Milei teve “bom começo” de governo na Argentina, diz Bank of America
Banco elogiou medidas tomadas pelo presidente do país, entre elas um ajuste fiscal "maior que o esperado"
O recente governo de Javier Milei na Argentina teve um “bom começo” no que diz respeito às questões macroeconômicas. É o que avalia a equipe de estratégia do Bank of America (BofA) em relatório.
No documento assinado por Sebastian Rondeau, o BofA cita como positivas algumas medidas tomadas pelo ultradireitista, entre elas um ajuste fiscal maior do que o esperado pela instituição, forte desvalorização cambial, rápida acumulação de reservas e o recente acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Além disso, a equipe destaca os anúncios “decisivos” para corrigir o déficit fiscal e as contas externas que estabilizaram a situação financeira. Segundo o banco, isso explica uma recuperação dos títulos maior do que esperado inicialmente.
“O governo anunciou uma meta orçamental equilibrada envolvendo um ajuste de 5% do PIB para 2024, sendo 3% do PIB por meio de cortes de despesas e 2% por medidas de receitas. O governo mostra determinação, e nós acreditamos que ao menos 70% dos ajustes podem ser feitos sem o Congresso”, diz o relatório.
No entanto, os especialistas ponderam que o ajuste fiscal no país enfrenta alguns desafios, como o efeito dos cortes nos subsídios à energia.
Além disso, o banco avalia que a recessão possivelmente será maior no primeiro trimestre (atrelada à queda significativa dos indicadores de consumo), o que irá afetar a receita do governo.
Por outro lado, o BofA acredita que o segundo trimestre deve sustentar a arrecadação.
Na projeção do banco, a Argentina deve ter superávit primário de 1% do PIB em 2024. No médio prazo, a equipe avalia que os aumentos de impostos deveriam ser substituídos por maior corte de despesas e aumento do mercado formal.
Além disso, a desvalorização do peso argentino somada à persistência de controles de capital permitiram, segundo a instituição, um grande acúmulo de reservas cambiais (US$ 3 bilhões), com compras de câmbio de US$ 4 bilhões do Banco Central (além do pagamento direto de US$ 1,5 bilhão em títulos).
O banco ainda vê que, com a liberalização gradativa do câmbio, a diferença entre a taxa oficial e a paralela deve cair a 20% após a entrada de recursos da safra. A expectativa é por um superávit em conta corrente de 1% do PIB este ano (de um déficit de 4,4% em 2023).
A equipe liderada por Rondeau avalia que a inflação continua desafiadora, mas com sinais positivos. O índice de preços aumentou 25,5% em relação ao mês passado em dezembro e fechou 2023 com alta de 211% – a maior em mais de três décadas.
“Vemos o salto da inflação, em parte, como uma correção pontual do preço relativo após a desvalorização e desregulamentação. Mas há também um componente persistente de políticas expansionistas anteriores e indexação generalizada. Correções de preços relativos pendentes (por exemplo, na eletricidade, no gás natural, nos combustíveis, nos transportes, na saúde, na educação) pesarão sobre inflação entre janeiro e abril”, disse a instituição.