Moody’s surpreende analistas ao melhorar perspectiva da economia brasileira e destaca crescimento
Atualização de nota vem dias após governo alterar metas de resultado primário para próximos anos e acirrar incerteza fiscal
A Moody’s surpreendeu analistas ao, nesta quarta-feira (1º), manter a classificação de risco de crédito do Brasil em Ba2, mas alterar a perspectiva do país de “estável” para “positiva”. O comunicado da agência de rating vem dias após o governo federal alterar mudar fiscais para os próximos anos.
Em seu comunicado, a Moody’s creditou a atualização especialmente às perspectivas para o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Para a agência, este movimento é consequência da implementação de reformas estruturais ao longo dos mais governos recentes.
Na avaliação da Moody’s, o crescimento mais forte combinado com um progresso contínuo, mas gradual, da consolidação fiscal pode permitir que o peso da dívida do Brasil se estabilize. Atualmente a nota de crédito do Brasil na agência é Ba2 e fica no chamado “grau especulativo”.
Neste aspecto, vale destacar que a dívida pública é medida em relação ao PIB de um país. Com isso, mesmo em meio às incertezas fiscais que rondam o país, o crescimento robusto da atividade econômica pode contribuir para a estabilização da métrica.
“Surpreende [a atualização neste momento], mas a Moody’s pontuou que o fiscal ainda está pesando negativamente”, indicou Murilo Viana, economista e especialista em contas públicas.
Como indicado pelo especialista, apesar de elevar para Ba2 positivo a nota, a agência não deixou de expressar preocupações com as contas públicas. O comunicado menciona que com o novo arcabouço fiscal a dívida do país deve se estabilizar gradualmente em alguns anos, mas alerta: o caminho para melhorar o primário traz riscos.
“Os riscos para consolidação fiscal permanecem devido à dependência do aumento da arrecadação fiscal para alcançar déficits menores e à capacidade restrita do governo de cortar gastos”, indicou em nota.
O mercado expressou aumento de incertezas sobre o fiscal em meados de abril, quando o governo alterou as metas de resultado primário para os próximos anos. Para 2025, a meta passou de superávit de 0,5% do PIB para 0%; para 2026, de 1% para 0,25%. O superávit de 1% fica previsto somente para 2028.
Para Gabriel Barros, economista-chefe da Ryo Asset, o movimento da Moody’s surpreende, mas é “mais de retrovisor do que de perspectiva”. O especialista em contas públicas menciona vitórias acumuladas pelo Ministério da Fazenda no primeiro ano de governo para o aumento da arrecadação.
“Mas o espaço para aprovar novas medidas pelo lado da receita está exaurido e não há mais apetite do Congresso Nacional”, indica.
Viana ainda menciona outros aspectos levados em conta pela agência, como a inflação controlada e o ambiente institucional resiliente, para além de reformas recentes, como a previdenciária, a autonomia do Banco Central e agora a tributária.
“O Brasil está com uma cara melhor, seja por conta própria, seja porque o resto do mundo está pior”, indica ao mencionar tensões geopolíticas como guerras na Europa e Oriente Médio, além de incertezas nos Estados Unidos.