Maurício Pestana: as peculiaridades do ESG à brasileira
Empresas brasileiras passam longe das práticas ESG tradicionais ao não atuar contra desigualdade social e adotar práticas ambientais criticáveis
O ESG se tornou um conceito fundamental para muitas empresas, pois ele consegue trazer um equilíbrio entre interesses financeiros com preocupações mais amplas relacionadas ao meio ambiente, à sociedade e à ética nos negócios.
Para falar de um ESG genuinamente brasileiro é necessário buscar os conceitos enraizados na sigla e tentar transplantá-los para a cultura organizacional brasileira.
Outro ponto a ser ressaltado é que muitos investidores institucionais, fundos de investimento e acionistas estão cada vez mais considerando as métricas ESG ao tomar decisões de investimento. Empresas que adotam práticas sólidas de ESG podem ter acesso a capital mais barato e atrair investidores que buscam alinhar seus portfólios com valores sustentáveis.
Além disso, práticas ESG sólidas podem fortalecer a reputação de uma empresa e garantir que ela mantenha a “licença social para operar”. Isso é importante para manter a confiança do público e evitar controvérsias e boicotes.
Mas como isso se dá no caso brasileiro? O Brasil tem demonstrado, ao longo do tempo, e principalmente neste século 21, práticas completamente avessas a normas de ESG. Fazendo uma análise da sigla, começando pelo ambiental, as práticas ambientais de boa parte das empresas brasileiras ou que operam em nosso solo, estão longe de ser as mais recomendadas do mundo.
Indo direto para governança, os recentes episódios envolvendo empresas em nosso país, sobretudo, no período em que muitas foram investigadas, na operação Lava Jato, mostraram horrores em termos de governança em nossas companhias. No social, nosso país está ranqueado como dos países mais desiguais do mundo.
Em um terreno tão arenoso, contraditório e escasso de qualquer iniciativa que vise compreender a árdua tarefa de implementar a cultura ESG neste cenário tão adverso, muitas vezes, a liderança empresarial se pergunta por onde começar. O ambiental é urgente, pois o aquecimento global está aí batendo às nossas portas, o social é urgente, afinal, a pobreza e a miséria servem de combustível para alimentar as desigualdades, tornando o convívio social insuportável para o planeta.
A governança é essencial, pois, sem a mesma, não há ambiental, nem social e muito menos empresa que sobreviva neste cenário dos dias atuais. Então se faz necessário e urgente o combate em todas as frentes.
Quando se fala em ataque, deve se observar o campo de batalha dessas frentes, por exemplo: falar em sustentabilidade em um país como o Brasil, com um olhar de fora para dentro, é pensar não só na proteção do bioma amazônico, mas em toda matriz energética de sustentabilidade. Pensar governança, além das práticas anticorrupção, é também pensar em uma nova cultura inclusiva, diversa e harmoniosa, ou seja, uma governança muito voltada ao ESG.
Agora, pensar no S de Social em um país como o Brasil, onde as injustiças e desigualdades sociais têm origem e cor, é pensar essencialmente no combate ao racismo, é ser uma empresa antirracista e este elo entre o ESG e a inclusão racial passa necessariamente pela governança e pela diversidade, como propõe o Fórum Brasil Diverso 2023, o qual presido há oito anos e que terá este conceito como norteador das discussões. Ainda volto a este tema que, mais que urgente, é essencial para nossa sobrevivência e existência humana.