Manutenção dos juros é “pressão negativa” para atividade econômica, diz especialista
Banco Central decidiu, pela sétima vez seguida, nesta quarta-feira (21) manter a taxa Selic em 13,75% ao ano
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira (21) sua decisão pela manutenção da taxa básica de juros em 13,75% ao ano. A decisão já era prevista pelo mercado e por integrantes da equipe econômica do governo.
Para Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, a principal consequência da manutenção da Selic está no aperto das condições monetárias e de crédito.
“Nós estamos falando de um juro real que deve estar beirando os 7% ou 8%, ou seja, um juro real super restritivo. Isso continua servindo como uma pressão negativa para a atividade econômica”, afirma.
Por outro lado, Caruso destaca que a manutenção dos juros pode ser vista como um sinal positivo de que o BC esteja trabalhando para um ambiente inflacionário mais saudável.
“É um morde e assopra: ainda que você esteja ‘mordendo’ pelo lado do aperto monetário, você ‘assopra’ por estar desenhando um ambiente de desinflação que pode perdurar por mais tempo. Essa é a grande batalha do Banco Central”, acrescenta. “Toda desinflação não é indolor, mas ela é necessária para manter um ambiente saudável de preços”, diz.
Fábio Tadeu Araújo, economista e sócio-proprietário da Brain Inteligência Estratégica, explica que o impacto da taxa de juros na economia dependerá muito mais dos sinais emitidos na ata do encontro, que será divulgada na próxima terça-feira (27).
“Caso a sinalização seja de um afrouxamento a partir de agosto e, em especial, se já iniciando com 0,5 ponto percentual, as expectativas dos mercados devem se ajustar para um aumento das possibilidades de crescimento do PIB para este ano, bem como de melhores resultados na bolsa de valores”, analisa.
Para Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, o comunicado deixou claro que o BC não irá mexer nos juros pelo menos até setembro e mostrou preocupações de um bom retorno da inflação.
“Isso também deve mexer um pouco com a bolsa de valores, principalmente com as ações de varejistas, que esperavam um viés mais otimista referente à redução da taxa de juros”, avalia.
Em relatório, Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, destaca esperar que a evolução do cenário até agosto permita a mudança de rumo na política monetária e o início dos cortes na Selic já na próxima reunião.
“Apesar do comunicado não deixar claro a indicação de redução na taxa de juros na reunião em agosto, a evolução dos dados até lá deve permitir o início do afrouxamento monetário, que também deve ser mais conservador, com corte inicial de 0,25 ponto percentual. Entre os fatores condicionantes, o principal deles é a expectativa de inflação mais longa que, apesar da recente melhora permanece desancorada. A queda esperada para a inflação em junho e julho, principalmente incluindo a inflação de serviços e núcleos, também deve contribuir para a melhora no cenário”, diz análise.
André Meirelles, diretor da InvestSmart, destaca a questão da pressão inflacionária na decisão. “Em suma, o BC manteve o tom técnico, mostrou que houve uma melhora na inflação, mas ainda mostra que o futuro da política monetária dependerá dos dados de inflação”, diz.
Alessandro Correa, sócio e head de Agro da Vectis Gestão, acredita que o BC deva iniciar um longo ciclo de redução da Selic e destaca que “a curva de juros aponta para uma taxa em torno de 12% no fim do ano”.
A decisão do Copom descrita no comunicado foi vista com um tom mais “duro” pelos especialistas e, ao contrário do que se esperava, não foram dados os sinais de que pode haver corte nos juros na próxima reunião, marcada para o mês de agosto.