma desvalorização geral das moedas em relação ao dólar no ano passado, mas umas caíram mais do que as outras. O Brasil tem problemas fiscais desde 2014, e a pandemia escancarou isso. Com os juros a 2%, o retorno não valia mais o risco de investir no Brasil.”

    O nível de endividamento muito acima da média de outros países emergentes, os juros mais baixos que os dos pares e as instabilidades políticas estão no topo da lista de razões dadas por economistas para explicar por que o dinheiro estrangeiro saiu tão mais rápido e em volumes tão maiores do Brasil do que de outras economias de perfil parecido.  

    Menos perdas em 2021

    O real ainda está longe de zerar todas as perdas que teve neste pouco mais de um ano em relação às outras moedas, mas 2021 já começa a contar uma história um pouco diferente. 

    Em 2020, o real perdeu valor para 16 das 17 moedas verificadas pela Austin Rating, e foi a segunda delas que mais se desvalorizou frente ao dólar –só o peso argentino tinha se saído pior. 

    Em 2021, algumas delas começaram, lentamente, a recuar um pouco: além do peso argentino, que segue em queda para o real, o sol peruano (-1,5%), o iene japonês (-1,7%), a lira turca (-6,4%) e o peso colombiano (-7%) são outras que também abriram o ano em queda em relação à moeda brasileira. As 12 demais seguem subindo. Das 17 da lista, o real é agora o sexto que mais perde valor em relação ao dólar.

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