Mesbla, Mappin, Ultralar: mercado lembra crise de varejistas após caos na Americanas
Embora a situação da Americanas difira das que outras gigantes do setor outrora enfrentaram, foi um lembrete da vulnerabilidade das empresas do ramo
A descoberta de um rombo de R$ 20 bilhões nas contas da Americanas, conforme divulgado em comunicado oficial ao mercado (fato relevante) na última quarta-feira (11), fez o mercado lembrar de outras crises no setor varejista.
Mesbla, Mappin, Ultralar, Arapuã e JumboEletro são algumas das empresas que, nas últimas décadas, viram suas numerosas lojas espalhadas por quase todo o território nacional fecharem.
Embora a situação da Americanas — que provocou um “terremoto” no mercado e baqueou a confiança na governança de varejistas brasileiras — se diferencie das outras que gigantes do setor enfrentaram, foi um lembrete da vulnerabilidade das empresas do ramo.
Relembre alguns dos casos mais emblemáticos:
Mapplin
Inicialmente com a proposta de ser uma loja de artigos e bens de luxo, o Mappin chegou ao país em 1913 e se instalou na rua 15 de Novembro, na Sé, em São Paulo. Logo se tornou um paraíso de compras da elite e a segunda casa de damas da cidade, que lotavam a loja para colocar o papo em dia. O aumento de clientela forçou a empresa a buscar um endereço novo — dessa vez, na Praça do Patriarca –, e, com a chegada da crise de 1929, o Mappin se adaptou à nova realidade econômica do país e adotou um modelo mais acessível a classes menos endinheiradas.
Os anos de prosperidade se estenderam até a década de 1990, quando a maior concorrência dividia o público consumidor e o Mapplin, em uma jogada ambiciosa, mirava a expansão ao comprar lojas de empresas concorrentes. Em 1995, anunciou o prejuízo de mais de R$ 20 milhões, e, no ano seguinte, foi adquirida pelo empresário Ricardo Mansur, também administrador da Mesbla. Os negócios não prosperaram, e a varejista teve sua falência declarada no mesmo ano que a empresa-irmã, em 1999.
Mesbla
Instalada no país em 1912, a Mesbla marcou época para muitos brasileiros durante mais de oito décadas e viveu seu auge durante a década de 1980, quando chegou ao patamar de 180 lojas e mais de 28 mil funcionários em todo território nacional. A marca registrada de “ter de tudo”, porém, enfrentou o baque da concorrência mais setorizada na virada dos anos 1990 e da popularização dos shoppings centers.
Com a hiperinflação dos últimos anos de 1980, a decisão da diretoria em estocar mercadorias em excesso, em temor de um aumento ainda maior nos preços, não previu a chegada do Plano Real, e a abundância de produtos logo se tornou uma dor de cabeça bilionária. Com dívidas de R$ 1 bilhão, a companhia decretou falência em 1999. Vinte e três anos depois, em maio de 2022, a empresa anunciou seu retorno no e-commerce.
Ultralar
Braço varejista da Empresa Brasileira de Gás a Domicílio — que logo viria a se chamar Ultragás –, a Ultralar foi exemplo de uma boa jogada de marketing: associar a venda de botijões de gás de cozinha, então novidade no mercado em meados de 1930, a de fogões. Surgia assim uma das pioneiras do modelo de magazines. Fundada em 1956, a rede cresceu, se diversificou e se tornou tão desenvolta que, entre 1970 e 1973, chegou a abrir capital na Bolsa de Valores. Em 1974, inaugurou um hipermercado, que mais tarde foi comprado pela rede Carrefour.
No começo dos anos 1990, o Grupo Ultra buscou uma reestruturação dos negócios e passou para uma política de desinvestimento do que era considerado “fora do negócio principal” de vendas de botijões. A derrocada da Ultralar começou assim, e, com a concorrência acirrada da década, não encontrou espaço para prosperar. No ano 2000, a varejista decretou falência e a maioria das lojas foi comprada pelo grupo Casas Bahia.
Arapuã
Também vítima da década de 1990, a Arapuã era uma das maiores varejistas do país e chegou a ter 220 lojas em todo território. Fundada em 1957, na cidade de Lins (SP), se especializou na venda de produtos eletroeletrônicos, e, conforme o passar das décadas, viu sua operação crescer e ganhar notoriedade.
A chegada da Crise da Ásia, no final da década de 1990, levou a um aumento na taxa de juros pelo governo brasileiro, o que prejudicou as vendas a prazo e aumentou a inadimplência. O endividamento das lojas Arapuã chegou a R$ 1 bilhão em 2002, o que provocou o fechamento de lojas e demissões em massa. Pediu uma concordata e, com isso, propôs aos credores o pagamento de dívidas em dois anos. Parte deles, porém, não recebeu os valores prometidos e moveu ações na Justiça contra a empresa, que teve sua falência decretada em julho de 2002.
A empresa reverteu a decisão na segunda instância. Em 2009, recorreu a um pedido de recuperação judicial, que foi negado em 2020 pela 4ª turma do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), e teve sua falência novamente decretada.
JumboEletro
Até hoje um dos grandes players do mercado, o Grupo Pão de Açúcar decidiu, em 1976, adquirir a Eletroradiobraz, uma das maiores empresas do varejo na época. Após a aquisição, os supermercados da companhia passaram a ser conhecidos como Pão de Açúcar e os hipermercados, como Jumbo Eletro.
Como parte de uma reestruturação de negócios, o Grupo Pão de Açúcar decidiu desativar as lojas Jumbo, e os hipermercados passaram a se chamar Extra.