Ações da Minerva vão subir com dividendos, tecnologia e ESG, diz CEO
Frigorífico anunciou um programa de recompra de papéis na segunda-feira. Serão adquiridas 20 milhões de ações em 18 meses
A Minerva Foods (BEEF3) está confiante de que as suas ações estão baratas. Tão confiante que decidiu recomprar 20 milhões de papéis, cerca de 3,6% do total de ações emitidas, pelos próximos 18 meses. O anúncio foi realizado na última segunda-feira (5).
A companhia se baseia em alguns fatores para acreditar nessa subprecificação: os resultados apresentados no segundo trimestre foram considerados substanciais pelo mercado, houve avanço nas vendas de carne durante a pandemia e as exportações estão em alta. Logo, o frigorífico acredita que está preparado para surfar nessa onda.
“Considerando as perspectivas para o setor e, principalmente, para a companhia, acreditamos que a recompra de ações da Minerva Foods é umas das melhoras opções para alocação do nosso caixa”, diz o presidente da companhia, Fernando Queiroz, ao CNN Business (confira a entrevista completa para o Panorama CNN Business no vídeo acima).
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Um fator importante para isso é que o caixa da companhia está equilibrado. A alavancagem da empresa, medida através da dívida líquida dividida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), encerrou o segundo trimestre em 2,6 vezes. Trata-se do menor múltiplo dos últimos 12 anos.
Em 2018, esse cenário era completamente diferente. O índice estava em 5 vezes, considerado muito alto pelo mercado. Como a companhia tinha se endividado em dólar para fazer aquisições, isso impactou diretamente o caixa e a empresa precisou fazer melhorias e ajustes.
Agora, com o dólar próximo de R$ 6 e com uma política de proteção (hedge) adequada, a companhia está conseguindo aproveitar a onda da exportação. No período entre abril e junho, o lucro líquido da companhia chegou a R$ 253,4 milhões, ante um prejuízo de R$ 113,3 milhões registrado no mesmo período do ano anterior.
Essa melhora das perspectivas e também do caixa fez a empresa adiar os planos de abrir capital de sua subsidiária Athena Foods no Chile. A empresa esperava captar algo em torno de R$ 2,5 bilhões para equilibrar as finanças.
Porém, uma nova proposta — mais interessante — chegou à mesa. No mês passado, a Minerva Foods assinou uma carta de intenções para venda de participação da sua subsidiária para uma sociedade de propósito específico (SPAC) listada na bolsa norte-americana Nasdaq.
De acordo com a empresa, a SPAC dará US$ 200 milhões para financiar aquisições, e a Minerva ainda será titular de, aproximadamente, 75% do capital da Athena Foods.
“É algo atrativo e cria valor tanto para a Athena quanto para a Minerva, e a SPAC tem interesse que a companhia seja listada na Nasdaq”, diz Queiroz. Dessa maneira, a listagem da Athena Foods na Nasdaq poderia ajudar a destravar o valor das ações.
De fato, a Minerva ainda não tem os resultados que gostaria na B3 (B3SA3). De janeiro para cá, os papéis da empresa tiveram uma queda de 11,6%. Para comparar com outras concorrentes, a Marfrig (MRFG3) subiu 51,1% no mesmo período. Já a JBS (JBSS3) tem uma queda maior do que a da Minerva, de 19%.
Para convencer os investidores de que incluir a BEEF3 na carteira é um bom negócio, a companhia quer demonstrar previsibilidade. Para isso, pretende distribuir dividendos neste ano, política que foi suspensa em 2017.
“Os recursos que estamos recebendo também serão para termos uma distribuição de dividendos para os acionistas. A empresa também tem que gerar valor para eles”, diz Queiroz.
Expansão e bife tech
A companhia também aposta na expansão. Em agosto, comprou uma fábrica na Colômbia por US$ 14 milhões e, segundo Queiroz, a empresa analisa ativos na Austrália. Já na Argentina, o foco é no crescimento orgânico.
“Estamos em uma constante diversificação geográfica”, diz o executivo.
O dinheiro da SPAC, aliás, vai ser usado nas expansões. Mas não somente para os frigoríficos: a companhia também está de olho em ativos de tecnologia. Afinal, o bife pode ser tech.
Para isso, a Minerva anunciou a criação de uma área de venture capital que busca startups e empresas de tecnologia relacionadas à cadeia produtiva.
“Estamos com um trabalho de inteligência artificial dentro dos processos da empresa para que tenhamos agilidade e gestão de risco”, diz Queiroz. “Pretendemos seguir sempre atualizados do que está acontecendo em nossa cadeia de valor, desde o varejo até aqueles ativos que venham somar conhecimento potenciais para o nosso negócio.”
Segundo o executivo, não foram divulgados nem valor nem o tempo que esse fundo estará de olho em aquisições — mas as oportunidades podem aparecer a qualquer momento.
ESG e Amazônia
A pressão por sustentabilidade atinge em cheio o agronegócio do país. Diversos países passaram a exigir que o Brasil diminua o seu desmatamento e amplie o combate ao aquecimento global.
Na segunda-feira (5), um grupo de 21 empresas da área de supermercados e alimentação do Reino Unido, entre elas Nestlé e McDonald’s, pediu a suspensão da importação de produtos vindos de áreas desmatadas.
Queiroz admite a importância do tema, mas acredita que há desinformação a respeito do tema.
“O grande desafio é a comunicação, mas os ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores, além das empresas, vão suprir essa lacuna de comunicação e evitar que existam barreiras impostas pelos compradores”, diz ele.
A principal delas pode estar a caminho de acontecer: o fim do acordo assinado entre União Europeia e o Mercosul. Países como a França estão impondo freios por causa do desmatamento na região, especialmente no país. Apesar da pressão dos europeus, o executivo afirma que, até agora, nada mudou.
Sobre a Minerva, Queiroz afirma que todos os cuidados estão sendo tomados, como o rastreamento de toda a cadeira de produtores. Ele também se segura no fato do Banco Mundial, através do seu braço de investimentos, a International Finance Corporation (IFC) ter uma fatia da Minerva.
“A Minerva é a única empresa do setor no mundo que tem o IFC como acionista, um processo que começou em 2014 e onde fomos pioneiros com o selo de sustentabilidade”, diz Queiroz.
No ano passado, contudo, autoridades da Organização das Nações Unidas já pediam para o Banco Mundial reconsiderar os investimentos na empresa.
Um fator que está ajudando os frigoríficos brasileiros, incluindo a Minerva, é a guerra comercial entre China e Estados Unidos. Como os americanos são os principais concorrentes dos brasileiros no setor, a demanda por carne da China cresceu por aqui.
Para aproveitar essas oportunidades, Queiroz sabe que a agenda ESG (Ambiental, Social e Governança Corporativa) precisará prevalecer.
“Existe muita informação errada por parte dos europeis e é importante o Brasil mostrar, de maneira pró-ativa, o cuidado com o meio ambiente”, diz ele. Com isso, os seus investidores vão agradecer.
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