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    Dólar encerra novembro com alta de 3,8% a R$ 6; bolsa cai 3,12%

    Divisa chegou a superar R$ 6,10 com ampliação do mau humor dos mercados ao anúncio do governo federal sobre reforma na tabela de tributação

    Da CNN* , São Paulo

    O dólar encerrou esta sexta-feira (29) em alta, após operar com volatilidade no início da tarde, em meio à declarações dos presidentes do Legislativo sobre postergar os debates sobre mudanças no Imposto de Renda para 2025. As questões fiscais fizeram a moeda norte-americana avançar 3,8% no mês de novembro.

    Ao longo do dia, o Ibovespa também inverteu o sinal e passou a operar no campo positivo.

    A divisa fechou a sessão em alta de 0,17%, negociada a R$ 6,0012. Nas máximas do dia, o dólar passou da casa de R$ 6,10, com reação negativa dos mercados ao anúncio do governo em isentar o IR para salários até R$ 5 mil. A semana acumulou uma alta de 3,21%.

    Na véspera, o dólar encerrou a R$ 5,99, o maior valor nominal da história.

    O principal índice do mercado brasileiro, por sua vez, encerrou o pregão com alta de 0,85%, a 125.667,83 pontos. Em novembro, o Ibovespa acumulou um recuo de 3,12%.

    Na avaliação do Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank, a expectativa é que o dólar continue apresentando uma volatilidade elevada até que o governo consiga demonstrar mais clareza em relação à políticas fiscais e econômicas.

    “O mercado deve continuar cauteloso, monitorando as movimentações políticas e fiscais no país, já que a percepção de um desajuste fiscal, que pode gerar novos déficits, impacta diretamente a confiança do investidor no real”, afirmou.

    Analistas também monitoram dados do desemprego no Brasil, que no trimestre encerrado em outubro bateu o menor patamar da história, e falas do futuro presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo.

    Lira e Pacheco

    O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse nesta sexta-feira que projetos sobre a mudanças na tabela do IR só devem ser discutidos no ano que vem. Ele também declarou que a responsabilidade fiscal é “inegociável”.

    “Qualquer outra iniciativa governamental que implique em renúncia de receitas será enfrentada apenas no ano que vem, e após análise cuidadosa e sobretudo realista de suas fontes de financiamento e efetivo impacto nas contas públicas. Uma coisa de cada vez. Responsabilidade fiscal é inegociável”, escreveu Lira na plataforma X.

    Segundo Lira, é preciso discutir “uma coisa de cada vez” e a Câmara dará prioridade para o pacote de medidas de contenção de despesas.

    Na mesma linha, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) afirmou à CNN que a questão da isenção do IR “não é para agora”.

    “Essa questão da isenção do Imposto de Renda é uma outra questão apartada, que não é para agora, e que vai ser projetada com uma discussão futura. E que vai acontecer se, e somente se, nós tivermos condição, em termos fiscais, de poder implementá-la”, disse Pacheco.

    Na quinta-feira (28), o presidente do Senado afirmou que a regulamentação da reforma tributária e as propostas do pacote de cortes de gastos públicos serão as prioridades de votação da Casa até o fim do ano.

    Segundo o senador, as matérias devem ser votadas na Câmara e no Senado antes do recesso parlamentar, que começa em 22 de dezembro.

    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, detalhou nesta quinta-feira (28) as propostas do pacote fiscal e isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil.

    Segundo o ministro, a isenção deve ter impacto fiscal de R$ 35 bilhões – valor abaixo do previsto por analistas do mercado, que previam soma de ao menos R$ 45 bilhões.

    A medida — que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso —, deve entrar em vigor a partir de 1º de janeiro de 2026, pontou Haddad.

    O governo também detalhou sobre o pacote de ajuste fiscal. As propostas anunciadas por Haddad preveem uma economia de R$ 70 bilhões pelos próximos dois anos que, segundo o ministro, “consolidam o compromisso deste governo com a sustentabilidade fiscal do país”.

    Para alguns analistas, o anúncio do projeto de mudança na faixa de isenção de IR levantou dúvidas sobre o compromisso do Executivo com o ajuste das contas, pois mostraria um governo mais preocupado com questões políticas do que econômicas.

    Mas outros apontaram para uma reação exagerada do mercado.

    “O governo precisa demonstrar que seu plano é viável, e por isso devemos esperar um período de volatilidade nos próximos dias e meses. A implementação do esforço fiscal prometido será crucial para consolidar a confiança do mercado”, disse André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.

    “A reação do mercado é compreensível, mas considero-a desproporcional. Ficou claro que a responsabilidade fiscal é uma prioridade”, completou.

    A sessão desta sexta ainda é marcada pela disputa da Ptax de fim de mês. Taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros.

    Desemprego e falas de Galípolo

    A taxa de desocupação no Brasil caiu para 6,2% no terceiro trimestre encerrado em outubro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 6,8 milhões de pessoas desocupadas no país, conforme dados publicados nesta manhã.

    Esta é a menor taxa de desocupação de toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012.

    Segundo o IBGE, a quantidade de pessoas desocupadas no trimestre foi a menor em uma década ou desde o trimestre encerrado em dezembro de 2014.

    Também no cenário doméstico, mercados repercutem falas de Galípolo, que voltou a reforçar a necessidade de juros mais apertados.

    Galípolo enfatizou em evento ontem do Esfera Brasil que a autarquia segue comprometida com a meta de inflação de 3%, mesmo em um cenário de desancoragem das expectativas inflacionárias, que ele classificou como uma preocupação significativa para o BC.

    Com uma economia aquecida, crescimento surpreendente e desemprego baixo, Galípolo reforçou a necessidade de uma política monetária mais restritiva. Ele comparou o papel do BC ao “chato da festa”, que diminui o som quando as coisas parecem estar indo bem.

    “Mas isso acontece para desacelerar e as coisas não saírem do controle”, disse.

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    *Com Reuters e Agência Estado

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